A minha falta de compaixão pelos outros deve ser do excesso de chá preto que ando a beber. O Entrudo é um tempo onde nos transfiguramos de outra coisa. As suas máscaras servem para esconder o nosso Eu interior, ou por outro lado, para mostrar um tipo de Eu que está escondido do resto da sociedade, por ser tão bestial e horrendo, que poderia causar repulsa nas mentes mais civilizadas, chocadas com esse tipo de cadência primária e visceral.
A serpente sou eu, e não sou ao mesmo tempo, se é que me faço entender. A palavra "máscara" provavelmente deriva do latim mascus ("fantasma"), embora até a sua verdadeira etimologia seja uma incógnita. O seu uso ritual serve para expressar um determinado poder, como o de um avatāra das trevas e do caos. A palavra latina "persona" designa um tipo de máscara, que ressoava ("per sonare") com a voz do actor que a usava. Neste caso, um uivo.
Tudo isto para explicar que me sinto farto. Nem sequer vou perder tempo a pessoalizar ou apontar minudências, pois toda a podridão que nos rodeia está bem à vista de quem a quiser ver. Tudo o que me apetece é disparar o meu vazio interior, a minha energia negativa, na direcção de quem os provoca.
Concretizando. Está no tempo e na altura de fazer cair tudo pela base. De derrubar as hierarquias que se desresponsabilizam dos crimes que elas próprias cometem. De sagrar as elites que dominam em todos os quadrantes da sociedade. De alvejar os criminosos acima da lei, neste auto-intitulado estado de direito. De fazer tábua rasa. De incinerar todos os que nos imbecilizam e corrompem no fogo da nossa própria raiva. De fazer valer o sentimento de justiça. Mesmo que fiquemos sozinhos. A solução é simples e simplista: eles não se conseguem desviar das balas - É só puxar atrás e recarregar. "Deus criou os homens, Samuel Colt tornou-os iguais". Porque nós somos mais e eles sabem disso. Só precisamos de ignorar o medo e encontrar a motivação para lutar. Onde quer que ela esteja.
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