terça-feira, 29 de junho de 2010

Os cornos de Cronos

Os Titãs eram os doze filhos de Gaia (a Terra) e Urano (o Céu) equitativamente divididos em seis princípios masculinos e seis femininos, que equilibravam simetricamente a unidade do Universo.
Segundo a tradição grega, que posteriormente fundou a identidade cultural do mundo ocidental, eles eram Oceano (Ὠκεανός) que era o mar que circundava a Terra, Hiperião (Ὑπερίων) o altíssimo, o senhor da luz e da visão, Céos (Κοῖος) era o titã que representava o eixo celestial e a inteligência, Cronos (Krónos) representava o tempo cronológico e as sementeiras, Crio (Κριός) era o senhor do abismo, e por fim, Japeto ( Ἰαπετός) o perfurador, aquele que determinava a mortalidade dos seres humanos.
Cada princípio masculino tinha um contraponto feminino.
Mnemósine (Mνημοσύνη) era a personificação da memória, Tétis (Τηθύς) representava as águas primordiais, Teia (Θεία) era a senhora da luz e mãe dos corpos siderais, Febe (Φοίβη) a radiante, representava a pureza dos raios siderais, Reia (Ῥέα) cujo nome significa fluxo, representava a fertilidade feminina, na forma de menstruação e do parto, e Témis (Θέμις) era a representação da ordem divina e da justiça da natureza.

O tempo cronológico sempre foi algo que fascinou o ser humano e que o levou a tentar compreender o comportamento do Universo. Este processo físico parece afectar a matéria em todas as escalas de percepção, e a sua continuidade tridimensional, em que este se desloca do passado para o futuro, através do presente, advém do facto da consciência em estado de vigília do ser humano ter evoluído por forma a percepcionar assim a realidade.
Cronos é um titã que se relaciona com todas as angústias humanas, desde a altura em que aplacou o ódio do seu pai pela sua progenitura, castrando Urano com a foice que foi dada pela mãe Gaia.
O seu princípio planetário é Saturno, que tem um período orbital de cerca de 29 anos. Representando a influência de um ciclo na vida dos indivíduos, em que se sente mais directamente a consciência sobre o tempo.

Após ter destituído Urano (o Céu) do governo do Universo, Cronos (o Tempo) passou a ser o senhor, numa altura em que o Universo estava ainda condicionado aos caprichos da natureza. Com a posterior progenitura de Cronos e Reia, o Universo iria deixar de ser governado apenas por leis físicas, evoluindo naturalmente, o que ameaçaria a soberania de Cronos.
Para se manter no poder, Cronos devora todos os seus filhos, tal como o tempo destrói tudo à sua passagem. Deméter (Δημήτηρ) que era a deusa da natureza domesticada, Hera (Ήρα) a deusa das mulheres prontas para casar, Hades (Άδης) o senhor do submundo, que era invisível para os humanos, Héstia (Ἑστία) deusa do fogo do lar e do princípio da família, e Poseidon (Ποσειδῶν) a representação dos desejos profundos, como o mar, do ser humano.
Todos eles são devorados pelo tempo. O único que consegue escapar, e posteriormente desafiar e destronar Cronos, é o último filho de Reia a surgir na consciência universal, Zeus (Ζεύς) que representa o espírito, e que se torna o progenitor de uma nova linhagem de deuses.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Trombas murchas

Para um campeonato realizado em África, a primeira consideração que aqui escrevo é sobre o facto de quase nenhuma das equipas africanas em prova, ter sequer passado da fase de grupos. Honra que foi salva pelo Gana, que mesmo sem o Essien, conseguiu demonstrar um bom futebol.
As equipas deste continente sempre foram um chamariz dos Campeonatos do Mundo, apesar do seu futebol pouco evoluído nunca ter permitido que fossem mais além. De qualquer modo, sempre existiu desde 1986 um representante africano a passar a fase de grupos.
Em 1986, foi Marrocos, que estava no então grupo de Portugal (que ficou em último lugar desse grupo) e que foi eliminado nos oitavos pela Alemanha.
Em 1990, os Camarões, do então quase quarentão Roger Milla. Após terem despachado a Argentina de Maradona e a Roménia de Hagi na fase de grupos, ainda eliminaram a Colômbia de Higuita e Valderama nos oitavos, tornando-se assim, a primeira equipa africana a chegar aos quartos-de-final da prova. Sendo eliminados nos quartos, contra as minhas expectativas, pela Inglaterra, após prolongamento. Apesar de tudo, foram provavelmente a equipa mais entusiasmante e original desse mundial.
Após este mundial, o ganês Nil Lamptey, na altura com dezassete anos, era considerada a maior esperança do futebol. A quem era augurado, à época, um futuro maior do que o do Pelé, o que a sua posterior carreira errática não veio a confirmar.

Em 1994, a Nigéria, que iria ser a vencedora dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e que apresentava a sua geração de ouro. Apesar de praticar um futebol demolidor, foi eliminada nos oitavos, por uma Itália calculista, que entendia perfeitamente o conceito, algo estranho para os nigerianos, de disciplina.
Em 1998, novamente a Nigéria. Desta vez cilindrada, novamente nos oitavos, desta vez por quatro bolas a uma, por uma Dinamarca bastante pragmática, que ensinou aos nigerianos o valor do descanso antes das partidas (não se pode dizer que tivessem aprendido grande coisa desde o mundial anterior).
Em 2002, o Senegal, que depois de ter mandado o colonizador francês e equipa detentora do título, para casa, na fase de grupos, ainda eliminou a Suécia, para então cair aos pés de uma surpreendente Turquia nos quartos.
Em 2006, o Gana, que apesar de possuir jogadores que corriam desalmadamente durante os jogos da fase de grupos, foi eliminado pelo Brasil, com uma simplicidade atroz, nos oitavos, por três bolas a zero. Encarnando assim o velho postulado futebolístico de Cruyff, segundo o qual, o futebol é um jogo de ocupação de espaços e não uma prova de atletismo.

Actualmente o Gana continua a representar o futebol africano e já entrou na história do futebol e dos campeonatos. O futebol das equipas africanas, apesar de se encontrar mais evoluído, pelo menos tacticamente, ainda é vítima daquilo a que vulgarmente se designa por hubris, que basicamente consiste em alguém que tem a tromba maior do que os próprios calções.

Imagem sacada daqui

terça-feira, 22 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Em memória do Saramago, que deixou de estar!

José Saramago (1922 - 2010)

Sempre vi José Saramago como o puro e interventivo "homem político" aristotélico. Apesar das circunstanciais brisas políticas não o terem favorecido e da unanimidade, muitas vezes contrariada, de alguns sectores da sociedade ao seu génio literário. Gostaria antes de mais, de dar relevo à sua enternecedora luta pelos Direitos do Homem, cuja declaração praticamente ninguém conhece.
Revelava uma pessoa profunda e genuinamente preocupada com o destino e evolução da humanidade e com os sentimentos mais nobres entre as pessoas, que são, muitas vezes, atropelados pela mesquinhez, torpeza, vilanagem e outro tipo de sentimentos desumanos.
A questão em torno do seu amor pátrio é absurda. O elemento mais básico da definição de um povo ou de uma tribo, mais do que a sua genética, cultura ou religião é a sua língua.
Neste aspecto, José Saramago sempre se revelou, mais do que um português, um apaixonado pela cultura e literatura portuguesa, ao qual juntou nesse amor, uma componente ibérica, e por fim, uma dimensão internacional. Equiparando o seu trabalho ao de outros romancistas actuais de renome, como Paul Auster ou Kenzaburō Ōe. Fazendo dele um digno e verdadeiro representante de Portugal.

Merecido esse destaque entre os autores contemporâneos, tal como se poderia destacar o visceral Lobo Antunes, ou o maldito e malogrado Luiz Pacheco. Este último incompatibilizado com Saramago, por uma questão de feitios, embora reconhecendo, que com o Memorial do Convento (1982) Saramago teria atingido uma fasquia que seria difícil ao próprio superar. Fasquia essa, superada na opinião de alguns com o Ensaio sobre a Cegueira (1995).
Apesar de admirar todos estes autores, tenho uma certa simpatia pela escrita torrencial de Saramago, tal como o uso alegórico (e não parabólico, como se diz) de temas, à primeira vista tão obviamente próximos da reflexão, e por último, da sua capacidade de agitar as águas, muitas vezes pantanosas e lamacentas, da consciência nacional.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A pronúncia mais fofa

Sofia Hilário, bastante alentejana e bastante fofa

Talvez seja pelo arrastamento das palavras, pelas sibilantes ou mesmo pelo facto de se abalar quando se vai embora. Existe algo de intrinsecamente suave na forma como o português se pronuncia nas planícies do sul do país, no falar alentejano.
O paragoge, ou a ênfase vocal no final dos infinitivos verbais, é determinante neste falar, como por exemplo em seri ou fazeri. A ausência do ditongo ei (celero, galinhero) e a aplicação do vocal oi em vez de ou (oiro) são outras das marcas características.
Actualmente é considerado um falar em risco de desaparecer, uma vez que o despovoamento da região que lhe deu origem fez com que o número de falantes tenha diminuído substancialmente ao longo de anos. Acresce a isto, o facto de ser uma das regiões mais desequilibradas em termos demográficos. Com uma população, em geral, bastante envelhecida, o que imposibilita a transmissão de certos aspectos culturais para as gerações seguintes.

Se nada for feito para inverter essa situação, o falar alentejano corre o risco de se extinguir dentro de alguns anos, altura em que perderá todos os seus falantes nativos. A estimativa de Krauss aponta para um cenário, em que, dentro de cem anos, as crianças já não o irão aprender a falar. Embora estimativas mais pessimistas apontem para um horizonte temporal situado nos próximos dez ou vinte anos.
Existem alguns processos para estabilizar e salvar este falar, que passam pela documentação e revitalização do mesmo. A documentação passa pela recolha e registo do falar em termos do seu léxico, gramática e tradição oral, como as canções e histórias populares.
O processo de revitalização do falar envolve meios educacionais, com empenho político e das comunidades locais na tentativa de aumentarem o número de falantes.

O problema principal do alentejano, e por extensão, da riqueza da matriz cultural portuguesa, deve-se ao facto da variante lisboeta do português meridional ser considerado o padrão linguístico. O que faz com que as elites culturais portuguesas, concentradas em Lisboa, optem por considerar o alentejano como algo estranho e rústico.
Em última análise, este falar deveria ser, em primeiro lugar, defendido pelos próprios alentejanos.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dar cavaco a mais

Após as várias interrogações e comentários acerca do discurso presidencial deste 10 de Junho (de 1580) o dia em que se comemora o desaparecimento de Portugal, decidi escrever o que penso sobre a forma como o Presidente da República se referiu à situação do país, qualificando-a de "insustentável", bem como sobre o comportamento de tal figura nos últimos tempos.
Por momentos, pensei que tal contexto se referia novamente ao exemplo da tal "moeda má", adaptado ao empobrecimento da classe política portuguesa. Teoria explicada mais a fundo aqui.
Claro que, na altura em que este dissertou sobre a metáfora monetarista, o referido senhor poder-se-ia ter incluído a ele próprio no rol, embora a sua traição às suas próprias convicções não fosse na altura muito evidente. Tal só se veio a revelar recentemente, na ausência do seu veto à proposta de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Embora esta proposta fosse uma arma de arremesso governamental para desgastar a imagem do Presidente, esta deveria ter merecido mais do que uma simples avaliação estratégica de derrota e consequente evasão por parte deste.

Apesar de ser consensual que a bravata não faz parte da personalidade deste Presidente, toda a sua argumentação cai por terra, quando se pensa que, no fundo, este quer o mínimo incómodo na sua imagem nos próximos meses, quando já todos se esquecerem do caso das escutas de Belém.
Sem perder tempo a referir o óbvio da realidade portuguesa estar afundada no nepotismo, compadrio e do sucesso individual depender da capacidade de financiamento de cada um. Factores que assassinam o mérito, a força de vontade e a alegria dos restantes portugueses. O mais alto magistrado da Nação deveria ter a atitude assertiva de chamar os cidadãos à realidade do seu país e contribuir para dar uma machadada no sistema corporativo. Mas ele próprio faz parte do sistema, por isso as palavras que profere, "leva-as o vento".

Imagem do Funil

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A fealdade de certa comédia

De todos os géneros cinematográficos, aquele que me causa mais asco é a comédia romântica. Talvez seja por tratar os seus espectadores como pessoas idiotas, ao lhes dar um tipo de produto que provoca uma gratificação vulgar.
Outro motivo é que os actores de referência - aqueles nomes grandes a quem era geralmente reconhecida qualidade - se terem afastado do género. Do mesmo modo, os estadistas do antigamente, foram sendo substituídos por actores progressivamente medíocres.
Desta forma, a decadência da nossa comédia romântica progride. O xarope açucarado continua a embriagar os portugueses, embora as sacudidelas da realidade e os seus miasmas venenosos já comecem a desmamar alguns.

Ao estabelecer o paralelo com o facto da nossa sociedade ter perdido uma década inteira numa comédia amantizada com o crédito fácil que lhe hipotecou o futuro, até compreendo as comédias de fraca qualidade, pois são mais atractivas e compensadoras financeiramente. Tal como a comédia que engana os portugueses na distribuição do orçamento pelas corporações que dominam o país.
Só tenho pena da hipoteca que, fatalmente, as gerações futuras irão ter de pagar, ao verem o tempo que foi desperdiçado com essas comédias, agora finitas.
Talvez nessa altura, já poucos tenham vontade de rir.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entre a idiossincrasia do malapropismo e a sintaxe da paranomásia

Dito de outra forma: O dilema entre a característica peculiar da substituição de palavras homófonas devido ao resultado sem nexo servir para atingir um efeito cómico e os princípios e regras que norteiam a construção frásica no emprego de palavras com sonoridade semelhante.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A nave tesuda

Lexa Doing, como Andromeda Ascendant

Tipo: Cruzador
Classe: Glorious Heritage
Registo: Shining Path to Truth and Knowledge AI modelo GRA 112, número de série XMC-10-284

Armamento:
Canhão de Anti-Protões
PDL (Point Defense Lasers)
Misseis inteligentes
Enxames de projecteis inteligentes (smart bullets)
Ponto de singularidade
Bombas Nova
Slip fighters
Combat drones

Defesa:
Armadura de alta tensão, ablativa e reactiva
Lâminas de combate

Propulsão:
Slipstream

sexta-feira, 4 de junho de 2010

"Tu gostas é disto!" *

Angelina Jolie Voight

*comentário da dakova, após eu ter insinuado que a Angelina Jolie poderia não ser assim tão boa (actriz).

terça-feira, 1 de junho de 2010

Luta como um miúdo!


Hoje comemora-se o Dia da(s) Criança(s), aqueles seres que supostamente vão herdar a miséria de mundo que lhes deixarmos, com o nosso hedonismo, egoísmo, sobre-exploração e dívidas financeiras. Se considerarmos que o pior sentimento humano que se pode sentir é a pena. Então, eu consigo de facto senti-la. Pois tenho pena do futuro da humanidade, das gerações vindouras que serão chamadas à sua quota de responsabilidade, pois os país delas já cá não se encontrarão para que estas lhes apontem o dedo.
Existem muitos a roubar o oxigénio aos vivos, pois no fundo da sua alma, já estão mortos. Certos comportamentos asseguram que alguns destes indivíduos já não são humanos, porque o ser humano não tem o tipo de atitudes e comportamentos destes, como matar friamente e sem o mínimo de paixão ou compaixão. Claro que existem humanos que se comportam assim, mas esses são escravos comandados por máquinas, uma vez que a ambição maior de qualquer povo é ser livre, como os povos livres autóctones antes da chegada de um rolo compressor civilizacional.

Mas as crianças quando nascem, são logo marcadas com um selo. Um selo que indica a autoridade do Estado. A noção de Liberdade já estava escrita em cuneiforme, na Suméria, desde o início da Civilização. Altura em que o homem necessitou de definir esse conceito, até então inexistente.
No local onde a cidade de Roma se iria erguer, habitava uma ninfa chamada Carna. O deus Jano, que presidia às passagens, aos começos e aos fins, apaixonou-se por ela. Devido a isso, deu-lhe o poder sobre as dobradiças (cardo em latim) e as maçanetas das portas, transformando-a em Cardea, a deusa protectora das casas.
Com este novo avatar divino, Cardea era adorada durante este mês de Junho (dedicado a Juno, deusa da maternidade) uma vez que este era considerado a "dobradiça do ano".
A sua função principal dentro do lar, era proteger as crianças contra vampiros e bruxas.

O dia como o conhecemos hoje foi institucionalizado em 1925, na Conferência Mundial para o Bem-Estar da Criança, embora em certos países como a Turquia, que reclamam a autoria da deste dia (Çocuk Bayramı) seja comemorado a 23 de Abril, enfatizando a ideia que as crianças são o futuro da Nação, confiando-lhes a sua independência e soberania.
No Paraguai, o Dia da Criança é comemorado a 16 de Agosto, dia da batalha de Campo Grande (Acosta Ñu) em 1869.
Na guerra territorial entre o Paraguai e a aliança entre o Brasil, Argentina e Uruguai, a maioria da população adulta masculina do Paraguai já tinha sido morta. Recusando a derrota, o governo do Paraguai começou então a utilizar crianças no exército, sendo que, os cerca de seis mil soldados do exército paraguaio que combateram na batalha do Campo Grande, eram na sua maioria crianças.
Cerca de um terço (mais de dois milhares) delas foram mortas pelos soldados inimigos durante a batalha, naquela que deverá ser uma das maiores infâmias da história humana.
Apesar de tudo, hoje em dia, ainda milhares de crianças são vítimas de lavagem cerebral e usadas por governos e várias facções como força militar.