domingo, 2 de dezembro de 2012

Resurrección: Ultima Etapa

As almas ocas e sem coração
vagueiam num deserto ermo e árido
em direcção ao palácio das noites
sob uma lua crescente, solitária,
de um céu negro e sem esperança.

Aos poucos, redefinindo o meu ser.
Sem medo, desânimo ou apatia.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A Última República

Da esquerda para a direita:
Pedro Santana Lopes, João Mota Amaral, Manuel Dias Loureiro,
Miguel Relvas, José Luís Arnaut e José Matos Correia

A República é uma forma de governo em que o país é considerado "coisa pública" e não o negócio privado ou propriedade dos governantes. Ninguém está acima da Lei e os cargos do Estado não são distribuídos devido a relações de poder familiar ou corporativo.
Durante a cerimónia oficial do 5 de Outubro, uma mulher interrompe o discurso de Cavaco, e se uma mulher aos gritos causa tanta comoção, então um tiro ou uma detonação causariam o pânico. Digo eu, que gosto de pensar em termos estratégicos.

"...de acordo com os códigos militares, a bandeira ao contrário significa que o local está tomado pelo inimigo."

Imagem: Daniel Rocha

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Delicatessen


Delicatessen é uma comédia negra francesa dos anos noventa acerca de um talhante que atrai pessoas para a sua loja através de ofertas de trabalho, para então aí as matar e vender a carne aos seus clientes. Vem isto a propósito da mediatização de Adriana Xavier, a rapariga que abraçou um polícia durante a manifestação de 15 de Setembro e que teve esse momento fotografado, publicado, partilhado e comentado até à exaustão, tornando-se o ícone desse dia.
Com a voragem a que os media nos habituaram, Adriana apareceu em televisões e jornais, culminando a sua ascensão mediática, por enquanto, nas fotos de glamour que tirou para a revista VIP, ou como dizia um amigo meu: "ela manifestou-se e conseguiu uma oportunidade de trabalho" naquilo que era um dos objectivos iniciais do protesto, para lá das reivindicações justas de querer lixar a Troika e do regresso das vidas aos seus legítimos proprietários.
Isto não é uma sociedade. Isto é o consumo de corpos de uma forma dir-se-ia quase vampiresca. Quem pensou que isto era um texto sobre política deve-se ter enganado, uma vez que de facto isto é um texto sobre culinária.

A Direita dos blogues viu no gesto da rapariga uma premeditação oportunista, uma vez que estão habituados à agiotagem dos mercados de capitais e aos esquemas de pirâmide, onde cada um tenta intrujar o próximo e o trust negocial e as "acções" desinteressadas simplesmente não existem. A Direita que defende a barricada da situação, por razões mesquinhas que não interessa estar aqui a elaborar, tem todo o interesse em amesquinhar este fenómeno mediático.
A Esquerda por seu lado, comoveu-se com a beleza do gesto, como prova inequívoca da esperança que nunca perdeu na humanidade, de como a oposição pode ser feita com elegância e de como a revolução pode ser feita com flores, um fetiche que nunca a abandonou e que se encontra fortemente inspirado no imaginário das manifestações anti-Vietname dos anos sessenta.
No meio disto tudo está Adriana, a mulher, a desempregada. A realidade nem sempre soa tão tão bem como nós gostaríamos, mesmo que seja tão bonita como o coração humano. Aliás, para um talhante, um coração é algo que está somente à distância de um cutelo.

Imagem: José Manuel Ribeiro/REUTERS

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O memorando é um "programa"


Ao contrário da propaganda nazi ou soviética, a propaganda do mundo ocidental é feita de forma mais esotérica, com várias programações, para que o programado não perceba que está a ser manipulado e para lhe dar a ilusão de liberdade.
Para fazer isso é necessário que o programado sinta que tem algum peso na sociedade e de artistas que o distraiam, como as vedetas televisivas de entretenimento. Nunca deve faltar financiamento para a propaganda.
Você até pode pensar que é imune à manipulação que a televisão lhe tenta fazer, mas não é. Por muita convicção que você tenha em determinado assunto, os manipuladores sabem que os clicks que lhe devem fazer no cérebro, para que você se oriente de uma determinada maneira, são os mesmos que para qualquer outra pessoa. O ser humano é baseado em emoções e essas são facilmente controladas pelos manipuladores, de forma mais básica ou mais ou menos sofisticada.

A ilusão do hipnotismo dos media baseia-se no facto do indivíduo se encontrar alheio à sua própria manipulação, e mesmo que tenha consciência dela, nada poder fazer para a evitar. Aqui não vale a pena pensar que existe um botão de desligar, por exemplo a televisão, porque a manipulação está por todo o lado e essa ilusão do controlo através do botão faz parte da manipulação em primeiro lugar.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O canudo do Relvas visto lá de fora


Os amigos angolanos e brasileiros de Miguel Relvas acharam estranho que um tipo assim tão esperto ainda não tivesse comprado um canudo. O querer ser interpelado por "doutor" não é bem uma questão de provincianismo, mas mais uma questão de se sentir integrado com o resto do gang. Não quer isto dizer que Miguel Relvas seja assim por influência estrangeira. Relvas é um cretino por natureza, um bandido por formação e um pulha por filosofia. O facto de tal personagem ter amigos angolanos e brasileiros, foi devido ao próprio se ter procurado associar a essas pessoas no seu caminho de trafulhice, em países onde o saque fosse porventura mais fácil e sem estar aqui a fazer um concurso sobre o país onde existem mais corruptos. Para isso, ia ao índice da Transparência Internacional, onde Angola aparece no 168º lugar, o Brasil em 73º e Portugal em 32º atrás do Botsuana.

O moralismo da Direita na meça de contas à Universidade e ao Estado português no Caso Relvas só é comparável à falsa ignorância da mesma sobre quem realmente domina o Estado. Nós vivemos numa oligarquia, não vivemos numa democracia, logo não existe algo como uma accountability por parte dos cidadãos. As entidades reguladoras são uma anedota, que servem para lançar poeira na opinião pública, e a autoridade, que é o poder investido pelo Estado, só existe para criar iniquidade social.
A Direita fica indignada quando se sabe que, tal como os seus amigos angolanos e brasileiros, também Miguel Relvas corrompe, paga luvas e troca favores e influências. Isto é factual e eles nem sequer se dão ao trabalho de o esconder, porque, lá está, fazem todos parte da mesma oligarquia. Não estando com isto a querer desculpar os pulhas portugueses que não sejam tão famosos como Miguel Relvas.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Destino das Espécies


Ele poderia escrever sobre a vida no governo, sobre o lobby do sector livreiro, sobre as trocas de favores, ou até mesmo sobre o verdadeiro grau de eficácia da propaganda que foi fazendo no seu próprio blogue na tarefa de eleger o governo ao qual pertence.
Poderia escrever ainda sobre a sensação de se mascarar de independente no meio de um bando de apparatchiks fortemente partidários. Seriam tudo leituras que a malta seguiria com interesse.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Trinta e oito


Trinta e oito é um paralelo da latitude terrestre que serve como fronteira entre as duas Coreias, o número de slots da roleta americana (0, 00 e do 1 ao 36) e um tipo de calibre (.38) de armas de fogo (o três-oitão).
As sagas da mitologia nórdica encontram-se divididas em trinta e oito capítulos, e muitas vezes os heróis tinham de combater inimigos que se apresentavam em grupos de trinta e oito. Na mitologia egípcia, o algarismo está associado ao deus Anúbis e aos guardiões da vida eterna, que adornavam os sarcófagos dos faraós nesse preciso número.

domingo, 24 de junho de 2012

Infecção


O que custa mais é querer respirar e não conseguir. Sentir que a minha árvore não cresce ou que a minha espada não corta.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

New Drug for the Summer


Amoxicillin - Clavulanic acid - Ibuprofen - Cefuroxime - Deflazacort - Acetylcysteine - Diazepam - Desloratadine - Omeprazole - Mexazolam

sábado, 9 de junho de 2012

Quem quer comprar o pasquim?


O Correio da Manha é o jornal mais vendido em Portugal, e tal como o seu compatriota The Sun no Reino Unido, é capaz de mudar a tendência eleitoral através de uma eficaz manipulação dos seus leitores. Basta ver a lista de "opinadores" do Correio da Manha para se constatar a respectiva lealdade:

Ângelo Correia: Barão do PSD e (ainda) patrão e mentor de Passos Coelho.

António Bagão Félix: Gestor bancário do CDS-PP (apesar de se afirmar independente) e ministro da Segurança Social durante o governo de Durão Barroso, e das Finanças durante o governo de Santana Lopes.

Francisco José Viegas: Secretário de Estado da Kultura. Propagandista do PSD em blogues, jornais e programas de televisão, e junto do sector livreiro, no qual exerce apreciável poder.

João Miguel Tavares: PSD (confirmado pelo próprio) anti-Krugman e "escritor" de livros sobre Economia para lavar o cérebro às criancinhas, apresentados pelo ministro das Finanças. Partilha o estilo irreverente com o JP Coutinho para ver se a malta jovem vai na conversa.

João Pereira Coutinho: Geração Atlântico (PSD em novilíngua) mascarado de liberal que usa o humor cínico para chamar estúpidos aos portugueses por estes não perceberem o ponto de vista dos contribuintes alemães, entre outras loas à situação.

José Eduardo Moniz: Homem de mão na RTP durante o governo PSD de Cavaco Silva.

Luís Campos Ferreira: Deputado PSD pelo distrito do Porto. Jurista em Direito da Comunicação Social.

Luís Marques Mendes: O cavaquista de serviço. Era necessário terem uma quota para não se sentirem descriminados.

Paulo Pinto Mascarenhas e Manuela Moura Guedes (ex-deputada CDS-PP): Obsessão patológica anti-Sócrates e ao PS em geral, embora a bajulação à situação se note mais no caso de PPM.

Antigamente havia o António Ribeiro Ferreira, mas desde que Sócrates perdeu as eleições que a manipulação deixou de ser necessária, tendo este levado o esterco da sua pessoa para o jornal i, bem como o Cabreu Amorim, que se queixava de que era difícil ser liberal em Portugal, mas agora que tem a televisão e o hemiciclo para manipular à vontade já não se deve queixar tanto.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Triunfo dos Especuladores


Especulativo será dizer que o Alex Soares dos Santos, o merceeiro-político, que fez campanha contra o anterior governo e que alavancou a eleição de Passos Coelho, o fez para beneficiar da alteração à legislação deste governo que lhe permite ter as mais valias na Holanda.

Especulativo, mas provavelmente não menos verdadeiro, seria dizer que o único objectivo deste tipo de campanhas é o de mais facilmente manter as massas em sentido do que lhes mandando porrada. Controlar o cérebro das pessoas é bem mais eficaz do que lhes controlar o corpo, como bem sabe o ministro Relvas.

Especulativo seria dizer que existe uma relação entre o Pedro Soares dos Santos e Pedro Passos Coelho. Afinal, eles pertencem à mesma geração, têm os mesmos objectivos de domínio selvagem do capital. São especulativos, um através da acções da SGPS, e outro como testa de ferro dos banqueiros, e para ambos "a concorrência é um pecado" como dizia o Rockefeller. Aqui está a verdadeira "política comum."

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O pulha


Os blogues políticos são o local onde se pode encontrar a fina flor da clubite partidária. As jotas são outro. Essa gente não se move por coerência ética ou ideológica. Limita-se a urrar e a brandir o cachecol do partido como se estivessem num estádio. É uma abordagem política que se baseia nas emoções, expectativas e desejos de quem a apoia, uma vez que funciona de uma forma demagógica. Por alguma razão se chama propaganda. Sendo esses blogues, e quem os escreve, demagógicos e populistas, não se pode querer que estes tenham um abordagem racional. O que vale é que quem frequenta a blogosfera os conhece. A estratégia destas pessoas passa por causar medo na opinião pública, demonizar o adversário e, de um modo geral, apelar à emoção. O governo/partido/clube/bando dá o mote e os assessores/envenenadores executam.

Serve isto para explicar como aparece uma personagem como Relvas, parte de um governo que espia os próprios cidadãos, principalmente aqueles que lhe possam causar mais problemas. Um governo que usa os aspectos sórdidos das pessoas espiadas como chantagem e coacção para que estas façam aquilo que esse mesmo governo deseja. Falta saber aquilo que era para ser publicado no jornal Público, que motivou a chantagem do governo. Para lá das considerações éticas, a chantagem é um trunfo que só deve ser utilizado em último recurso e, como tal, aquilo que motivou a chantagem deve ser revelado, para que nós possamos perceber se o ministro da Propaganda tinha razão em utilizar esse recurso. Considerando que é sempre possível argumentar que a chantagem é um método racional se estivermos a falar de bandidos.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

O contexto americano


Mas qual contexto americano? Todos os presidentes americanos trabalham para o mesmo fim, que é o de enganar as massas. O que me faz confusão é saber que os autores do Arrastão ainda acreditam no embuste que é o Obama. Se o exército americano já não está no Iraque é porque já lá estão os contratados da Blackwater Security, que é um exército privado e que devem rondar os 7000 efectivos, e que asseguram "green zones" para que os homens de negócios possam continuar a explorar aquele país. Mas a esses é mais fácil fechar os olhos. Se o exército americano já não está no Iraque é porque ele é necessário no Afeganistão, no Norte do Paquistão e nas Filipinas. Fora as guerras por proxy no Chad e no Mali, no Sudão, na Somália, no Iémen e os conselheiros militares que ainda devem estar na Líbia.

Já se devem ter esquecido de que a Administração Obama é constituída por oligarcas de Wall Street, que continuam a especular sobre o Euro, e que o discurso eloquente do presidente americano é o de um ilusionista manipulador de multidões, sustentado por um fantástico marketing mediático. Não vou aqui entrar na discussão sobre qual o melhor: se o Bush ou o Obama (a cada um, o seu). Agora, não me atirem é poeira para os olhos!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Totta-Açores paga bem

José Afonso - "Foi na cidade do Sado"

Apesar do sol se encontrar encoberto por nuvens, aqui fica este vídeo apropriado à data, uma vez que vivemos numa bronca armada pelas bestas do capital e somos geridos por um bando de jotas laranjinhas com o objectivo de acertarem contas com o 25 de Abril, e cujo lema maior é a doutrina de Milton Friedman segundo a qual "o lucro é mais importante do que a vida humana" e que confortavelmente todos os dias prepara um ensopado de borrego com a carne tenra de ovelha dos portugueses. Obrigado por estes 38 anos.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Não é erro, é propaganda...


"Quero dizer-lhes que Portugal tem futuro e que há esperança, que emigrem quando tiverem de emigrar. Nós não temos de ter preconceitos, a minha filha dentro de seis meses vai fazer Erasmus para França."
Miguel Relvas, no programa 5 para a Meia-Noite da RTP1.


Esta frase do Miguel Relvas está errada a tantos níveis que eu até vou dividir por pontos:
Ponto 1: Existe uma diferença entre passar férias no estrangeiro e emigrar. Não vou criticar os estudantes de Erasmus, mas quem o fez sabe que a dificuldade daquilo é pouca ou nenhuma.
Ponto 2: O emigrante português é, por exemplo, um sem-abrigo em Londres que recusou uma sandes em troca de aparecer na televisão, para manter a pouca dignidade que ainda lhe restava. A filha do Relvas nunca esteve nem nunca estará nessa situação.
Ponto 3: Acho vergonhoso utilizar-se a própria família para fazer propaganda. Mas desde que vi o actual ministro da Economia na televisão com uma criança de colo, assistindo a uma manifestação contra as suas políticas, que já nada me surpreende.

sábado, 7 de abril de 2012

A tristeza do FMI


«Η κατοχική κυβέρνηση Τσολάκογλου εκμηδένισε κυριολεκτικά τη δυνατότητα επιβίωσής μου που στηριζόταν σε μια αξιοπρεπή σύνταξη που επί 35 χρόνια εγώ μόνον (χωρίς ενίσχυση κράτους) πλήρωνα γι΄αυτήν.
Επειδή έχω μια ηλικία που δεν μου δίνει την ατομική δυνατότητα δυναμικής αντίδρασης (χωρίς βέβαια να αποκλείω αν ένας Έλληνας έπαιρνε το καλάσνικωφ ο δεύτερος θα ήμουν εγώ) δεν βρίσκω άλλη λύση από ένα αξιοπρεπές τέλος πριν αρχίσω να ψάχνω τα σκουπίδια για την διατροφή μου.
Πιστεύω πως οι νέοι χωρίς μέλλον, κάποια μέρα θα πάρουν τα όπλα και στην πλατεία Συντάγματος θα κρεμάσουν ανάποδα τους εθνικούς προδότες, όπως έκαναν το 1945 οι Ιταλοί στον Μουσολίνι (Πιάτσα Πορέτο του Μιλάνου).»


«O governo de ocupação de Tsolakoglou aniquilou, literalmente, a minha capacidade de sobrevivência que dependia de uma respeitável pensão que, durante mais de 35 anos (sem nenhuma ajuda do Estado) paguei sozinho.
Dado que a minha idade avançada não me permite reagir de outro modo (apesar de que, se um compatriota grego pegasse numa Kalashnikov, eu o apoiaria) não vejo outra solução que não seja pôr um fim à vida de forma digna para não ter de acabar a procurar nos contentores do lixo para conseguir sobreviver.
Acredito que os jovens sem futuro pegarão em armas, e enforcarão de cabeça para baixo os traidores deste país na Praça Sintagma, como os italianos fizeram com Mussolini em 1945 (Piazzale Loreto em Milão).»
Dimitris Christoulas, 4 de Abril de 2012.



Da tristeza do FMI:
O FMI é uma instituição e as instituições não têm emoções, logo o FMI nunca poderá ficar triste, porque a tristeza é uma emoção.
Os especuladores financeiros que lá trabalham também não podem sentir-se tristes porque qualquer especulador financeiro é por inerência um psicopata, categoria de pessoas que não tem empatia pelo sofrimento alheio.
Hoje faz um ano que o FMI não aterrou na Portela, embora o pico de mortalidade em Portugal tenha sido em Fevereiro. Mas Abril é um mês de mudança. De mudança de governo. Por isso três palavras:

The Prodigy - Invaders Must Die

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Questões verdadeiramente pertinentes

Galhofa na SIC Notícias. Mário Crespo, Vicente Jorge Silva e Zé Luís Arnaut a discutirem os estatutos do PS ao pormenor, com o artigo cento e tal a ser esmiuçado, para explicar porque é que o Seguro é um golpista, para no final não haver um segundo que fosse para falar dos 15% de desemprego. Diz o inefável Crespo: "Os 15% de desemprego seria um assunto interessante, mas já não temos tempo."
"De seguida, rigorosamente a não perder, Paulo Garcia no Dia Seguinte" porque é preciso continuar a hipnotizar as pessoas.
Mas porque razão é que eu continuo a ver aquela merda?

terça-feira, 27 de março de 2012

sexta-feira, 23 de março de 2012

Dança

Mai Nadasaka, AV Idol

Mai é um nome próprio japonês. O ideograma para Mai (舞, "dança") é composto por uma parte superior (無, nai) que representa uma pessoa com os braços esticados (大) a segurar duas peles de animal em cada lado (革 + 大 + 革) significando uma afirmação negativa, ou a falta de algo. Na parte inferior de 舞 consegue-se ver claramente outro ideograma (舛, "passos") representando passos de dança.
O ideograma para dança pode ser lido tradicionalmente como "bu" (ぶ, bu). Como na componente de 歌舞伎 (kabuki, かぶき), uma forma de teatro japonesa, literalmente ka (歌, "canção"), bu (舞, "dança") e ki (伎, "arte").

quinta-feira, 22 de março de 2012

"Uma informação não domesticada constitui uma ameaça com a qual nem sempre se sabe lidar"

Deve ter ocorrido a Pedro Passos Coelho que poderia usar crianças para apelar à emoção dos contribuintes portugueses e fingir que é um ser humano. Se o realizador do vídeo do Kony também o fez, para promover a invasão de forças armadas americanas na África Central, e se o falecido Sócrates também as utilizou na distribuição dos seus Magalhães, porque razão ficaria o actual Primeiro-ministro impedido de utilizar a manada infantil para a sua propaganda demagógica? Tudo bem empacotado e servido pelos jornalistas da RTP, numa aprazível tarde primaveril. Tal ideia maquiavélica deverá ter sido de Miguel Relvas, o ministro da Propaganda, que se encontrava a fazer o seu serviço no parlamento, a entreter os deputados, enquanto Passos Coelho se entretia com as criancinhas. Deixai ir a ele as crianças, que Pedro já não se sentia tão messiânico desde a campanha eleitoral. Os petizes foram escolhidos a dedo, e não lhe faziam perguntas incómodas, apesar de um deles, quando questionado sobre onde iria passar férias, lhe ter dito que iria ficar em casa. Ao que, espantado, Pedro-o-Passos-Coelho retorquiu questionando-o se não seria melhor sair para a rua... passear. Passos Coelho gosta de pessoas na rua.

No dia seguinte, em pleno Chiado, a fotojornalista Patrícia Melo seria brutalmente agredida por um polícia, durante a manifestação marcada para o dia da greve geral contra as medidas de austeridade. Encontrava-se a fazer o seu trabalho quando um cão de guarda resolve mostrar que não gosta de pessoas na rua, a não ser que estejam numa posição de submissão. O olhar assassino de Macedo, o ministro da polícia, não deixa dúvidas sobre como as pessoas devem ser tratadas e a propaganda de Relvas dirá às televisões o que estas devem noticiar. Sem medos. Reprima-se com vontade. Sadicamente. A mensagem está dada. Aquilo que ficará na mente do cidadão obediente é a tarde de Passos Coelho com as criancinhas. Os feridos desta tarde são, segundo a RTP, "todos manifestantes". Nenhum polícia, nem nenhum turista. Os manifestantes são apenas terroristas, quiçá de Toulouse, que tudo fazem para que o grande esforço nacional "custe o que custar" não dê resultado. Passos Coelho encolherá os ombros e dirá que são tácticas sujas da oposição. Jogo desonesto. Que é necessário que o santo mercado funcione, para que possa proporcionar prosperidade para aquelas criancinhas.

Imagens: António Cotrim/LUSA e Hugo Correia/REUTERS

quarta-feira, 14 de março de 2012

Happy Birthday Sasha Grey

Sasha Grey for Equal Pay Day

"I'm Sasha Grey and when I turned eighteen I left high school and I decided that I wanted to pursuit different career opportunities. I worked as a secretary, as a teacher... I worked as a waitress... As a nurse I actually made more than the doctors. Within a year these jobs not only brought me respect, but also a lot of money.
I like really dirty things. I've been hanged upside down and tied up, and had a 12" dildo stuck in my ass... with my mouth gaged. I'm proud of this. Something I'd chose to do.
Who I am? I'm Sasha Grey!"

Gracias Sor.

domingo, 11 de março de 2012

Adeus, Moebius

Auto retrato de Jean Giraud (1938 - 2012)

O que mais me impressionou na obra de Jean Giraud, mais conhecido como Moebius, foi o uso do contraste. O traço forte e a forma como a luz incide, colando-se na perfeição com a crueza e o desespero dos seus personagens.

segunda-feira, 5 de março de 2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Dei Gratia

Jaime Graça (1942 - 2012)

Jaime Graça fez parte da equipa que ganhou o campeonato sem derrotas, e que construiu a mística benfiquista enquanto eu crescia. Obrigado Jaime Graça.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Porcos carregados de pérolas

O ano passado fiz a minha homenagem ao passar de José Afonso. Este ano, devido talvez a ser um número mais redondo, as homenagens surgiram em catadupa por toda a parte. Por norma, não gosto do tipo de celebração que se empola devido ao facto de se passarem 25 anos, mas deu para perceber a raiva que os sectores de direita têm pela figura do Zeca. Que ainda hoje têm.
Todos os canais televisivos tiveram um tratamento deplorável com a memória de José Afonso. A RTP encerrou um dos seus serviços noticiosos com uma prestação do Tozé Santos, do projecto Zeca Sempre, uma parvoíce que consiste em ganhar um cobres com a memória do Zeca, em "laivos pop-rock". Fazendo aquilo que qualquer estudante secundário faria caso tivesse uma guitarra e tentasse tocar José Afonso, mas em pior.
Na TVI, o pivot televisivo José Alberto Carvalho indaga sobre se a obra de José Afonso "ainda faz algum sentido nos tempos que correm", ao mesmo tempo que perora sobre o facto do "cantor de intervenção" "também ter sido um fadista". Não vou aqui analisar exaustivamente a diferença que existe entre o facto de inicialmente José Afonso ter procurado evoluir a forma da balada coimbrã, com o o facto de ser necessário, desde que o fado se tornou património mundial, aproveitar todas as oportunidades para o promover desenvergonhadamente. Vou somente fazer um paralelismo entre o nome do José Alberto, e o facto de o mandar para o caralho.
Mas a pérola tinha de vir do afilhado de Marcelo Caetano, Marcelo Rebelo de Sousa. No seu segmento televisivo semanal onde comenta sobre tudo e sobre nada, resolve referir a data redonda com a versão no Coliseu da Balada do Outono, sem nunca se referir ao nome da música, o qual provavelmente nem deve saber, tendo pedido ao editor que lhe arranjasse o vídeo, que foi prontamente amputado após o genérico do programa acabar. Homenagens e respeito pelos outros é algo completamente diferente de referir a data só porque tem de ser. Só porque está institucionalizado que devem ser referidos os 25 anos. Mais valia que nada tivessem feito, que era mais respeitador da memória dos mortos.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Reis Momos

O AJ Seguro não só é fraco, como é amigo pessoal de Miguel Relvas, e essa é a sua lealdade mais importante, sendo o PS simplesmente um trampolim para quando o ódio a Passos Coelho atingir o ponto de saturação. Extrapolando pelo que acontece noutros países, o próximo governo será um executivo FMI/Goldman Sachs, liderado talvez por António Borges. Deste modo, Seguro irá passar ao lado da cadeira de S. Bento, uma vez que, por essa altura, a farsa da democracia já não irá ser necessária.
Quanto a Louçã, o dilema deste, advém do momentum político que o Bloco tem enquanto o PS é governo, que agora lhe falta. Certas correntes de pensamento bloquista são semelhantes a outras do PS, e para estancar este tipo de pensamento é que pessoas como Zorrinho foram destacadas. Isto provoca um descomprometimento da generalidade do PS com a agenda do Bloco, fazendo este último esvair-se em termos de estratégia. Claro que o facto de Louça ter ajudado a empossar este governo, algo que deveria ser amiúde recordado, também não o ajuda. Mas a boa imprensa existe para isso mesmo.
Jerónimo não pode ser mais do que aquilo que é. Ao liderar um partido que apenas tolera as regras da democracia, para assim tentar expandir a influência desse mesmo partido na sociedade, nunca poderá aspirar a ser algo mais do que o transmissor da vox populi, nos dias bons, ou fazer um braço de ferro com o governo, qualquer que ele seja, através das greves gerais da CGTP, nos dias maus.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Os diários da Vampira

Malese Jow

Esta não é uma história sobre vampiros, e muito menos uma história sobre relações amorosas. Se bem que esse tipo de tradição romântica encontrou um fim prematuro, no momento em que uma escritora norte-americana, sem qualquer talento literário, decidiu enriquecer à custa de uma fusão entre esses dois géneros, criando o livro-que-não-pode-ser-nomeado. Mas essa é uma outra história.
Anna era uma vampira centenária, apesar de parecer humana, que se apaixonou por um humano que se queria tornar vampiro, depois de a conhecer. O nosso estereótipo repete-se até à exaustão. Copycats de tropes e clichés que se sucedem até não se conseguirem levantar mais. Até a vampira ficar sem uma pinga de sangue. Até arder numa pira, consumida pela chamas da sua própria falta de originalidade. Morta, pálida e ressequida. Trespassada por uma estaca. Mesmo assim, e depois de tudo isso, ainda consegue comunicar com o seu querido humano, a partir do "outro lado", sem que haja qualquer falta de credibilidade nesse argumento. Porque se já atingimos este momento desta nossa ficção, então tudo se torna imediatamente credível.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Matar pessoas não é só um modo de vida, é também um imperativo nacional

Não me chateiam os anticiclones com apófise polar. Prefiro que a referida protuberância esteja situada na Sibéria do que sobre o Atlântico Norte, uma vez que o tempo frio e seco se torna menos incomodativo do que o tempo frio e húmido. Foram semanas frias e cheias de cinismo, em que se apelou aos portugueses para serem menos piegas, ao mesmo tempo que se fodia o Carnaval e que o Deutsche Bank apostava com a vida dos velhos. Mas calma, que tudo isso foi antes do ministro Gaspar se curvar em agradecimento ao seu mestre alemão, e da Grécia ficar em chamas. Embora o incêndio helénico tenha sido num banco, que os gregos sabem perfeitamente de quem é a culpa. Mesmo que a televisão por vezes se vá esquecendo de o dizer.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Titi fez-me um bóbó

O animal mais conhecido por Leontopitecus rosalia chama-se Titi-leão em português. "Mico-leão" é brasileiro. Mas talvez fosse esperar muito que num jornal televisivo português, se falasse português. Pelos vistos não é só a ortografia, também querem que mudemos os vocábulos, o léxico e o resto. O autor da pérola foi João Pacheco Miranda, "jornalista" da RTP, que para além de ser um conhecido sabujo do poder, também é um promotor da ignorância entre as massas, e desse desígnio cultural de abrasileirar a sociedade portuguesa.
O coiso da Cultura, de seu nome Francisco José Viegas, tem razão quando afirma que "a língua é de quem a fala". O problema do brasileiro é que é um dialecto, não é uma língua. Não é uma questão de ortografia, ou até de sotaque, é uma diferença de estrutura frásica e de vocabulário. Enquanto se insistir no engodo de que o português e o brasileiro são a mesma língua, iremos ter sempre este tipo de discussão. A única razão porque o brasileiro se impôs ao português, na tentativa de uniformização ortográfica, é porque o Brasil tem mais população e mais poder económico. Deixem o Brasil registar a sua língua na ONU como brasileiro, uma vez que já é uma nação independente, e acabem com o mito de que o português é uma das línguas mais faladas no mundo. O governante Viegas, como representante do lobby livreiro, tem todo o benefício em defender o acordo, para que as suas editoras melhor possam vender num mercado mais alargado, com menor custo, uma vez que, tal como o resto do governo, ele só vê o lucro e o ganho pessoal à frente. Mas o português é assim mesmo, meio macaco e meio leão.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A música de Cavaco

Cavaco Silva é um intriguista. Para além de ser, talvez por isso mesmo, o político mais medíocre de Portugal. No caso das escutas a Belém, a gravidade da denúncia levou o seu assessor Fernando Lima a dar a cara, enquanto que na actual divergência de opinião com o governo, consequente crítica à política de finanças, e tentativa de se colocar ao lado do povo, já não foi preciso que nenhum chefe de gabinete o fizesse. Os supostos estados de alma do presidente, que esses "cavaquistas" transmitiram aos jornalistas, não necessitam de mais do que isso.
Fernando Lima ficou muito exposto na manobra anterior, e neste caso foi possível fazer a intriga mediática sem desgastar a imagem dos respectivos spinners, que se mantiveram anónimos, dando a respectiva folga para que a versão oficial da presidência fizesse o seu papel.
O contra-ataque governamental foi igualmente assertivo e rasteiro, por intermédio do seu feudo de blogues e do Correio da Manhã, pasquim oficial da direita populista que se senta no governo, o que revela que a informação não domesticada é uma ameaça, como defende a doutrina de Fernando Lima. Embora qualquer comentador imparcial facilmente admita que o Expresso e o Público são pesos bem mais pesados na comunicação política do que o pasquim já referido.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alma de Meretriz, Corpo Feliz

Daisy Lowe

Para os antigos egípcios, a alma era composta por cinco partes principais: o ib (coração), o sheut (sombra), o ren (nome), o ba (persona) e o ka (essência vital). Havia ainda o ha (corpo) embora este servisse apenas para as várias essências da alma funcionarem neste mundo. Para se conseguir manifestar, este conjunto habita um corpo, não sendo o corpo que adquire uma alma, como acreditava a posterior tradição ocidental. De tal forma era isto verdadeiro, que quando os cristãos começaram a espalhar a sua doutrina no Egipto, o conceito de alma como um ser imaterial seria explicado pela palavra grega psyché, e não por ba, que no fundo é apenas um dos modos pelo qual uma pessoa pode existir. Uma vez que o corpo, esse, já se encontra modelado por aquilo que o ba define que ele seja.

2012. O ano do fim do calendário Maia, o ano do reemergir da Atlântida, de um novo ciclo na história da humanidade, o ano da invasão alienígena nos céus de Londres durante os Jogos Olímpicos, do colapso do euro, do estabelecimento da ditadura, do governo mundial, do fim da tirania eneamilenar do vil metal, da tomada de consciência universal, da passagem para a quarta dimensão, do aparecimento do Nibiru, da... esqueci-me de mais alguma coisa?
Tudo pode ser definido num momento, num ano, num mês, numa semana, num dia, numa hora, num minuto, num segundo. Para mim foi aquele momento em que um rabo se empinou numas calças de ganga azuis. O momento em que uma alma de rapariga movimentou um corpo que a tudo obriga.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

"Vítor, acabei de dizer aos portugueses que os sacrifícios têm de ser para todos!"

Esta imagem de Leonardo Negrão, da discussão do Orçamento de Estado para 2012, é excelente para não ser adaptada e difundida pela blogosfera e redes sociais como uma crítica ao governo ou um gozo de retaliação pelo modo como os portugueses são gozados todos os dias pela classe política, Presidente da República incluído.
Acho plausível que a população esteja farta de ouvir falar de política e de políticos, e que tenha a reacção natural, por uma questão de manter a sanidade, de se afastar o mais possível de uma classe nefasta que ocupa a totalidade da emissão televisiva não ficcionada (vamos assumir que a farsa do jogo político, e a sua dicotomia partidária e ideológica não se trata de ficção).
Alienar o povo da sua classe política tem sido a manobra favorita da oligarquia, para recusar a cidadania a esse mesmo povo, e existe a tendência, algo ingénua na minha opinião, de quem critica a acção governativa, de julgar Passos Coelho incompetente, ou então um louco com o delírio pelo abismo (metáfora recorrente para criticar o Primeiro-ministro de Portugal) quando Passos Coelho, como mero empregado da alta finança, faz aquilo que lhe mandam fazer, não sendo por isso nem um lunático nem propriamente mentiroso. Se bem que, no conceito de mentiroso, não estou a incluir as mentiras que ele diz aos portugueses, que a esses ele não presta contas nenhumas.

Imagem

sábado, 21 de janeiro de 2012

O público-alvo do discurso miserabilista

Nas declarações de Cavaco Silva deve primeiro perceber-se para quem é que este está a falar. Cavaco dirige-se ao velhotes da Beira Alta, ao cavaquistão, ao tipo de gente miserável de corpo e alma e miserabilista por natureza que o elegeu. Pessoas cuja ganância por tostões é suficiente para causar desavenças entre irmãos. Pessoas que levam o conceito de avareza até limites nunca imaginados pela sociedade mediática e informatizada do litoral. Pessoas que não têm facebook, e que se estão a cagar para o que os "jovens" lá escrevem. Pessoas que não sabem ler nem escrever. Pessoas que vão à missa e que são endoutrinadas pelos párocos, mas que optam por ignorar que a avareza é um pecado. Pessoas que odeiam essa corja que são os políticos. Pessoas para quem Cavaco diz sub-repticiamente que não é um político, que é um deles. Que conta os tostões. Manobra que usa frequentemente, porque conhece este povo.

Cavaco não goza, Cavaco manipula. Os portugueses é que se sentem gozados pela manipulação básica. Cavaco alardeia o facto de não receber vencimento enquanto presidente, mas omite que foi uma opção própria para receber uma reforma que é superior ao vencimento. Omite que recebe duas reformas. Omite que o total das reformas é superior a dez mil euros por mês. Mas nada disto interessa à gente humilde e salazarenta, cuja política é o trabalho, para quem ser-se pobre é ser-se honrado.
A imagem de Cavaco Silva evoluiu nos anos noventa, com uma televisão estatal que lhe fazia a vontade, onde este tipo de discurso resultava. Hoje, tal como ontem, a "informação não domesticada" é algo que preocupa Fernando Lima, o seu consultor político e obreiro da intriga no caso das escutas. Os "jornalistas" já transmitiram as palavras do senhor Presidente. Agora calem-se!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os habilidosos

O acordo de concertação social serviu para o governo poder implementar a sua agenda dogmática, sem a necessidade de extirpar o socialismo da constituição, e conseguindo fazer da precariedade a base do sistema laboral português. Podem argumentar que esta ainda não representa a maioria do trabalho em Portugal, mas estas coisas demoram tempo. O que faz uma certa impressão é o tom de regozijo com que responsáveis governamentais e comentadores a soldo do governo defendem o acordo.
Com o novo documento que gere as relações laborais, os trabalhadores a recibos verdes passam a dispor do direito a subsídio de desemprego. Trata-se do assumir da precariedade como um estado inevitável. Os trabalhadores a recibos verdes eram vistos como uma maioria de profissionais liberais no país das maravilhas do poder político. Como agora o poder político não pode mais ignorar a realidade de que os trabalhadores a recibos verdes são escravos por contra de outrem, que só beneficiam os custos de mão-de-obra das empresas que os contratam, disponibilizou-se essa medida de elementar justiça. Deste modo, um trabalhador a recibos verdes não irá descartar uma oferta de escravidão, uma vez que este até terá direito a subsídio para caso e quando... quando ficar desempregado.

Claro que o acordo é vergonhoso para os sindicatos, e numa tentativa de sacudir a pressão do capote, João Proença da UGT acusou alguns altos dirigentes da CGTP, que já tinham abandonado as negociações, de o terem aconselhado a assinar o acordo com os restantes parceiros. Mesmo que tal fosse verdade, só o facto de estar a revelar conversas privadas mostra bem a falta de decoro e de educação de João Proença. Em seguida, faz uma referência vaga aos dirigentes que ele acusa de terem tido esse comportamento, sem os nomear. Algo que, no caso, seria de elementar bom senso, caso ele quisesse esclarecer o assunto trazido à baila por ele próprio. Não o fazendo, percebe-se obviamente que existe manipulação e argumentação falaciosa, mesmo que essas conversas até tenham existido. Ninguém pode provar o contrário.
Por último, as declarações não fazem nenhum sentido. A CGTP não costuma assinar nenhum acordo de concertação social, e obviamente que nunca iria assinar o acordo mais nefasto de sempre para a mão-de-obra e o factor trabalho, enquanto que a UGT foi criada propositadamente para assinar este tipo de acordos, ainda para mais, conhecendo-se a posição de subserviência de A. Jota Seguro em relação ao governo, sendo por isso fácil de perceber a atitude de João Proença.

Com a desculpa da troika, o governo martelou a meia-hora diária adicional, dando até o exemplo em conselhos de ministros, que duravam mais meia-hora do que o necessário, para que a demagogia populista ficasse mais vincada na opinião pública. As críticas à meia-hora resumiam-se a um embaratecimento do trabalho, que se traduziria em cortes de salários, uma vez que o trabalhador iria ser obrigado a trabalhar mais pelo mesmo salário. Como os membros do governo e patronato não são principiantes em matéria económica, estes sabiam muito bem que o aumento de meia-hora no horário de trabalho não iria aumentar a produtividade, quanto muito iria aumentar a produção, e mesmo isso era discutível. A produtividade só aumentaria se a produção horária ou por unidade de trabalho aumentasse. Muitos portugueses nem sequer sabem a definição de produtividade, por isso a manipulação mediática pode ser implementada sem receio. O feudo do poder em relação a quem pudesse desmontar e explicar a mentira fez o resto.
Ao fim de alguns meses de manipulação mediática, percebeu-se que a proposta da meia-hora servia para estipular o acordo, dando à UGT algo com que pudesse brandir na cara da opinião pública como se fosse uma conquista negocial.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Rádiotelevisão de Angola


O ministro Relvas com ar de frete, à procura de um comprador para a sua retrete.
O graúdo capataz que de tudo é capaz, na degola mercantil em Angola e no Brasil.
A Fátima Campos Ferreira, enrolada à maneira na vestimenta tradicional. A prostituta quadrilheira do nosso audiovisual. Propaganda mal feita. Propaganda banal. Rui Veloso e Paulo Flores, ao vivo e a cores. Nem muito popularucho, nem muito elitista, que a propaganda é um estucho para tapar a tua vista. Um cambão bastante quente no coração de toda a gente.

As prostitutas vendem-se sem vergonha, porque a pobreza de espírito não se coaduna com a sofisticação. Portugal é um país de massa bruta, porque o povo português é um povo sem educação. Um povo de filhos da mãe e de filhos da puta. Um povo que já desistiu de ir à luta.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Os donos de Portugal

dono |ô|
s. m.
1. Pessoa a quem pertence alguma coisa; senhorio.
Plural: donos |ô|.
in Priberam


Os políticos só servem os seus donos. Apesar de se ter imposto anteriormente uma referência a Eduardo Catroga, uma vez que a fronha do senhor foi das mais vistas durante a semana nos media televisivos, resolvi dedicar um texto em exclusivo à idiossincrasia dessa espécie particular de imago, cuja larva é mais conhecida por "ministro cavaquista das finanças" e cujo estilo de vida parasítico causa o declínio desta árvore onde todos vivemos, conhecida como Portugal.
Para além destas tiradas metafóricas, devo referir que nem todos têm a vantagem de ser defendidos publicamente pelo Primeiro-ministro, como aconteceu com Catroga. Um puto qualquer que tenha partido acidentalmente um vaso não tem à sua disposição o Primeiro-ministro a vir em seu socorro com gráficos, uma vez que já ninguém acredita naquilo que os políticos dizem, para explicar que nada tem que ver com as nomeações e respectivas compensações de que os conselheiros da EDP vão usufruir.
O que faz até algum sentido. Afinal, Passos Coelho é somente um empregado que faz aquilo que os grupos económicos lhe dizem para fazer, que faz aquilo que os banqueiros e a alta finança lhe dizem para fazer, e que faz aquilo que outros líderes europeus, que por sua vez são empregados dos grupos económicos dos seus respectivos países, lhe dizem para fazer.

Isto tem de ser visto de forma pragmática. Os chineses da China Three Gorges Corporation apenas quiseram alguém que tivesse a necessária influência sobre o governo e o Primeiro-ministro em particular, para a sua subsidiária. A pergunta feita por eles foi acerca de quem seriam as pessoas indicadas, às quais bastaria uma palavra para que Passos Coelho obedientemente se sentasse, rolasse, desse a patinha e se fingisse de morto. A primeira que vem à memória é Ângelo Correia. Mas na falta dele, Eduardo Catroga serve perfeitamente, tendo a vantagem de conhecer a empresa. A palavra-chave aqui é "obediência" e sem dúvida que Passos Coelho ouvirá atentamente Catroga, como pessoa atinada que é. Tal como obedecerá a Ilídio Pinho, o seu antigo patrão (uma vez patrão, patrão para sempre) e como obedecerá a Paulo Teixeira Pinto, que lhe escreveu a proposta de revisão constitucional, que não foi avante porque estava a causar estragos eleitorais. No caso do partido parceiro de coligação, Celeste Cardona lá estará, para falar maternalmente a Paulo Portas.
Quanto à forma folclórica como Eduardo Catroga se comparou aos jogadores da bola, ao falar do seu valor de mercado para justificar o vencimento que irá receber, isso só revela o mindset e a arrogância de quem sabe que está acima dos portugueses, e se permite a ter este tipo de gozo com o próximo.

Continuando na temática dos donos de Portugal, também Braga de Macedo foi nomeado para o Conselho Geral de Supervisão da EDP. Mas o seu estatuto como um dos donos do país tornou-se mais evidente no nepotismo descarado com que patrocina a carreira da filha no meio das artes plásticas.
O facto de existir informação abundante que prova o favorecimento advém do facto de Braga de Macedo já não ser ministro e, consequentemente, não se preocupar com a imagem que projecta na comunicação social. A vergonha é um atributo dos pobres, pois implica que estes estejam mentalizados a aceitar um tipo de censura social. No caso de Braga de Macedo, tal como acontece com Catroga, o facto de pertencerem a uma elite torna-os imunes a qualquer tipo de crítica. O fisiologismo e o nepotismo são formas de corrupção, mas o facto de serem políticos corruptos não os afecta.
Se alguma vez a comunicação social domesticada que temos se lembrar de inquirir da falta de ética de ambos, estes poderão simplesmente ignora-la, ou convida-la para tomar um chá. Todos aceitamos que isto se passe desta forma porque esta é a sociedade que nós criámos. Os portugueses deixaram que estas pessoas se tornassem donas do país, porque não sabem ser cidadãos, ou então não querem.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sete fronhas e um lençol

Os três corpetes representam, obviamente, a troika. No final dos anos setenta e princípio dos anos oitenta, ainda o PREC estava fresco, a metáfora utilizada para sufocar os portugueses era o "apertar do cinto". O cinto servia para tudo. Para bater nos mais indisciplinados e para apertar a fome.
Na crise pós-2008, o cinto já não chega, uma vez que os hipermercados estão a abarrotar e pede-se ao povo que consuma. A peça mais indicada para apertar o povo é o corpete, porque a troika e o governo querem espremer o tórax das pessoas, até que estas deixem de conseguir respirar.
O avental é obviamente Jorge Silva Carvalho. Embora também pudesse ser o deputado Luís Montenegro, que fala em inglês na Assembleia da República para dar um ar refinado. Silva Carvalho até poderia ser "investigado" por uma comissão parlamentar dominada por Montenegro, caso estivéssemos no país da inocência.
Silva Carvalho não fala, Silva Carvalho facebuca. Dislates que as televisões alegremente publicitam, juntamente com os vídeos do Pinheiro de Azevedo, uma vez que a obediência passa por dar o devido destaque à propaganda de Silva Carvalho.

As sete fronhas são hediondas. Monstros cuja face provoca o vómito e o asco. Para além das fronhas de Silva Carvalho e Luís Montenegro, temos direito à fronha asquerosa de Manuela Ferreira Leite, a defender que os doentes com mais de setenta anos só tenham direito à hemodiálise se a pagarem.
O pagamento das horas extraordinárias dos médicos vai sendo reduzido, para que estes achem o Serviço Nacional de Saúde pouco apelativo. Aos poucos vão fugindo para o privado. Para quê ter médicos competentes num serviço estatal, quando podem estar a enriquecer a administração de uma clínica privada?
Esta é a filosofia escrita na fronha de Paulo Macedo, ministro da Médis, gestor fiscal e director-geral dos impostos quando Ferreira Leite era ministra das Finanças. O lucro é mais importante do que a vida humana e quem faz hemodiálise é porque lhe apetece.
Não é como nos Estados Unidos, onde se alguém responde que é pobre lhe dizem que não tem direito a nada. Por cá, recomendam-lhe que vá ao Serviço Nacional de Saúde, e se você argumentar que o Serviço é miserável, vão-lhe responder que também você o é. O lucro é mais importante do que a vida humana.

A quinta fronha (poderia ser a quinta coluna) é a de Francisco Pinto Balsemão, cujas cirurgias plásticas não conseguem esconder a degradação da dita. Mas pior do que a degradação da fronha é a degradação da ética e dos princípios. Os jornais televisivos deram zero destaque à polémica criada pelas declarações de Ferreira Leite, o que revela que Balsemão tem de facto poderes. Pior do que o apagão analógico é o apagão da informação televisiva, e o condicionamento para que não se fale do assunto sem ser em blogues e redes sociais, que só são escrutinadas se forem o facebook do Silva Carvalho. Quanto ao resto, temos aquela gente que deita sempre água na fervura, para dizer que aquilo que a fronha de Ferreira Leite disse não era afinal bem aquilo que essa fronha queria dizer. Eis o lençol português, tapando e escondendo a porcaria e podridão das figuras públicas, ao mesmo tempo que embala os portugueses no seu sono, para que estes sejam roubados mais facilmente.
Por fim, aparecem as fronhas sorridentes de Miguel Relvas e Zeinal Bava, no momento simbólico do desligar do sinal de televisão analógico. Já a pensarem nos milhões que vão entrar com o negócio do espectro de frequências, que era de todos nós.

O lucro é mais importante do que a vida humana.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fazer sangue

O problema aqui com o Soares dos Santos é devido às lições de moral que a referida pessoa andou a pregar em programas como o Negócios da Semana ou o Plano Inclinado, em que fazia o apelo à emoção de forma demagógica, de que nunca iria abandonar o país dele porque tinha nascido cá, e o pai e o avô também, enquanto estendia uma passadeira para que Passos Coelho se tornasse Primeiro-ministro.
Obviamente que não critica Passos Coelho, porque este arranjou-lhe uma alínea no Orçamento de Estado, em conluio com a bancada PS, que lhe permitiu meter as mais valias na Holanda, sendo desta forma que o grupo financeiro ganha dinheiro, e não com os lucros da sua actividade em Portugal. Para especuladores financeiros que, repito, dão um ar de moralistas e são no fundo uns rematados hipócritas, essas são as migalhas que estão dispostos a oferecer ao Estado português.
Já aqui escrevi acerca de hipócritas, aquando do fenómeno da ave de arribação Fernando Nobre. A única diferença entre o hipócrita Soares dos Santos e o hipócrita Fernando Nobre é que o primeiro fez um favor aos políticos do PSD, e o segundo queria que os políticos do PSD lhe fizessem um favor.

Claro que a Caixa Geral de Depósitos fugir para as Ilhas Caimão é mais grave. Mas com um conselho de administração controlado por tubarões da alta finança como Nogueira de Leite (PSD), Agostinho de Matos (colega do ministro das finanças), Nuno Fernandes Thomaz (CDS, banca de investimento), Pedro Rebelo de Sousa (irmão do Marcelo) e Rui Machete (envolvido no escândalo BPN até ao pescoço), não se pode pedir que a Caixa tenha o interesse nacional em conta, quando essas pessoas foram lá postas com o objectivo contrário. Não é ético, mas é da sua natureza.
Quem estuda economia sabe que o Estado dispõe de três mecanismos políticos que são fundamentais para gerir as finanças e influenciar e dinamizar o crescimento económico: a política monetária, a orçamental e a fiscal. Ora, a política monetária em Portugal não existe porque o nosso dinheiro é imprimido em Frankfurt e as taxas de juro são fixadas pelo BCE. A política orçamental é ditada pela troika, e a política fiscal, devido à alínea anteriormente referida no orçamento da troika, permitiu que os grandes grupos empresariais que mandam no governo pudessem encontrar ambientes mais paradisíacos, mesmo que sejam na Holanda.

domingo, 8 de janeiro de 2012

O mandil de Carolina

Carolina Torres

Em vez das histrionices e macacadas num programa decadente, poderia estar a cantar e a bailar. Tem técnica e vocação suficientes para tal, e embora já tenha aprendido alguma coisa do que deve ser a comunicação e o ritmo de um programa televisivo, torna-se bastante notório que não nasceu para isso.

"El mandil de Carolina
Tiene un yagartu pintado
Cuando Carolina baila
El yagartu mueve el rabu
"

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Dois Mil e Doze

O primeiro texto do ano deveria ser uma mensagem de incentivo. Um poema. Qualquer coisa que me acordasse da hibernação onde o meu cérebro se enroscou, num mar de pedras. Nas paredes de rocha do buraco mais profundo, congelado pela dormência da sua própria auto-comiseração. Sem nada que lhe faça ferver o sangue do corpo. Tronco mecânico. Dedos digitantes atachados a braços basculantes. Todavia, tudo se passa sem que me estique o semblante. A expressão facial de quando abro as mandíbulas para atacar a presa, que no fundo é somente o meu semelhante.