Sofia Hilário, bastante alentejana e bastante fofa
Talvez seja pelo arrastamento das palavras, pelas sibilantes ou mesmo pelo facto de se abalar quando se vai embora. Existe algo de intrinsecamente suave na forma como o português se pronuncia nas planícies do sul do país, no falar alentejano.
O paragoge, ou a ênfase vocal no final dos infinitivos verbais, é determinante neste falar, como por exemplo em seri ou fazeri. A ausência do ditongo ei (celero, galinhero) e a aplicação do vocal oi em vez de ou (oiro) são outras das marcas características.
Actualmente é considerado um falar em risco de desaparecer, uma vez que o despovoamento da região que lhe deu origem fez com que o número de falantes tenha diminuído substancialmente ao longo de anos. Acresce a isto, o facto de ser uma das regiões mais desequilibradas em termos demográficos. Com uma população, em geral, bastante envelhecida, o que imposibilita a transmissão de certos aspectos culturais para as gerações seguintes.
Se nada for feito para inverter essa situação, o falar alentejano corre o risco de se extinguir dentro de alguns anos, altura em que perderá todos os seus falantes nativos. A estimativa de Krauss aponta para um cenário, em que, dentro de cem anos, as crianças já não o irão aprender a falar. Embora estimativas mais pessimistas apontem para um horizonte temporal situado nos próximos dez ou vinte anos.
Existem alguns processos para estabilizar e salvar este falar, que passam pela documentação e revitalização do mesmo. A documentação passa pela recolha e registo do falar em termos do seu léxico, gramática e tradição oral, como as canções e histórias populares.
O processo de revitalização do falar envolve meios educacionais, com empenho político e das comunidades locais na tentativa de aumentarem o número de falantes.
O problema principal do alentejano, e por extensão, da riqueza da matriz cultural portuguesa, deve-se ao facto da variante lisboeta do português meridional ser considerado o padrão linguístico. O que faz com que as elites culturais portuguesas, concentradas em Lisboa, optem por considerar o alentejano como algo estranho e rústico.
Em última análise, este falar deveria ser, em primeiro lugar, defendido pelos próprios alentejanos.
O que não deixa de ser curioso quando o português falado em Lisboa, apesar de ser considerado o padrão, não demonstrar ser o mais correcto (de acordo com a matriz da língua portuguesa), enquanto pseudo - antropóloga, considero a língua de um povo como algo permeável e passível de mudança (às vezes até mesmo de extinção), mas entristece-me ver toda a gente a falar à Lisboa uma vez que por cá fala-se muito mal. O português mais correcto, tanto em termos das regras linguísticas como até mesmo da forma como se pronunciam as palavras, é o português falado em Coimbra.
ResponderEliminar