sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Canícula

Cavaco já sabia que o segundo resgate vinha aí. Pelo menos desde o momento em que fez aquelas declarações de que deveríamos ter uma troika sem o FMI, aproveitando a informação a que teve acesso para fazer boa figura. Ventríloquo de Ferreira Leite, a tal da suspensão da democracia, já veio dizer que a situação está pior do que toda a gente pensa, numa tentativa mesquinha e demagógica de apelar ao medo. Depois foi só fazer algo diferente daquilo de que se estava à espera, que era a posse imediata deste governo, numa metáfora bonita de lavar as mãos, como fazem aqueles que fogem das suas responsabilidades. A vergonha da instituição que representa.

Cavaco não tem ideologia. Só quem lidera é que precisa de acreditar em alguma coisa. Os empregados e funcionários burocráticos não precisam. Cavaco aprendeu no Estado Novo que a melhor acção é o unanimismo e não fazer ondas. Sendo este o espelho do pensamento da maioria dos portugueses, daí o seu sucesso e longevidade política.
Para existir uma negociação, mesmo com divergências profundas, é necessário que haja poder. As "negociações" de Seguro são um teatro para entreter o pagode. Se querem mostrar as verdadeiras negociações em que Portugal está envolvido, mostrem as reuniões entre a Goldman Sachs e o BCE.

Imagem: Cão Azul

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Portas abertas

Isto é como ir ao teatro, só que é com a vida dos portugueses. A corrente legislatura é composta por pessoas peritas em tudo o que seja sacudir a água do capote, espetar facas nas costas uns dos outros, dissimular, ludibriar, enganar e manipular. Um jovial bando de embusteiros presididos por aquele-a-quem-não-se-pode-insultar. Tal como um ninho de ratos ao qual é difícil fazer com que morram, por mais veneno que se lhes deite, estes espertos são hábeis em roer a corda e abandonar o navio, pensando só na sua sobrevivência pessoal. A Mãe Natureza tem sempre razão.
Paulo Portas is too sexy for his sentido de Estado. A sua característica mais mortífera é o seu timing e a imprevisibilidade deste, que advém do fascínio que tinha pelo jogo político quando ainda falava com o sotaque de Cascais e o jornal O Independente fazia a vida negra a Cavaco algures nos anos noventa. O cinismo de Portas foi sendo sempre menosprezado enquanto Relvas fez parte do governo e o biberão de ser ministro dos "negócios" estrangeiros contentava Portas nas negociatas com os chineses e os latino-americanos. Relvas saiu há menos de três meses. Desde então a ira da populaça virou-se para o ministro Vítor Gaspar, tendo o demagogo-mor afinado ligeiramente a sua estratégia com o desfecho que hoje se conhece.

Por altura da última campanha eleitoral, corria o rumor entre os militantes do PSD que Paulo Portas e Passos Coelho já tinham tudo acertado para formarem governo, e que só não se tinham apresentado juntos a eleições para não alienarem parte do eleitorado. Especialmente os idiotas úteis cujo voto pendula entre o PS e o PSD conforme a propaganda das televisões. Possivelmente, Portas estará já a pensar num acordo semelhante com Seguro, uma vez que esta união já foi abençoada por Balsemão na reunião do Bild. Seguro, tal como Passos, faz aquilo que lhe mandam e Portas estará lá apenas para assegurar que o artificialismo da vontade popular agrade aos mercados financeiros. Isto se não pensar em nada melhor entretanto.
O jogo de Portas de passar entre os intervalos da chuva e a pantomina de estar na oposição e no governo ao mesmo tempo podem, por exemplo, ter incomodado Vítor Gaspar; tendo este frisado o "enorme" no aumento dos impostos, ou Passos, ao referir-se a ele como o número três do governo. Mas estas rabecadas apenas fizeram Portas sorrir. Não havia disciplina ou imposição de respeito nas palavras ou acções de Passos Coelho, até porque a hipocrisia deste era bem visivel no seu sorriso amarelo, e Portas conhece esses sinais como ninguém.

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terça-feira, 2 de julho de 2013

A permuta

O swap é um derivado financeiro (derivatives em inglês). Os derivados financeiros foram os responsáveis pela crise económica mundial e pela falência da Lehman Brothers, o que despoletou a crise das dívidas soberanas. O tipo de gente que fez estes contratos especulativos conhece bem os vários esquemas fraudulentos que estes permitem e só os fez porque, caso algo corresse mal, seriam cobertos com o dinheiro dos cidadãos, degradando o seu modo de vida. Como aliás está a acontecer.
Os swaps são contratos de permuta (ainda hoje não se percebe porque é que os jornalistas não usam este termo e preferem o inglês) entre duas empresas, em que uma delas tem um empréstimo a uma taxa fixa e outra a uma taxa variável (que pode depender da variação de preço de um bem, como o preço do barril de crude) e utilizam uma instituição financeira (pode ser um banco) para trocarem os contratos, ficando uma com o contrato da outra.

Imaginemos o seguinte cenário: Uma hipotética senhora dona Maria, gestora de uma empresa pública de transportes, troca o seu contrato de empréstimo fixo por outro com uma empresa americana que tem um contrato de empréstimo dependente da subida ou descida do valor do crude. Essa empresa americana já pagou luvas à senhora dona Maria para ela aceitar a troca de contrato, que ela pode justificar pelo facto do crude estar em baixa e ser vantajoso para o Estado a permuta. Após a troca, o preço do crude sobe e upa upa, eis que o banco começa a reclamar da empresa pública da senhora dona Maria o valor inerente ao preço do barril de crude. Como se trata de uma empresa pública, o contribuinte é obrigado a meter lá do seu próprio dinheiro, e o governo que gere o dinheiro do contribuinte só tem de dizer que a empresa é deficitária e não dá lucro. Este esquema fraudulento dá dinheiro a todos, menos ao contribuinte, que é o que tem de financiar o esquema.

Primeiro tenta-se sacar esse dinheiro ao contribuinte através da subida de impostos, conhecido como método gasparino. No entanto, para atingir o valor necessário deve-se "cortar na despesa do Estado", um eufemismo para despedir funcionários.
Ninguém explica o que vem aí, apesar de toda a gente já saber que é o despedimento de centenas de funcionários públicos, porque nada foi anunciado. Se o governo fosse composto por pessoas corajosas, em vez dos facínoras cobardes que são, já tinha anunciado que vai despedir essas pessoas e assumia na integra essa decisão. Mas como é um governo de manipuladores e embusteiros, ficou à espera da última hora para fazer o anúncio. Esta táctica levou a que o psicopata responsável pela gestão primária se tenha retirado de cena, não sem antes ter permitido um trade volume suficiente a instituições financeiras americanas e europeias para que estas retirassem os seus dividendos com a desgraça dos portugueses.