dono |ô|
s. m.
1. Pessoa a quem pertence alguma coisa; senhorio.
Plural: donos |ô|.
in Priberam
Os políticos só servem os seus donos. Apesar de se ter imposto anteriormente uma referência a Eduardo Catroga, uma vez que a fronha do senhor foi das mais vistas durante a semana nos media televisivos, resolvi dedicar um texto em exclusivo à idiossincrasia dessa espécie particular de imago, cuja larva é mais conhecida por "ministro cavaquista das finanças" e cujo estilo de vida parasítico causa o declínio desta árvore onde todos vivemos, conhecida como Portugal.
Para além destas tiradas metafóricas, devo referir que nem todos têm a vantagem de ser defendidos publicamente pelo Primeiro-ministro, como aconteceu com Catroga. Um puto qualquer que tenha partido acidentalmente um vaso não tem à sua disposição o Primeiro-ministro a vir em seu socorro com gráficos, uma vez que já ninguém acredita naquilo que os políticos dizem, para explicar que nada tem que ver com as nomeações e respectivas compensações de que os conselheiros da EDP vão usufruir.
O que faz até algum sentido. Afinal, Passos Coelho é somente um empregado que faz aquilo que os grupos económicos lhe dizem para fazer, que faz aquilo que os banqueiros e a alta finança lhe dizem para fazer, e que faz aquilo que outros líderes europeus, que por sua vez são empregados dos grupos económicos dos seus respectivos países, lhe dizem para fazer.
Isto tem de ser visto de forma pragmática. Os chineses da China Three Gorges Corporation apenas quiseram alguém que tivesse a necessária influência sobre o governo e o Primeiro-ministro em particular, para a sua subsidiária. A pergunta feita por eles foi acerca de quem seriam as pessoas indicadas, às quais bastaria uma palavra para que Passos Coelho obedientemente se sentasse, rolasse, desse a patinha e se fingisse de morto. A primeira que vem à memória é Ângelo Correia. Mas na falta dele, Eduardo Catroga serve perfeitamente, tendo a vantagem de conhecer a empresa. A palavra-chave aqui é "obediência" e sem dúvida que Passos Coelho ouvirá atentamente Catroga, como pessoa atinada que é. Tal como obedecerá a Ilídio Pinho, o seu antigo patrão (uma vez patrão, patrão para sempre) e como obedecerá a Paulo Teixeira Pinto, que lhe escreveu a proposta de revisão constitucional, que não foi avante porque estava a causar estragos eleitorais. No caso do partido parceiro de coligação, Celeste Cardona lá estará, para falar maternalmente a Paulo Portas.
Quanto à forma folclórica como Eduardo Catroga se comparou aos jogadores da bola, ao falar do seu valor de mercado para justificar o vencimento que irá receber, isso só revela o mindset e a arrogância de quem sabe que está acima dos portugueses, e se permite a ter este tipo de gozo com o próximo.
Continuando na temática dos donos de Portugal, também Braga de Macedo foi nomeado para o Conselho Geral de Supervisão da EDP. Mas o seu estatuto como um dos donos do país tornou-se mais evidente no nepotismo descarado com que patrocina a carreira da filha no meio das artes plásticas.
O facto de existir informação abundante que prova o favorecimento advém do facto de Braga de Macedo já não ser ministro e, consequentemente, não se preocupar com a imagem que projecta na comunicação social. A vergonha é um atributo dos pobres, pois implica que estes estejam mentalizados a aceitar um tipo de censura social. No caso de Braga de Macedo, tal como acontece com Catroga, o facto de pertencerem a uma elite torna-os imunes a qualquer tipo de crítica. O fisiologismo e o nepotismo são formas de corrupção, mas o facto de serem políticos corruptos não os afecta.
Se alguma vez a comunicação social domesticada que temos se lembrar de inquirir da falta de ética de ambos, estes poderão simplesmente ignora-la, ou convida-la para tomar um chá. Todos aceitamos que isto se passe desta forma porque esta é a sociedade que nós criámos. Os portugueses deixaram que estas pessoas se tornassem donas do país, porque não sabem ser cidadãos, ou então não querem.
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