José Saramago (1922 - 2010)
Sempre vi José Saramago como o puro e interventivo "homem político" aristotélico. Apesar das circunstanciais brisas políticas não o terem favorecido e da unanimidade, muitas vezes contrariada, de alguns sectores da sociedade ao seu génio literário. Gostaria antes de mais, de dar relevo à sua enternecedora luta pelos Direitos do Homem, cuja declaração praticamente ninguém conhece.
Revelava uma pessoa profunda e genuinamente preocupada com o destino e evolução da humanidade e com os sentimentos mais nobres entre as pessoas, que são, muitas vezes, atropelados pela mesquinhez, torpeza, vilanagem e outro tipo de sentimentos desumanos.
A questão em torno do seu amor pátrio é absurda. O elemento mais básico da definição de um povo ou de uma tribo, mais do que a sua genética, cultura ou religião é a sua língua.
Neste aspecto, José Saramago sempre se revelou, mais do que um português, um apaixonado pela cultura e literatura portuguesa, ao qual juntou nesse amor, uma componente ibérica, e por fim, uma dimensão internacional. Equiparando o seu trabalho ao de outros romancistas actuais de renome, como Paul Auster ou Kenzaburō Ōe. Fazendo dele um digno e verdadeiro representante de Portugal.
Merecido esse destaque entre os autores contemporâneos, tal como se poderia destacar o visceral Lobo Antunes, ou o maldito e malogrado Luiz Pacheco. Este último incompatibilizado com Saramago, por uma questão de feitios, embora reconhecendo, que com o Memorial do Convento (1982) Saramago teria atingido uma fasquia que seria difícil ao próprio superar. Fasquia essa, superada na opinião de alguns com o Ensaio sobre a Cegueira (1995).
Apesar de admirar todos estes autores, tenho uma certa simpatia pela escrita torrencial de Saramago, tal como o uso alegórico (e não parabólico, como se diz) de temas, à primeira vista tão obviamente próximos da reflexão, e por último, da sua capacidade de agitar as águas, muitas vezes pantanosas e lamacentas, da consciência nacional.
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