sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sete fronhas e um lençol

Os três corpetes representam, obviamente, a troika. No final dos anos setenta e princípio dos anos oitenta, ainda o PREC estava fresco, a metáfora utilizada para sufocar os portugueses era o "apertar do cinto". O cinto servia para tudo. Para bater nos mais indisciplinados e para apertar a fome.
Na crise pós-2008, o cinto já não chega, uma vez que os hipermercados estão a abarrotar e pede-se ao povo que consuma. A peça mais indicada para apertar o povo é o corpete, porque a troika e o governo querem espremer o tórax das pessoas, até que estas deixem de conseguir respirar.
O avental é obviamente Jorge Silva Carvalho. Embora também pudesse ser o deputado Luís Montenegro, que fala em inglês na Assembleia da República para dar um ar refinado. Silva Carvalho até poderia ser "investigado" por uma comissão parlamentar dominada por Montenegro, caso estivéssemos no país da inocência.
Silva Carvalho não fala, Silva Carvalho facebuca. Dislates que as televisões alegremente publicitam, juntamente com os vídeos do Pinheiro de Azevedo, uma vez que a obediência passa por dar o devido destaque à propaganda de Silva Carvalho.

As sete fronhas são hediondas. Monstros cuja face provoca o vómito e o asco. Para além das fronhas de Silva Carvalho e Luís Montenegro, temos direito à fronha asquerosa de Manuela Ferreira Leite, a defender que os doentes com mais de setenta anos só tenham direito à hemodiálise se a pagarem.
O pagamento das horas extraordinárias dos médicos vai sendo reduzido, para que estes achem o Serviço Nacional de Saúde pouco apelativo. Aos poucos vão fugindo para o privado. Para quê ter médicos competentes num serviço estatal, quando podem estar a enriquecer a administração de uma clínica privada?
Esta é a filosofia escrita na fronha de Paulo Macedo, ministro da Médis, gestor fiscal e director-geral dos impostos quando Ferreira Leite era ministra das Finanças. O lucro é mais importante do que a vida humana e quem faz hemodiálise é porque lhe apetece.
Não é como nos Estados Unidos, onde se alguém responde que é pobre lhe dizem que não tem direito a nada. Por cá, recomendam-lhe que vá ao Serviço Nacional de Saúde, e se você argumentar que o Serviço é miserável, vão-lhe responder que também você o é. O lucro é mais importante do que a vida humana.

A quinta fronha (poderia ser a quinta coluna) é a de Francisco Pinto Balsemão, cujas cirurgias plásticas não conseguem esconder a degradação da dita. Mas pior do que a degradação da fronha é a degradação da ética e dos princípios. Os jornais televisivos deram zero destaque à polémica criada pelas declarações de Ferreira Leite, o que revela que Balsemão tem de facto poderes. Pior do que o apagão analógico é o apagão da informação televisiva, e o condicionamento para que não se fale do assunto sem ser em blogues e redes sociais, que só são escrutinadas se forem o facebook do Silva Carvalho. Quanto ao resto, temos aquela gente que deita sempre água na fervura, para dizer que aquilo que a fronha de Ferreira Leite disse não era afinal bem aquilo que essa fronha queria dizer. Eis o lençol português, tapando e escondendo a porcaria e podridão das figuras públicas, ao mesmo tempo que embala os portugueses no seu sono, para que estes sejam roubados mais facilmente.
Por fim, aparecem as fronhas sorridentes de Miguel Relvas e Zeinal Bava, no momento simbólico do desligar do sinal de televisão analógico. Já a pensarem nos milhões que vão entrar com o negócio do espectro de frequências, que era de todos nós.

O lucro é mais importante do que a vida humana.

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