terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A música de Cavaco

Cavaco Silva é um intriguista. Para além de ser, talvez por isso mesmo, o político mais medíocre de Portugal. No caso das escutas a Belém, a gravidade da denúncia levou o seu assessor Fernando Lima a dar a cara, enquanto que na actual divergência de opinião com o governo, consequente crítica à política de finanças, e tentativa de se colocar ao lado do povo, já não foi preciso que nenhum chefe de gabinete o fizesse. Os supostos estados de alma do presidente, que esses "cavaquistas" transmitiram aos jornalistas, não necessitam de mais do que isso.
Fernando Lima ficou muito exposto na manobra anterior, e neste caso foi possível fazer a intriga mediática sem desgastar a imagem dos respectivos spinners, que se mantiveram anónimos, dando a respectiva folga para que a versão oficial da presidência fizesse o seu papel.
O contra-ataque governamental foi igualmente assertivo e rasteiro, por intermédio do seu feudo de blogues e do Correio da Manhã, pasquim oficial da direita populista que se senta no governo, o que revela que a informação não domesticada é uma ameaça, como defende a doutrina de Fernando Lima. Embora qualquer comentador imparcial facilmente admita que o Expresso e o Público são pesos bem mais pesados na comunicação política do que o pasquim já referido.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alma de Meretriz, Corpo Feliz

Daisy Lowe

Para os antigos egípcios, a alma era composta por cinco partes principais: o ib (coração), o sheut (sombra), o ren (nome), o ba (persona) e o ka (essência vital). Havia ainda o ha (corpo) embora este servisse apenas para as várias essências da alma funcionarem neste mundo. Para se conseguir manifestar, este conjunto habita um corpo, não sendo o corpo que adquire uma alma, como acreditava a posterior tradição ocidental. De tal forma era isto verdadeiro, que quando os cristãos começaram a espalhar a sua doutrina no Egipto, o conceito de alma como um ser imaterial seria explicado pela palavra grega psyché, e não por ba, que no fundo é apenas um dos modos pelo qual uma pessoa pode existir. Uma vez que o corpo, esse, já se encontra modelado por aquilo que o ba define que ele seja.

2012. O ano do fim do calendário Maia, o ano do reemergir da Atlântida, de um novo ciclo na história da humanidade, o ano da invasão alienígena nos céus de Londres durante os Jogos Olímpicos, do colapso do euro, do estabelecimento da ditadura, do governo mundial, do fim da tirania eneamilenar do vil metal, da tomada de consciência universal, da passagem para a quarta dimensão, do aparecimento do Nibiru, da... esqueci-me de mais alguma coisa?
Tudo pode ser definido num momento, num ano, num mês, numa semana, num dia, numa hora, num minuto, num segundo. Para mim foi aquele momento em que um rabo se empinou numas calças de ganga azuis. O momento em que uma alma de rapariga movimentou um corpo que a tudo obriga.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Vítor, acabei de dizer aos portugueses que os sacrifícios têm de ser para todos!"

Esta imagem de Leonardo Negrão, da discussão do Orçamento de Estado para 2012, é excelente para não ser adaptada e difundida pela blogosfera e redes sociais como uma crítica ao governo ou um gozo de retaliação pelo modo como os portugueses são gozados todos os dias pela classe política, Presidente da República incluído.
Acho plausível que a população esteja farta de ouvir falar de política e de políticos, e que tenha a reacção natural, por uma questão de manter a sanidade, de se afastar o mais possível de uma classe nefasta que ocupa a totalidade da emissão televisiva não ficcionada (vamos assumir que a farsa do jogo político, e a sua dicotomia partidária e ideológica não se trata de ficção).
Alienar o povo da sua classe política tem sido a manobra favorita da oligarquia, para recusar a cidadania a esse mesmo povo, e existe a tendência, algo ingénua na minha opinião, de quem critica a acção governativa, de julgar Passos Coelho incompetente, ou então um louco com o delírio pelo abismo (metáfora recorrente para criticar o Primeiro-ministro de Portugal) quando Passos Coelho, como mero empregado da alta finança, faz aquilo que lhe mandam fazer, não sendo por isso nem um lunático nem propriamente mentiroso. Se bem que, no conceito de mentiroso, não estou a incluir as mentiras que ele diz aos portugueses, que a esses ele não presta contas nenhumas.

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sábado, 21 de janeiro de 2012

O público-alvo do discurso miserabilista

Nas declarações de Cavaco Silva deve primeiro perceber-se para quem é que este está a falar. Cavaco dirige-se ao velhotes da Beira Alta, ao cavaquistão, ao tipo de gente miserável de corpo e alma e miserabilista por natureza que o elegeu. Pessoas cuja ganância por tostões é suficiente para causar desavenças entre irmãos. Pessoas que levam o conceito de avareza até limites nunca imaginados pela sociedade mediática e informatizada do litoral. Pessoas que não têm facebook, e que se estão a cagar para o que os "jovens" lá escrevem. Pessoas que não sabem ler nem escrever. Pessoas que vão à missa e que são endoutrinadas pelos párocos, mas que optam por ignorar que a avareza é um pecado. Pessoas que odeiam essa corja que são os políticos. Pessoas para quem Cavaco diz sub-repticiamente que não é um político, que é um deles. Que conta os tostões. Manobra que usa frequentemente, porque conhece este povo.

Cavaco não goza, Cavaco manipula. Os portugueses é que se sentem gozados pela manipulação básica. Cavaco alardeia o facto de não receber vencimento enquanto presidente, mas omite que foi uma opção própria para receber uma reforma que é superior ao vencimento. Omite que recebe duas reformas. Omite que o total das reformas é superior a dez mil euros por mês. Mas nada disto interessa à gente humilde e salazarenta, cuja política é o trabalho, para quem ser-se pobre é ser-se honrado.
A imagem de Cavaco Silva evoluiu nos anos noventa, com uma televisão estatal que lhe fazia a vontade, onde este tipo de discurso resultava. Hoje, tal como ontem, a "informação não domesticada" é algo que preocupa Fernando Lima, o seu consultor político e obreiro da intriga no caso das escutas. Os "jornalistas" já transmitiram as palavras do senhor Presidente. Agora calem-se!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os habilidosos

O acordo de concertação social serviu para o governo poder implementar a sua agenda dogmática, sem a necessidade de extirpar o socialismo da constituição, e conseguindo fazer da precariedade a base do sistema laboral português. Podem argumentar que esta ainda não representa a maioria do trabalho em Portugal, mas estas coisas demoram tempo. O que faz uma certa impressão é o tom de regozijo com que responsáveis governamentais e comentadores a soldo do governo defendem o acordo.
Com o novo documento que gere as relações laborais, os trabalhadores a recibos verdes passam a dispor do direito a subsídio de desemprego. Trata-se do assumir da precariedade como um estado inevitável. Os trabalhadores a recibos verdes eram vistos como uma maioria de profissionais liberais no país das maravilhas do poder político. Como agora o poder político não pode mais ignorar a realidade de que os trabalhadores a recibos verdes são escravos por contra de outrem, que só beneficiam os custos de mão-de-obra das empresas que os contratam, disponibilizou-se essa medida de elementar justiça. Deste modo, um trabalhador a recibos verdes não irá descartar uma oferta de escravidão, uma vez que este até terá direito a subsídio para caso e quando... quando ficar desempregado.

Claro que o acordo é vergonhoso para os sindicatos, e numa tentativa de sacudir a pressão do capote, João Proença da UGT acusou alguns altos dirigentes da CGTP, que já tinham abandonado as negociações, de o terem aconselhado a assinar o acordo com os restantes parceiros. Mesmo que tal fosse verdade, só o facto de estar a revelar conversas privadas mostra bem a falta de decoro e de educação de João Proença. Em seguida, faz uma referência vaga aos dirigentes que ele acusa de terem tido esse comportamento, sem os nomear. Algo que, no caso, seria de elementar bom senso, caso ele quisesse esclarecer o assunto trazido à baila por ele próprio. Não o fazendo, percebe-se obviamente que existe manipulação e argumentação falaciosa, mesmo que essas conversas até tenham existido. Ninguém pode provar o contrário.
Por último, as declarações não fazem nenhum sentido. A CGTP não costuma assinar nenhum acordo de concertação social, e obviamente que nunca iria assinar o acordo mais nefasto de sempre para a mão-de-obra e o factor trabalho, enquanto que a UGT foi criada propositadamente para assinar este tipo de acordos, ainda para mais, conhecendo-se a posição de subserviência de A. Jota Seguro em relação ao governo, sendo por isso fácil de perceber a atitude de João Proença.

Com a desculpa da troika, o governo martelou a meia-hora diária adicional, dando até o exemplo em conselhos de ministros, que duravam mais meia-hora do que o necessário, para que a demagogia populista ficasse mais vincada na opinião pública. As críticas à meia-hora resumiam-se a um embaratecimento do trabalho, que se traduziria em cortes de salários, uma vez que o trabalhador iria ser obrigado a trabalhar mais pelo mesmo salário. Como os membros do governo e patronato não são principiantes em matéria económica, estes sabiam muito bem que o aumento de meia-hora no horário de trabalho não iria aumentar a produtividade, quanto muito iria aumentar a produção, e mesmo isso era discutível. A produtividade só aumentaria se a produção horária ou por unidade de trabalho aumentasse. Muitos portugueses nem sequer sabem a definição de produtividade, por isso a manipulação mediática pode ser implementada sem receio. O feudo do poder em relação a quem pudesse desmontar e explicar a mentira fez o resto.
Ao fim de alguns meses de manipulação mediática, percebeu-se que a proposta da meia-hora servia para estipular o acordo, dando à UGT algo com que pudesse brandir na cara da opinião pública como se fosse uma conquista negocial.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Rádiotelevisão de Angola


O ministro Relvas com ar de frete, à procura de um comprador para a sua retrete.
O graúdo capataz que de tudo é capaz, na degola mercantil em Angola e no Brasil.
A Fátima Campos Ferreira, enrolada à maneira na vestimenta tradicional. A prostituta quadrilheira do nosso audiovisual. Propaganda mal feita. Propaganda banal. Rui Veloso e Paulo Flores, ao vivo e a cores. Nem muito popularucho, nem muito elitista, que a propaganda é um estucho para tapar a tua vista. Um cambão bastante quente no coração de toda a gente.

As prostitutas vendem-se sem vergonha, porque a pobreza de espírito não se coaduna com a sofisticação. Portugal é um país de massa bruta, porque o povo português é um povo sem educação. Um povo de filhos da mãe e de filhos da puta. Um povo que já desistiu de ir à luta.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Os donos de Portugal

dono |ô|
s. m.
1. Pessoa a quem pertence alguma coisa; senhorio.
Plural: donos |ô|.
in Priberam


Os políticos só servem os seus donos. Apesar de se ter imposto anteriormente uma referência a Eduardo Catroga, uma vez que a fronha do senhor foi das mais vistas durante a semana nos media televisivos, resolvi dedicar um texto em exclusivo à idiossincrasia dessa espécie particular de imago, cuja larva é mais conhecida por "ministro cavaquista das finanças" e cujo estilo de vida parasítico causa o declínio desta árvore onde todos vivemos, conhecida como Portugal.
Para além destas tiradas metafóricas, devo referir que nem todos têm a vantagem de ser defendidos publicamente pelo Primeiro-ministro, como aconteceu com Catroga. Um puto qualquer que tenha partido acidentalmente um vaso não tem à sua disposição o Primeiro-ministro a vir em seu socorro com gráficos, uma vez que já ninguém acredita naquilo que os políticos dizem, para explicar que nada tem que ver com as nomeações e respectivas compensações de que os conselheiros da EDP vão usufruir.
O que faz até algum sentido. Afinal, Passos Coelho é somente um empregado que faz aquilo que os grupos económicos lhe dizem para fazer, que faz aquilo que os banqueiros e a alta finança lhe dizem para fazer, e que faz aquilo que outros líderes europeus, que por sua vez são empregados dos grupos económicos dos seus respectivos países, lhe dizem para fazer.

Isto tem de ser visto de forma pragmática. Os chineses da China Three Gorges Corporation apenas quiseram alguém que tivesse a necessária influência sobre o governo e o Primeiro-ministro em particular, para a sua subsidiária. A pergunta feita por eles foi acerca de quem seriam as pessoas indicadas, às quais bastaria uma palavra para que Passos Coelho obedientemente se sentasse, rolasse, desse a patinha e se fingisse de morto. A primeira que vem à memória é Ângelo Correia. Mas na falta dele, Eduardo Catroga serve perfeitamente, tendo a vantagem de conhecer a empresa. A palavra-chave aqui é "obediência" e sem dúvida que Passos Coelho ouvirá atentamente Catroga, como pessoa atinada que é. Tal como obedecerá a Ilídio Pinho, o seu antigo patrão (uma vez patrão, patrão para sempre) e como obedecerá a Paulo Teixeira Pinto, que lhe escreveu a proposta de revisão constitucional, que não foi avante porque estava a causar estragos eleitorais. No caso do partido parceiro de coligação, Celeste Cardona lá estará, para falar maternalmente a Paulo Portas.
Quanto à forma folclórica como Eduardo Catroga se comparou aos jogadores da bola, ao falar do seu valor de mercado para justificar o vencimento que irá receber, isso só revela o mindset e a arrogância de quem sabe que está acima dos portugueses, e se permite a ter este tipo de gozo com o próximo.

Continuando na temática dos donos de Portugal, também Braga de Macedo foi nomeado para o Conselho Geral de Supervisão da EDP. Mas o seu estatuto como um dos donos do país tornou-se mais evidente no nepotismo descarado com que patrocina a carreira da filha no meio das artes plásticas.
O facto de existir informação abundante que prova o favorecimento advém do facto de Braga de Macedo já não ser ministro e, consequentemente, não se preocupar com a imagem que projecta na comunicação social. A vergonha é um atributo dos pobres, pois implica que estes estejam mentalizados a aceitar um tipo de censura social. No caso de Braga de Macedo, tal como acontece com Catroga, o facto de pertencerem a uma elite torna-os imunes a qualquer tipo de crítica. O fisiologismo e o nepotismo são formas de corrupção, mas o facto de serem políticos corruptos não os afecta.
Se alguma vez a comunicação social domesticada que temos se lembrar de inquirir da falta de ética de ambos, estes poderão simplesmente ignora-la, ou convida-la para tomar um chá. Todos aceitamos que isto se passe desta forma porque esta é a sociedade que nós criámos. Os portugueses deixaram que estas pessoas se tornassem donas do país, porque não sabem ser cidadãos, ou então não querem.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sete fronhas e um lençol

Os três corpetes representam, obviamente, a troika. No final dos anos setenta e princípio dos anos oitenta, ainda o PREC estava fresco, a metáfora utilizada para sufocar os portugueses era o "apertar do cinto". O cinto servia para tudo. Para bater nos mais indisciplinados e para apertar a fome.
Na crise pós-2008, o cinto já não chega, uma vez que os hipermercados estão a abarrotar e pede-se ao povo que consuma. A peça mais indicada para apertar o povo é o corpete, porque a troika e o governo querem espremer o tórax das pessoas, até que estas deixem de conseguir respirar.
O avental é obviamente Jorge Silva Carvalho. Embora também pudesse ser o deputado Luís Montenegro, que fala em inglês na Assembleia da República para dar um ar refinado. Silva Carvalho até poderia ser "investigado" por uma comissão parlamentar dominada por Montenegro, caso estivéssemos no país da inocência.
Silva Carvalho não fala, Silva Carvalho facebuca. Dislates que as televisões alegremente publicitam, juntamente com os vídeos do Pinheiro de Azevedo, uma vez que a obediência passa por dar o devido destaque à propaganda de Silva Carvalho.

As sete fronhas são hediondas. Monstros cuja face provoca o vómito e o asco. Para além das fronhas de Silva Carvalho e Luís Montenegro, temos direito à fronha asquerosa de Manuela Ferreira Leite, a defender que os doentes com mais de setenta anos só tenham direito à hemodiálise se a pagarem.
O pagamento das horas extraordinárias dos médicos vai sendo reduzido, para que estes achem o Serviço Nacional de Saúde pouco apelativo. Aos poucos vão fugindo para o privado. Para quê ter médicos competentes num serviço estatal, quando podem estar a enriquecer a administração de uma clínica privada?
Esta é a filosofia escrita na fronha de Paulo Macedo, ministro da Médis, gestor fiscal e director-geral dos impostos quando Ferreira Leite era ministra das Finanças. O lucro é mais importante do que a vida humana e quem faz hemodiálise é porque lhe apetece.
Não é como nos Estados Unidos, onde se alguém responde que é pobre lhe dizem que não tem direito a nada. Por cá, recomendam-lhe que vá ao Serviço Nacional de Saúde, e se você argumentar que o Serviço é miserável, vão-lhe responder que também você o é. O lucro é mais importante do que a vida humana.

A quinta fronha (poderia ser a quinta coluna) é a de Francisco Pinto Balsemão, cujas cirurgias plásticas não conseguem esconder a degradação da dita. Mas pior do que a degradação da fronha é a degradação da ética e dos princípios. Os jornais televisivos deram zero destaque à polémica criada pelas declarações de Ferreira Leite, o que revela que Balsemão tem de facto poderes. Pior do que o apagão analógico é o apagão da informação televisiva, e o condicionamento para que não se fale do assunto sem ser em blogues e redes sociais, que só são escrutinadas se forem o facebook do Silva Carvalho. Quanto ao resto, temos aquela gente que deita sempre água na fervura, para dizer que aquilo que a fronha de Ferreira Leite disse não era afinal bem aquilo que essa fronha queria dizer. Eis o lençol português, tapando e escondendo a porcaria e podridão das figuras públicas, ao mesmo tempo que embala os portugueses no seu sono, para que estes sejam roubados mais facilmente.
Por fim, aparecem as fronhas sorridentes de Miguel Relvas e Zeinal Bava, no momento simbólico do desligar do sinal de televisão analógico. Já a pensarem nos milhões que vão entrar com o negócio do espectro de frequências, que era de todos nós.

O lucro é mais importante do que a vida humana.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fazer sangue

O problema aqui com o Soares dos Santos é devido às lições de moral que a referida pessoa andou a pregar em programas como o Negócios da Semana ou o Plano Inclinado, em que fazia o apelo à emoção de forma demagógica, de que nunca iria abandonar o país dele porque tinha nascido cá, e o pai e o avô também, enquanto estendia uma passadeira para que Passos Coelho se tornasse Primeiro-ministro.
Obviamente que não critica Passos Coelho, porque este arranjou-lhe uma alínea no Orçamento de Estado, em conluio com a bancada PS, que lhe permitiu meter as mais valias na Holanda, sendo desta forma que o grupo financeiro ganha dinheiro, e não com os lucros da sua actividade em Portugal. Para especuladores financeiros que, repito, dão um ar de moralistas e são no fundo uns rematados hipócritas, essas são as migalhas que estão dispostos a oferecer ao Estado português.
Já aqui escrevi acerca de hipócritas, aquando do fenómeno da ave de arribação Fernando Nobre. A única diferença entre o hipócrita Soares dos Santos e o hipócrita Fernando Nobre é que o primeiro fez um favor aos políticos do PSD, e o segundo queria que os políticos do PSD lhe fizessem um favor.

Claro que a Caixa Geral de Depósitos fugir para as Ilhas Caimão é mais grave. Mas com um conselho de administração controlado por tubarões da alta finança como Nogueira de Leite (PSD), Agostinho de Matos (colega do ministro das finanças), Nuno Fernandes Thomaz (CDS, banca de investimento), Pedro Rebelo de Sousa (irmão do Marcelo) e Rui Machete (envolvido no escândalo BPN até ao pescoço), não se pode pedir que a Caixa tenha o interesse nacional em conta, quando essas pessoas foram lá postas com o objectivo contrário. Não é ético, mas é da sua natureza.
Quem estuda economia sabe que o Estado dispõe de três mecanismos políticos que são fundamentais para gerir as finanças e influenciar e dinamizar o crescimento económico: a política monetária, a orçamental e a fiscal. Ora, a política monetária em Portugal não existe porque o nosso dinheiro é imprimido em Frankfurt e as taxas de juro são fixadas pelo BCE. A política orçamental é ditada pela troika, e a política fiscal, devido à alínea anteriormente referida no orçamento da troika, permitiu que os grandes grupos empresariais que mandam no governo pudessem encontrar ambientes mais paradisíacos, mesmo que sejam na Holanda.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O mandil de Carolina

Carolina Torres

Em vez das histrionices e macacadas num programa decadente, poderia estar a cantar e a bailar. Tem técnica e vocação suficientes para tal, e embora já tenha aprendido alguma coisa do que deve ser a comunicação e o ritmo de um programa televisivo, torna-se bastante notório que não nasceu para isso.

"El mandil de Carolina
Tiene un yagartu pintado
Cuando Carolina baila
El yagartu mueve el rabu
"

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dois Mil e Doze

O primeiro texto do ano deveria ser uma mensagem de incentivo. Um poema. Qualquer coisa que me acordasse da hibernação onde o meu cérebro se enroscou, num mar de pedras. Nas paredes de rocha do buraco mais profundo, congelado pela dormência da sua própria auto-comiseração. Sem nada que lhe faça ferver o sangue do corpo. Tronco mecânico. Dedos digitantes atachados a braços basculantes. Todavia, tudo se passa sem que me estique o semblante. A expressão facial de quando abro as mandíbulas para atacar a presa, que no fundo é somente o meu semelhante.