terça-feira, 21 de dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

Manipulação de bonecos


Miku Hatsune, World is Mine

Para quê a existência de vocalistas ou cantores, quando temos o Vocaloid e hologramas?

sábado, 18 de dezembro de 2010

Maria, La Embarazada


Maria Brink e Christina Aguilera

As cantoras norte-americanas Maria Brink e Christina Aguilera nasceram quase no mesmo dia de Dezembro, embora em anos diferentes (1977 e 1980 respectivamente). Nesta altura de Dezembro celebra-se a Anunciação. Uma festa que celebra a Expectação do Parto de Cristo. Em Portugal é conhecida como o culto a Nossa Senhora do Ó, assim designada devido ao facto das antífonas, ou coros litúrgicos que se cantam nas vésperas serem iniciadas pela exclamação "Oh!".
Tanto Maria como Christina já foram mães. Maria, no início dos anos 90 e com apenas 15 anos, tornou-se mãe de Davion, enquanto que Christina deu à luz Max Liron Bratman, em 2008, depois de já ter cinco álbuns editados. Na altura em que se encontrava no final da gravidez foi fotografada para a revista Marie Claire por Ruven Afanador.

Segundo a iconografia ocidental, Cristo é representado como um indivíduo louro, para melhor ser recebido pelas populações de origem europeia. A sua contraparte feminina, de mãe e amante, chamava-se Maria, a adorada, enquanto que o nome Cristina significa literalmente "seguidora de Cristo".

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Piada do Ano

Para Person of the Year, a revista Time ter escolhido Zuckerberg em vez de Assange, o justo e democrático vencedor. Vou propor que este último seja nomeado para Nobel da Paz ou para o Prémio Confúcio, para compensar.
A Inteligência é definida enquanto recolha de informação que pode ser utilizada enquanto meio de controlo das pessoas ou entidades. O Facebook de Zuckerberg é uma vasta base de dados ao dispor de agências de segurança e empresas comerciais a troco de uma remuneração adequada. Informação essa que é disponibilizada pelos próprios utilizadores.
O tipo de dados apresentado pelo Facebook é mais user friendly para o Poder, uma vez que mantém as massas sob o seu controlo, ao invés desse mesmo Poder ser controlado pelas pessoas. A informação que consta no Wikileaks veio preencher um nicho de mercado disponível, onde existia a vontade de a conhecer e por outro lado, a capacidade de a divulgar.

Claro que essa wiki envolve recursos financeiros elevados e existe do mesmo modo, uma campanha, tanto para denegrir como outra para promover o Julian Assange. No entanto, a Time deveria ter algum respeito pelos seus leitores e pelo público em geral, embora a eleição de Adolf Hitler, em 1938, de Joseph Stalin, em 1939 e 1942, do rei Faisal Al Saud, em 1974, de Ronald Reagan, em 1980 e 1983, de George W. Bush, em 2000 e de Vladimir Putin, em 2007 revele um pouco sobre aquilo que significa ser Person of the Year para a revista Time.

Imagem da Boing Boing

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Os humanos divertem-se

"Knowledge will forever govern ignorance; and a people who mean to be their own governors must arm themselves with the power which knowledge gives."
James Madison, político e filósofo norte-americano, considerado um dos "Pais Fundadores" (frase retirada daquele site que está sempre em baixo)

Tem de começar a desmoronar devagar. Não seria de um momento para o outro que alguns milhares de telegramas iriam demolir a civilização ocidental. O colapso da sua potência imperial pode esperar, agora que ninguém sabe o que fazer, dizer ou escrever com a informação disponível e a que está disponibilizada.
Se tal fosse transposto para a escala nacional, poderia assemelhar-se a escutas telefónicas entre corruptos, postas no youtube ou a conversas entre engravatados nos passos perdidos, sobre o método mais eficaz de delapidarem o país. Claro que elas existem, mas a voragem causa pouca comoção na populaça.
Tanto umas como outras não apresentam nenhum risco para a segurança dos cidadãos, tal como a descrição de que o Berlusconi é um tarado ou de que o Putin é um louco, também não. Ameaça à segurança nacional seria revelar a localização exacta dos dezoito submarinos americanos com capacidade nuclear. Estes aqui. Deste modo, é apenas um embaraço diplomático, para quem não sabia que os americanos dizem uma coisa pela frente e fazem outra pelas costas.

Existe a argumentação de que só os países ocidentais (e mais concretamente, o Império) é que são referidos nestas fugas de informação, enquanto que nações ilustres e amigas de Portugal, como o Irão, a Venezuela, a Líbia, a R.P. da China e a Coreia do Norte (já se esqueceram dos sete a zero) não são mencionadas. Existe uma resposta para essa argumentação e envolve a palavra "hipocrisia".
Não vou assim tão longe ao ponto de relembrar o "Eixo do Mal" bushiano, sustentáculo paradigmático da Guerra ao Terror, mas o vir a lume destes documentos deixa os lacaios conservadores do nosso país com pouca capacidade de conseguirem atirar areia para os olhos das pessoas. Falta-lhes talvez, um conglomerado de comunicação social com a força de uma Fox, ou qualquer outra coisa de semelhante, de onde este tipo de políticos possa lançar as sua fatwās sobre Assange e a sua wiki. Claro que esta espécie de gente pode apelar a este tipo de actos criminosos, uma vez que é a própria Hipocrisia de Estado que lhes dá esse tipo de aval.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Sol da Kova

Alicia Hall, um doppelgänger nascido no mesmo dia

Parabéns ダコバ!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Administração Interna

Meia dúzia. Eles são só meia dúzia. Meia dúzia de indivíduos instalados no topo da sociedade, que desviam os recursos do país através de acordos entre eles. Uma nação delapidada como se de uma coutada privada se tratasse. As mesmas pessoas desde há trinta anos. Já ninguém se lembra dos dois operários assassinados pela Administração Interna, no Porto, em mil novecentos e oitenta e dois. Os assassinos ainda mandam no resto dos portugueses e os actuais líderes partidários são meros títeres dessa gente.
Sangram-se os portugueses como gado. Não interessa a justiça social, o serviço público ou o bem-estar dos cidadãos. Os media acalmam as pessoas, para que estas não se revoltem. Para que não causem uma rebelião. Porque os blindados que elas pagaram já cá estão... e prontos para matar... tal como em mil novecentos e oitenta e dois.

A sociedade encontra-se infantilizada devido às ideias básicas de um povo sem educação. A desresponsabilização é geral, mas favorece quem está no topo. Tal como crianças sem responsabilidade ou ideias, o povo é sangrado por esses assassinos sedentos de vida alheia. Não existe nenhuma desculpa. Esses assassinos são algo não humano, porque alguém com um coração recusa esse tipo de práticas, mesmo com o retorno de maços de papel. Dinheiro sujo, que alimenta a ganância de quem nos mata e fica impune.
As próprias massas são controladas quando se manifestam. Cabeças contadas por quem gere esse tipo de protestos. Traídas por dentro. Enganadas por manipulação. Controlo. Identificação de elementos subversivos. Agora eliminados. Mortos, se preciso for.

domingo, 21 de novembro de 2010

Dorsal Atlântica

Partindo do bom princípio que estamos perante uma relíquia da Guerra Fria, que deveria jazer completamente obsoleta nos livros de história, surpreende-me ver a vitalidade deste monstro em forma de aliança, cujo respectivo tratado foi assinado em Washington, a capital do seu maior promotor e mentor, quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
O sistema de defesa colectiva assenta no apoio de todos os seus membros ao país que sofrer uma agressão externa, funcionando tal como o seu antigo contraponto soviético. A clausula foi invocada pela primeira vez, de uma forma bastante perversa, após os ataques do 11 de Setembro. Os Estados Unidos, suposto país atacado, usaram a referida clausula para iniciar a Guerra ao Terror, um conflito actual em larga escala e do qual não se conhece o beligerante oponente. Desta forma, Portugal combate nesta guerra por imposição. Algo de que os próprios portugueses se esquecem.
Como a definição de terrorismo não é unanimemente aceite, qualquer movimento de rebelião contra as potências ocupantes é designado por "insurgência" e englobado no oponente, mesmo que não seja terrorista por natureza.

A Guerra ao Terror implicou o esforço militar da Aliança numa faixa que vai desde o Magrebe ao Sahel, passando pelo Corno de África, Península Arábica e Mesopotâmia, até ao Hindu Kush e ao Sudeste asiático. Claro que a intensidade da colonização aliada varia conforme o grau de investimento em cada região, desde os protectorados afegão e iraquiano até às presenças menos intensas em outras zonas.
A cimeira que se realizou em Lisboa teve o marco histórico de acabar de vez com a Guerra Fria. As garantias dadas aos russos, os herdeiros do antigo bloco soviético, parecem ter sido suficientes. A Guerra ao Terror consome recursos em demasia para um impasse na relação entre a Aliança e a Rússia.
O presidente Obama, ao distribuir a sua costumeira cordialidade, referiu os apontamentos que tirou para quando os Estados Unidos realizarem a próxima cimeira. A ultima lá realizada foi quando a Aliança bombardeou e derrotou a Sérvia.
Deve ter sido devido ao facto de ter recordado esta semana os episódios de uma série da minha infância, fortemente anti-guerra, chamada Mirai Shōnen Konan, que estou com este estado de espírito, ou então é por não gostar de bajuladores imperialistas.

Imagem da
Associated Press aqui

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Faena

Podemos oficializar isto. Foi desta que os portugueses voltaram a estar de vez com a equipa nacional, embora muito falte ainda decidir na qualificação.
Deixo aqui que nunca acreditei em Paulo Bento, apesar de ter apreciado uma sua entrevista televisiva onde apelava à união e a mais união. Tarefa que pelos vistos, não se mostrou difícil de conseguir, tanto na coesão do grupo como no acreditar das gentes.
Agradou-me já haver Bosingwa, Moutinho, Carlos Martins, Postiga e Rui Patrício, que não foram ao Mundial, bem como de Pepe e de Nani, que apesar de lá terem ido, foi como se não tivessem lá estado. Não incluo João Pereira neste lote, porque apesar de não ter estado propriamente mal, chegou atrasado a todos os cruzamentos de Capdevila. Algo que quase nem se notou.

Mais de meia equipa nova e a exclusão de outros elementos que andavam a apodrecer o ambiente, tornou esta equipa mais competitiva. De tal forma, que conseguiu espetar quatro golos ao actual campeão mundial, europeu e rival histórico que nos eliminou. Algo que nos estavam a dever e cuja motivação foi evidente.
No fundo, apesar de ter sido uma bela faena e um bom tónico motivador, os espanhóis é que continuam com a estrela em cima do emblema. Mas pelo menos o futuro está à vista.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Mudar a imagem de perfil

Conan, o Rapaz do Futuro (Mirai Shōnen Konan) por Hayao Miyazaki

As pessoas juntaram-se em torno disto porque a nostalgia é algo que lhes apela ao coração e não por serem ovelhas. Mas é muito melhor ser snob e criticar, porque dá a ideia que se tem mais personalidade do que a ralé que adere a este tipo de coisas.
Quase que nem acredito na má vontade e na atitude das pessoas que não concordaram nem aderiram à bonecada no facebook. Mas porque raio é que essas mesmas pessoas têm facebook, se acham que todas as outras são uma carneirada? Deve ser pela inveja de não terem tido esta ideia ou pelo facto de quererem que mais pessoas adiram ao ácido excrementício pessoal que continuamente vertem nos murais.

Mudando de tópico. Estou a rever o Conan, o Rapaz do Futuro, uma série da minha infância. Na altura, nem sequer me apercebi da influência ou da crítica subliminar ao colectivismo soviético e às consequências da guerra.

domingo, 14 de novembro de 2010

A Sereia de Azul Cerúleo

Aquela sereia que canta lamentos acerca do colapso da sociedade, trazendo ao encontro dos baixios os navios desgovernados de uma fauna, que vai desde os putos que jogam Playstation, até aos velhos embriagados, que já nem sabem que aquilo não é o Texas Bar.
Os Agonist são de Montreal, Canadá, como a Alissa faz questão de mencionar. Assim quase ao jeito das rockstars internacionais, apesar do primeiro concerto deles no nosso país passar quase despercebido. A Music Box não é uma sala muito ampla, apesar de estar pela metade. Algo incompreensível para uma entrada a um preço acessível.
Tal como incompreensível foi a minha odisseia para comprar a entrada. Primeiro fui à Carbono, depois fui à ABEP, com a senhora do quiosque a perguntar-me se era mesmo na sexta-feira. Pelos vistos, eu devo ser uma pessoa pouco credível. Por fim desloquei-me à FNAC, onde a respectiva senhora deve ter demorado um bom quarto de hora à procura, para depois quase se enganar a vender-me o bilhete da semana seguinte, enquanto eu lhe tentava explicar que era nessa sexta-feira. Já estava quase com vontade de comprar bilhetes para o Lago dos Cisnes no Gelo.

Se esta é, segundo a minha perspectiva, a banda que vai trazer o Death Metal para o mainstream, talvez tenha ainda algum caminho a percorrer. As minhas dúvidas antes do concerto foram totalmente dissipadas. A transposição fiel entre o trabalho de estúdio e a prestação ao vivo deixa para trás algum preconceito que eu tivesse em relação a isso.
As digressões bastante extensas apresentam contudo algumas desvantagens. Para além do notório cansaço, fica-se com a sensação de que aquele concerto é apenas mais um, embora para os fãs seja obviamente especial.
Foi brutal, tal como o whiplash que me atormenta hoje não o deixa esquecer.

Intro: Swan Lake
The Tempest
...And Their Eulogies Sang Me To Sleep
Rise and Fall
Waiting Out The Winter
Martyr Art
Thank You, Pain
Born Dead; Buried Alive
Birds Elope With The Sun
Globus Hystericus
When The Bough Breaks
Forget Tommorrow
Business Suits and Combat Boots
Encore: Trophy Kill

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Havoc

Anne Hathaway, como Allison Lang

Havoc (2005) da norte-americana Barbara Kopple é um filme estranho. Este retrato da enfadada juventude californiana, do apartheid sobre os mexicanos e dos riscos inerentes à irreverência juvenil parece algo moralista. Mas pelo menos, o filme teve a excelente ideia de despir as actrizes Anne Hathaway e Bijou Phillips.

"Oh sim... deixa-te ficar nessa posição!"

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

As guerras são um assunto sério

Poderia parecer algum tipo de desonestidade intelectual da minha parte parte dizer que o resultado no Dragão se deve ao facto do Benfica ter enfrentado uma organização mafiosa. Mas, vamos lá, o FC Porto é a Máfia - um bando de corruptos e uma corja de bandidos.
Agora que isto está esclarecido, vamos prosseguir.
Como organização mafiosa que são, a família tripeira encara o objectivo de ganhar à majestade como uma guerra. Sem lhes interessar se agridem ou matam quem quer que lhes impeça de ganhar dinheiro através de esquemas ilegais. O combate a este tipo de organizações passa por uma atitude audaz e temerária a intimidações, jogos de palavras ou tácitas terroristas. Deve-se responder na mesma moeda. As guerras são um assunto sério.
Uma vez que Portugal se apresenta como o reduto ideal para as organizações criminosas, devido à perda de autoridade do Estado, da impunidade judicial dos indivíduos com poder e da generalização absoluta da corrupção, torna-se mais difícil lutar contra a Máfia. Tal não é impossível, como foi demonstrado o ano passado, quando o Ciclo da Mentira foi quebrado. No entanto, contra a Máfia não se pode facilitar ou corre-se o risco de se ser esmagado.

O Benfica é o campeão nacional. Campeonato ganho de forma absolutamente limpa, apesar da lama que lhe foi e que continua a ser atirada pela invejosa Máfia tripeira. Repondo a verdade que não convém lembrar, os mafiosos ficaram em terceiro lugar, que são dois lugares abaixo do de campeão.
A Máfia opera a um nível insidioso e chega a comprar as equipas com as quais joga, como aquela de Leiria, que por opção, defrontou os tripeiros sem nove dos habituais titulares.
Confesso que já estou um bocado farto da rábula das bolas de golfe, à qual se juntou agora a das galinhas. Se este fosse um país onde a Máfia não governasse e houvesse autoridade de quem seria suposto, o recinto tripeiro seria interditado até ao final da época. Mas claro que a corrupção mafiosa chega a todo o lado.
O tom de gozo reflecte-se na sensação de impunidade da Máfia, que faz com que esta apedreje os seus adversários com o beneplácito das autoridades. Força mental é necessária para lidar com estes tipos. A Máfia é orgulhosa e necessita destas massagens no ego para dar sentido à sua giesta corruptora.

Neste momento, muitos benfiquistas criticam as opções tácticas que desfiguraram a equipa e a atitude de medo que esta levou ao Dragão. Mas isso só influiria no raciocínio se estivéssemos a falar de futebol. Como se trata de uma guerra, que como se sabe, é um assunto sério, a premissa de base é a de que estamos a lutar - o termo é este - contra uma organização mafiosa, e fazer os cálculos a partir daí.
A pergunta que os benfiquistas devem fazer é a seguinte: De que forma é que se combatem organizações mafiosas? A resposta foi encontrada na Itália dos anos vinte do século passado. Um estado assolado pela Máfia, até ao momento em que a doutrina fascista subiu ao poder, com a promessa concretizada de eliminar a corrupção entranhada na sociedade italiana.
Não se ouvem as criticas internas na organização tripeira, uma vez que esta está submetida ao respeito pelos respectivos caporegime. Por outro lado, pertencendo os campeões benfiquistas a um clube plural e majestático, tal não acontece. Mas seria bom existir uma união forte e mais virtude e simplicidade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Purgatório

“Dream Sequence” por Christopher Kenworthy

Sonhei. Talvez anteontem. Andava com o espírito pelas ruas da amargura e penso que terá sido um movimento irreflectido. A maneira do meu cérebro expurgar aquilo que está a mais na minha cabeça. Como quase nunca me lembro dos sonhos, tenho sempre a ideia de que não sou humano e que não tenho essa capacidade. Somente quando as insónias me dão uma folga e eu consigo acordar, lembrando-me de que estava a ver um fluxo de informação neural, é que me dou conta que existe um animal dentro de mim. Os restantes vertebrados também sonham. Sonham com desejos básicos que implicam a sua própria vivência sobrevivente, embora essas memórias não sejam inteligíveis para os humanos.
A partir de um certo grau de consciência, o sonho é possível. Isso acontece mesmo em organismos artificiais ou em máquinas, a partir do momento em que a primeira centelha de vida consciente as anima. Daí que o termo anima em latim, que designa a alma, venha dar origem a palavras como "ânimo" e "animado", no sentido de designar o princípio que fornece força vital aos vários seres.

De volta à realidade tespiana. A minha absoluta capacidade de procrastinar a minha vida até ao mais ínfimo pormenor ameaça corroer-me por dentro, embora essa mesma procrastinação me impeça de fazer qualquer coisa em relação a esse assunto.
Tento encontrar algum sentido na realidade, através desse artefacto
escravocrata chamado televisor e chego à conclusão que no topo da hierarquia social existe um ser ubíquo. Esse está em seis canais televisivos ao mesmo tempo, dizendo as banalidades demagógicas que já se sabia que iria dizer, sendo que a mais ofensiva para a minha própria inteligência e suponho eu, para a maioria dos portugueses que a tal assistem, é a promessa da contenção dos gastos.

Aquilo com que eu sonhei foi com algo que não existia, improvável de vir a existir e agora, devido à minha própria vontade, totalmente impossível de vir a ocorrer. Foi um mecanismo de defesa da minha sanidade emocional, tal como estas palavras, que pacientemente e obsessivamente aqui digito.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Espargata

Sasha Cohen

O que se pede aos portugueses é que estes tenham a capacidade de se conseguirem esticar. Claro que se poderia vender os submarinos recém-comprados, trazer as missões militares de volta do estrangeiro, acabar com o dissimulado offshore da Madeira, com o
salvamento e benefícios fiscais de entidades bancárias, com as parcerias público-privadas, com as empresas municipais supérfluas e com os estudos redundantes de consultadoria.

Poder-se-ia argumentar com a falta de dinheiro a quebra de qualquer tipo de compromisso, mas é mais fácil sangrar os mais fracos, que é o que fracos líderes melhor sabem fazer.

sábado, 23 de outubro de 2010

Karma imediato

Esta semana foi surreal. Desconheço a razão porque me estou sempre a cruzar com raparigas que gostam de brincar com o fogo. Se é a inerente estupidez da raça feminina a causa deste tipo de atitude imatura, ou se existe alguma pulsão magnética da minha parte, que me atrai para esse tipo de pessoas, é algo que não consigo explicar.
A juntar a este problema da coronária, que se resolve com uma atitude racional, foi assistir à consequente desumanização de corações e almas devido à informação e à tecnologia, transformando os indivíduos em armas de destruição maciça, através de uma escolha criteriosa de alvos pessoais.
O ego é determinante naquilo que gostamos ou o que não gostamos. A programação individual ajuda o indivíduo a sobreviver, e numa lógica mais complexa, faz com que uma pessoa tenha um determinado peso na sociedade, segundo os amigos que tem ou que deixa de ter.
O entranhar de uma determinada máfia no tecido artístico e cultural do país tornou a premissa principal na necessidade de pertencer a uma capelinha, onde estão os nossos amigos. Aqueles que nos ajudam, independentemente do nosso talento, uma vez que estas personalidades são egocêntricas e deixaram de ter noção da realidade em que vivemos.

O que nos leva à questão do elitismo. Se a massificação de um produto pode ser quase sempre nefasta para a qualidade do mesmo, a selectividade, ou pior do que isso, a falsa selectividade consegue produzir resultados ainda piores. Por elite entende-se um grupo restrito de indivíduos, dominante no interior de uma sociedade e que detém um estatuto privilegiado, motivo de inveja por quem se situa num patamar inferior.
Mesmo que num momento inicial, o ego jure que não vai modificar o seu comportamento ou a sua postura, a venda da alma ao Diabo e o mel sedutor que este oferece conseguem abalar a postura mais estóica. No fundo, todos queremos aquilo que criticamos, e no fim de contas, todos criticamos aquilo que já fizemos. Criticamos quem canta em inglês, apesar de já o termos feito anteriormente. Criticamos as máfias artísticas, mas vamos lá beijar-lhes o rabo e até sorrimos. Criticamos o estado a que o país chegou, mas é tudo conversa de café, e depois dos nossos quinze minutos de indignação, vamos dormir, que amanhã é outro dia.
Criticamos porque não queremos fazer mais nada e só isso nos resta. Quando finalmente formos chamados à elite, essa grande vaca, cujas tetas alimentam uns poucos privilegiados, ficaremos satisfeitos e encontraremos outra coisa qualquer para criticar suavemente.

Uma laranjeira sofria anualmente com as larvas da mosca da fruta. A partir de uma determinada altura, o dono resolveu não regar os ramos da árvore, como era prática comum, nem usar o aparentemente inútil pesticida. A dita árvore começou estão a apresentar um conjunto elaborado de teias de aranha em quase todos os ramos. As aranhas perceberam que naquele local havia algo para se alimentarem e controlaram a população de moscas, restabelecendo o equilíbrio ecológico, o que veio contribuir para uma safra de laranjas sadias.
As melhores soluções são muitas vezes as mais simples, e quem faz jogos desnecessários por vezes dá-se mal.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cortesia

As cortes medievais estavam associadas ao comportamento educado, mas também à beleza. A palavra corte, que designa a residência de um príncipe, deriva do latim "cortem" (pátio fechado) a partir de "co" (junto) e "hortus" (pátio).
A palavra veio dar origem a cortesia, corte (no sentido de cortejar uma rapariga) e a locais fechados, como aqueles onde se situa os tribunais (inicialmente presididos por um príncipe) ou onde se praticam desportos, como o ténis (court).

Hoje, uma jovem sorriu para mim quando eu lhe agradeci, depois dela parar o carro numa passadeira para eu passar. Quem é que disse que o cavalheirismo já não existe?

domingo, 17 de outubro de 2010

A Serpente do Deserto

Tinha vontade de lhe contar que também estive em Merzouga, embora não tenha andado de camelo, o que equivale mais ou menos a ir a Roma e não ver o Papa, ou que o aspecto mais impressionante de toda aquela paisagem tenha sido o facto de olhar em volta e conseguir ver sempre a linha do horizonte. Das fotografias que tirei voltado para cada um dos pontos cardeais.
Dizia-me uma vez um professor que eu tive, apaixonado por fractais, que os desertos são os locais por excelência de construção de religiões. As maiores religiões monoteístas tiveram a origem nas suas areias, o que não deveria ser de estranhar, pois o nosso mundo apresenta muitas distracções para os sentidos e o ambiente árido e inóspito do deserto torna-se ideal. Ideal para uma pessoa estar sozinha com ela própria e encontrar a resposta dentro de si. Aquela resposta que as pessoas no quotidiano não ouvem, porque estão imersas em ruído e cujo pensamento está a ser constantemente atropelado por solicitações de outros seres, também eles em busca de uma resposta, mesmo que não a tentem ou não a queiram encontrar.

Não nos convém aproximar muito dos tufos de vegetação. A maior parte das coisas que mordem estão aí escondidas. Enquanto isso, observava o trilho de pegadas de um fenec - "C'est un petit renard!", e eu - "Oui, je sais ce qu'est un fenec!". O meu raro sorriso de boa disposição era revelador disso mesmo. Da certeza de que o feneco, como se diz nesta língua, nunca ser motivo de conversa em lado nenhum português e da maior parte das pessoas deste país nem sequer saber que tal animal existe. Assim desconhecendo, torna-se mais fácil odiar o nosso mundo e por extensão nós próprios. Assim desconhecendo, torna-se mais fácil deixar que outras pessoas se alimentem de nós e nos transformem em escravos, porque a imensidão do deserto não faz sentido nenhum para essas pessoas que tentam viver enclausuradas em ambientes claustrofóbicos, como casas diminutas, e que saem para se tentarem divertir em bares diminutos e que provavelmente nem conhecem o vizinho do lado, tornando-se assim mais fácil. Mais fácil odiar.

O fenec só sai à noite. Por razões óbvias, é um animal de hábitos nocturnos como a maior parte das criaturas do deserto e isso desconsolou-me um pouco, pois não iria ter oportunidade de o ver. Já estava entre as areias do deserto desde antes do amanhecer, após ter
ouvido o adhān em Erfoud ainda deitado, e de, em seguida, percorrer num Defender o caminho até à imensidão.
O nascer do sol é uma experiência quase mística e não me ocorre mais nenhum adjectivo para descreve-la. Acredito que qualquer pessoa reavalie determinadas considerações da sua vida depois de ter experimentado o deserto. Na realidade, o imenso é algo que muda a consciência de uma pessoa mesmo que esta não esteja preparada para isso, e geralmente nunca está.
A serpente detentora do
pensamento estava lá comigo. Os cornos da víbora do deserto cortavam Cronos, o tempo, pois o seu serpentear debaixo dos grãos desse oceano de areia era como um deslizar cortante que tocava em todos os seres humanos, grãos desse oceano chamado consciência universal. Ainda hoje guardo os grãos dessa areia.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Seres sem coluna vertebral

Como vem aqui referido, Fernando Seara, o garboso autarca da muy nobre villa de Cintra, afirmou: “Se Gilberto Madail não for candidato, haverá um conjunto de circunstâncias que me poderão levar a reflectir” ou em linguagem matemática:
Madail ≡ [¬ Candidato] => (Circunstâncias ∴ [Reflectir ⊨ Candidatura])
Já tinha visto este tipo de pessoas antes. Estes que não se querem comprometer com nada e que se esquivam que nem vermes por entre os pingos da chuva, para que nada do que afirmem ou deixem de afirmar lhes seja atirado futuramente à cara, por entre essas ténues e delicadas estruturas de poder que dependem de lambe-botas e gente sem coragem que vive da imagem.
Pessoas que gostam de aparecer ao lado de carros de bombeiros, porque o povo gosta de ver tal coisa na televisão e ser constantemente enganado por intrujas deste calibre e dizer que a culpa é de outros.
Dizer que o Madail é titubeante e um invertebrado é quase um elogio, comparado com este miserável que é a vergonha dos sintrenses e a vergonha dos benfiquistas.

Imagem daqui

Adenda: Pelos vistos os presidentes associativos da Federação Portuguesa de Futebol vão todos ver o jogo de Portugal a expensas da mesma.
Talvez a Islândia seja muito longe para pagarem do próprio bolso, e apesar da Utilidade Pública ter sido retirada a esta instituição, os contribuintes portugueses lá encontrarão uma forma indirecta destes marajás se deslocarem aquele país, que isto da austeridade é só para alguns.

sábado, 9 de outubro de 2010

Snake

PJ Harvey, ao vivo no Zenith, Paris (2004)

«You snake you crawled between my legs Said want it all it's yours you bet I'll make you queen of everything No need for God no need for him Just take my hand you'll be my bride Just take that fruit put it inside You snake you dog you fake you liar I've burned my hands I'm in the fire Awooooooh....oooooooohhhh Oh you salty dog you filthy liar My heart it aches I'm in the fire You snake I ate a true belief Your rotten fruit inside of me Oh Adam please you must believe That snake put it in front of me In front of me»
PJ Harvey - "Snake", do álbum "Rid of Me" (1993)

Isto não é uma performance, é uma catarse...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ilusionistas orçamentais

Jelena Jensen

Não acreditem em nada. O Orçamento de Estado é feito com espelhos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Austeridade


Isabel II, a mudar o pneu a um veículo durante a Segunda Guerra Mundial

Hoje a República Portuguesa comemora cem anos.
Apesar de existirem seres humanos que vivem há mais tempo, já está crescida e já podia ir dando o exemplo.

domingo, 3 de outubro de 2010

Bonomia e Falsidade

Existe uma discussão interessante que eu já anteriormente tinha feito comigo próprio, acerca do momento preciso em que os U2 deixaram de ser uma banda. As opiniões variam conforme as pessoas. Com os puristas é após o The Unforgettable Fire (1984) e antes do "sonho americano" Rattle and Hum (1988). Este último, não me envergonho de dizer, foi a primeira coisa que ouvi deles com atenção, e ainda hoje acredito ser o melhor tipo de iniciação, a um tempo longínquo em que estes senhores ainda faziam música.
Criticamente, e sem qualquer tipo de blasfémia, é geralmente aceite a divisão na Santíssima Trindade dos álbuns. Uma primeira fase "irlandesa" (Boy, October e War) produzida pelo inglês
Steve Lillywhite. Uma segunda fase "americana" (TUF, Joshua Tree e Rattle and Hum) produzida por Daniel Lanois e Brian Eno, com uma forte componente imagética de Anton Corbijn, e por fim, uma fase europeia (Achtung Baby, Zooropa e Pop) com uma maior predominância do som do Flood (Mark Ellis) e na qual o infame single "Discothèque" do Pop traçou a linha que já se andava a tentar ultrapassar desde o Achtung, com meta-personagens como a Bono-mica versão do Mefisto, assumida que estava a venda da alma ao Diabo.

Da recente fase (Leave Behind, Atomic Bomb e Horizon) não vou perder muito tempo a escrever, pois é relativamente consensual de que já não estamos
sequer a falar de uma banda, mas de outra coisa qualquer, que serve para enganar as pessoas e que obedece a outro tipo de processos mentais. Bastando seguir o exemplo de "Elevation" (2001) para "Elevation II, a.k.a Vertigo" (2004) e por aí fora.
Mas esquecendo toda esta bonomia, uma vez que, no fundo, o que é um frontman senão uma versão mais elaborada de um pregador religioso, e uma banda senão uma igreja de fiéis, pronta a receber cada vez dinheiro. A discussão que mais me interessa tem a ver com os limites da própria produção artística.
Existe que defenda, e não sem uma certa razão, que esta tropa-fandanga traiu a sua própria criação musical ao abandonar o tema "Sunday Bloody Sunday" entre 1988 e 2001 (a altura do seu desaparecimento enquanto banda) devido ao facto de não conseguirem rivalizar com performances anteriores, devido à componente entretenimento e consequente
perda de significado da letra, bem como da perda do seu aspecto de canção de protesto.

Apesar de eu concordar que o artista só se deve respeitar a si próprio, no que diz respeito à criação artística, toda a música acaba por ser de intervenção, pois uma canção tem um cariz mágico e a música que serve simplesmente para entreter, não deveria sequer ser digna desse nome. S
e insistissem na primeira componente, provavelmente não se encontrariam neste patamar de notoriedade e estariam a fazer companhia a... sei lá, aos Echo & the Bunnymen.
O grande problema de quem não conhece a obra dos U2, ou de quem conhece superficialmente, mas que se arvora em grande defensor da ética musical, é o facto de "Sunday Bloody Sunday" não ser uma "rebel song" ou sequer herdeira da tradicional música de rebelião irlandesa, nem que todos os fogos do Beltane ardessem juntos.
Apesar de fazer referência a acontecimentos de carácter politico-militar, o tema apenas sugere uma resolução da disputa sem violência e sem tomar partido. Algo talvez insípido, mas que Sinéad O'Connor contestou em
"This Is a Rebel Song" (1997).
Em resumo, o politicamente correcto é sempre amigo do sucesso empresarial.

sábado, 2 de outubro de 2010

O Ofídio sente-se Sexy

Sofia Ribeiro, fotografada por Ricardo Quaresma

"Eu sou a primeira e a última, a venerada e a desprezada. Eu sou a prostituta e a santa. Eu sou a esposa e a virgem. Eu sou a estéril e a que muitos filhos tem.
Eu sou o silêncio que é incompreensível. Eu sou a absoluta expressão do meu nome."

Sophia de Jesus Cristo, códice de Nag Hammadi

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Festa de arromba

"Mistress and Servant" (fragmento) por Henning Ludvigsen

O Ofídio comemora um ano de actividade e está-se a cagar para os juros da dívida, para o IVA a 23% e para as medidas de austeridade. Só me apetece rasgar lascivamente o corpo feminino, uma vez que a minha cabeça se encontra atordoada e irrigada de álcool numa ressaca infinita, que morde a sua própria cauda.
Quero agradecer à rapariga caprichosa e insolente que tanto insistiu para que eu tivesse um blogue. Ao longo deste ano, apercebi-me dos três principais objectivos do Ofídio. O primeiro é documentar o colapso, tanto político como social, que nos irá atingir. Em seguida, fazer uma compilação académica dos assuntos que me interessam e por fim, uma tentativa catártica de evacuar aquelas ideias que me atormentam o pensamento e me mantêm acordado. As serpentes nunca dormem.

Obrigado a quem passou por aqui e perdeu algum tempo a ler.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pantomina

Não tenho bem a certeza se de facto é teatro, mas um tipo qualquer de expressão teatral é certo que seja. A designação mais correcta será a de "pantomina" e os que a fazem, um grupo de pantomineiros.
A novela em torno da aprovação do OE 2011 adquire contornos dramáticos. No fundo, Passos Coelho irá aprovar qualquer coisa o que o governo lhe apresente, mas precisa primeiro de mostrar que se consegue diferenciar deste.
Tanto Passos Coelho como a anterior líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, quiseram que o Poder lhes caísse no colo, em vez de o tentarem conquistar. São ambos figuras menores, que foram progredindo socialmente na sombra daquilo que o cavaquismo lhes quis oferecer. Dessa forma, são incapazes de mobilizar as pessoas que hipoteticamente os poderiam eleger, uma vez que é demasiado evidente o seu corte com a sociedade em geral.

Claro que Passos Coelho não pretende que o governo caia, nem quer provocar eleições, nem mesmo deseja entregar o país à ulterior míngua dos duodécimos (ordinal de doze, para quem não sabe português) e do consequente aumento dos juros da dívida. Isso só aconteceria se este realmente estivesse preocupado com a maldade do OE 2011 ou da suposta canalhice em torno da sua negociação, em vez de estar mais preocupado em chatear os portugueses através da comunicação social, através de uma crispação absurda.
Descontando o facto do ministro Silva Pereira ser um spin doctor, que foi à televisão fazer aquilo que lhe competia para manipular essa mesma opinião pública, as declarações extremas de Passos Coelho nunca deveriam ter sido proferidas. Mesmo partindo do princípio que todos sabiam e sabem que é um fogo de artifício no qual já ninguém acredita.

O debate público fica empobrecido e a credibilidade deixa de existir. Passos Coelho tem pessoas suficientes para fazer o seu trabalho sujo, mas as sondagens não lhe são favoráveis e resolveu assim assumir as despesas do combate.
Agora que já conseguiu o seu arroubo mediático, esperam-se os próximos capítulos. Uma vez que já se viu que as acções honestas e não demagógicas não condizem muito bem com este tipo de pantomina política.

Imagem: Seeds of Unfolding

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Observação Lunar

Maki Goto, J-pop Idol

Tsukimi (月見) - "Observação da Lua".
Equinócio de Outono e Lua Cheia no mesmo dia.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O pressuposto da forma como eu vejo as coisas

Quem faz a política são as pessoas, não são os políticos, ou vá lá, os homens públicos. O veneno que existe na opinião pública serve-lhes, mas ninguém os questiona sobre aquilo que realmente importa. Mas claro que existe pouco poder para isso.
Dito de outra forma, vários políticos e manipuladores de opinião gostam de sentir que existem pessoas a pensar a preto e branco para poderem capitalizar a sua doutrina.
A verdadeira discussão é feita por nós, aqui ou em qualquer outro lugar. Podemos mesmo advogar ideias absurdas.

Por fim tenho de frisar que, como é óbvio, não te estava a chamar de louco. Tudo pode ser passível de ser discutido. Não existem assuntos taboo, pelo menos para mim, e o apagar da inteligência, como defendes, não é a melhor forma de lidar com isso, pelo menos na minha opinião.
Mas compreendo perfeitamente que uma pessoa se sinta farta, cansada, exaurida ou com vontade de emigrar. Se não fosses um gajo sensível, não te emocionavas com esse tipo de coisas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Relembrando Jaco

John Francis "Jaco" Pastorius (1951 - 1987)

Passam hoje vinte e três anos da morte de Jaco Pastorius. Provavelmente o mais influente e carismático baixista de todos os tempos, na história da música. Desde que o baixo-eléctrico foi inventado algures nos anos trinta, que nunca houve, e possivelmente nunca mais haverá, alguém com a sua mítica proficiência. A qual pode ser comparada à de Jimi Hendrix em relação à guitarra, e com a semelhança de ambos os músicos terem conhecido um fim prematuro.
Sofrendo daquilo que hoje é dia é reconhecido como bipolaridade, de cujos estados a sua criação musical tem algo a dever, Pastorius abraçou a um dado momento, um tipo de comportamento errático, que o levou ao álcool e aos anti-depressivos, à medida que a sua saúde se ia deteriorando.

Tudo acabou em Fort Lauderdale, na Florida. Jaco tinha sido expulso de um concerto de Carlos Santana, tendo-se dirigido em seguida para o Midnight Bottle Club com a sua excentricidade e temperamento. A sua entrada nesse estabelecimento é recusada, o que faz com que Jaco pontapeie a porta de vidro. Segue-se uma violenta altercação com o porteiro, que resulta em múltiplas fracturas dos ossos faciais e do braço esquerdo, tendo ficando inanimado no passeio durante um certo tempo.
Ao ser levado para o hospital, Pastorius entra em coma, e apesar de uma certa recuperação inicial, uma hemorragia cerebral uns dias depois torna-se fatal. Jaco Pastorius tinha-nos deixado. Tinha apenas trinta e cinco anos.

Jaco Pastorius (with Weather Report) - Portrait Of Tracy

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Lutar pelo Direito de Justiça

O Benfica desafiou um poder que domina o futebol nacional há mais de vinte anos. O Sporting é um actor menor, e quem de facto cerceia o campeonato português é uma canalha que vai desde um velho gaiteiro, passando por um proxeneta, e acabando no "temível" (deve ter algum taco de basebol) consiglieri Pôncio Monteiro. Incluindo ainda "pessoas" como o paneleiro Abreu Amorim ou o inqualificável Guilherme Aguiar. O resultado do Derby foi, e ainda bem, o pior dos resultados que essa corja desejaria.
Fazendo uma análise desapaixonada, o Sporting encontra-se neste momento, na situação em que Os Belenenses se encontravam em 1963-64. Esta equipa tinha ganho o campeonato em 1945 e partir de 1964 (cerca de vinte anos depois) nunca mais ficaria nos quatro primeiros, excepto em 1973, 1976 e 1988, acentuando a decadência com a primeira descida à divisão inferior em 1982.

O facto do Sporting fazer valer o seu estado anímico, tanto dos seus jogadores e dirigentes como dos seus adeptos, pela identificação que fazem com o Benfica, o seu clube rival, faz com que inexoravelmente estejam condenados a serem cada vez mais irrelevantes no futuro. Apesar de todas as benesses que a canalha acima mencionada, por incidência, lhes possa prestar.
Quanto ao Benfica. Após ter ganho o campeonato passado com o futebol mais espectacular dos últimos vinte anos (nem a pressão alta do losango portista de Mourinho jogava com esta criatividade) vê-se este ano a braços com a ainda maior necessidade de ter de lutar contra as equipas adversárias, mais as equipas de arbitragem nos jogos próprios, mais as equipas adversárias que vão facilitar os jogos do FC Porto e mais as equipas de arbitragens destes.
Os roubos são à vista de todos e sem nenhuma vergonha.

A guerra deste ano vai ser renhida e acredito que se chegue a um ponto de extremos, em que toda a comunicação social (que na maior parte se encontra enfeudada) se irá perguntar como foi possível aí chegar. Uma vez que o poder político, como se já viu, não ter interesse em resolver este problema e o poder judicial se apresentar manietado por pormenores técnico-jurídicos. Apesar de todos os portugueses saberem quem é a corja responsável pela corrupção, nada se faz para inverter a situação.
Quanto ao jogo em si, o Derby foi como sempre, um momento de bela rivalidade (que não existe por parte do FC Porto, pois estes só demonstram ódio, inveja e mediocridade) e apesar da falta de educação dos adversários não dar o devido mérito ao Benfica pela vitória, o ânimo nunca esmorecerá. Mesmo que a canalha nos tente tirar o sangue.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Da Inutilidade de um Antro

Heather Rae Young, fotografada por Josh Ryan

A Playmate é o modelo feminino que aparece todos os meses nas páginas centrais desdobráveis da revista Playboy, sendo designada por "Playmate do Mês". 40% delas são louras e o signo astrológico mais comum é Virgem.
Aqui estão mais algumas curiosidades irrelevantes acerca delas.

Estatísticas vitais:
Mais nova: Elizabeth Ann Roberts, Janeiro 1958 - 16 anos e cinco meses (a partir de 1984, o limite mínimo passou a ser 18 anos).
Mais velha: Rebecca Ramos, Janeiro 2003 - 35 anos e cinco meses.
Mais alta: Cara Michelle Meschter, Dezembro 2000 - 6' 2'' (1,88m).
Mais baixa: Sue Williams, Abril 1965 e Karla Conway, Abril 1966 - ambas com 4' 11'' (1,50m).
Maior peito: Rosemarie Hillcrest, Outubro 1964 - 41'' (36DD).
Menor peito: Karen Elaine Morton, Julho 1978; Anne-Marie Fox, Fevereiro 1982 e Kyra Milan, Março 2010 - todas com 34'' (32B).
Índice de Massa Corporal (IMC) - Por volta de 1960 era de 19,4 e passou para 18,2 em 2008 (O normal situa-se entre os 18,5 e os 25).

Ornamentos:
Tatuagens visíveis: Jennifer LeRoy, Fevereiro 1993; Jennifer Miriam, Março 1997; Kalin Olson, Agosto 1997; Jodi Ann Paterson, Outubro 1999; Jennifer Walcott, Agosto 2001; Aliya Wolf, Fevereiro 2004; Kia Drayton, Dezembro 2006; Jayde Nicole, Janeiro 2007; Jennifer Campbell, Dezembro 2008; Jessica Burciaga, Fevereiro 2009; Jaime Faith Edmondson, Janeiro 2010 e Heather Rae Young, Fevereiro 2010.
A primeira com piercings: Gillian Bonner, Abril 1996 (umbigo).
A primeira com o púbis rapado: Dalene Kurtis, Setembro 2001.

Notoriedade:
Ícones:
Marilyn Monroe, Dezembro 1953; Bettie Page, Janeiro 1955; Jayne Mansfield, Fevereiro 1955; Dorothy Stratten, Agosto 1979; Pamela Anderson, Fevereiro 1990 e Anna Nicole Smith, Maio 1992.
Cinema e Televisão:
Stella Stevens, Janeiro 1960; Cynthia Myers, Dezembro 1968; Claudia Jennings, Novembro 1969; Martha Smith, Julho 1973; Shannon Tweed, Novembro 1981; Roberta Vasquez, Novembro 1984; Erika Eleniak, Julho 1989; Petra Verkaik, Dezembro 1989; Jenny McCarthy, Outubro 1993 e Victoria Zdrok, Outubro 1994.
LGBT: Stephanie Adams, Novembro 1992.
Pornografia hardcore:
Teri Weigel, Abril 1986.
Miss Estados Unidos: Shanna Moakler, Dezembro 2001.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A pocilga do futebol português

Ao contrário do que parece, tudo começou com Laurentino Dias. Foi ele quem prometeu aos portugueses (promessa em que nunca acreditei) que a selecção nacional, comummente conhecida como Portugal, poderia ir tão longe neste mundial como foi no mundial de 2006, ou seja, estabeleceu a meta, e consequentemente o objectivo das meias-finais. O que sendo muito bom para intoxicar o Povo, não deixa de ser de um irrealismo atroz.
Bem sei que Sócrates também fez aquela promessa dos não-sei-quantos milhares de desempregados, perdão... de empregos, mas esta era muito melhor.
E que aconteceria se não cumpríssemos esse objectivo? Sim, porque a selecção somos todos nós. Todos nós é que falhámos e não apenas jogadores como o Hugo Almeida, que usam a selecção para se promover. A resposta ao que aconteceria foi dada na forma de um processo que o dito secretário "achou" na sua gaveta, e que utilizou como injusta causa para que alguém pagasse o devido, neste caso Carlos Queiroz, segundo aquelas campanhas lamacentas que os políticos tão bem sabem construir.

Agora que o processo terminou e Portugal pode alegremente perder sem a influência queiroziana, este secretário pode permitir-se de ter a aleivosia em declarar que o futebol, apesar de ter regras próprias (assim, género feudo medieval) tem de se submeter às regras do Estado de Direito, essa ficção controlada por máfias e interesses corporativistas que o senhor secretário conhece tão bem, nem que seja pelo pocilgal ajuntamento aos senhores do apito dourado e por aquelas abjectas comparações do futebol com o andebol, o basquetebol e por aí fora (quanto se trata de realidades diametralmente opostas, desde a cultural - a bola - até à financeira, onde se contam as receitas em milhões).
Infelizmente, dinheiro esse, quase sempre gerido de forma mafiosa com o beneplácito do governo.
Por isso, trata-se de uma questão de justiça considerar essa pessoa como persona non grata. Alguém tinha de dar o primeiro passo, e qualquer um que tenha estado dentro de um lamaçal, sabe bem que os passos que por lá se dão, são difíceis de dar.

Imagem de "Le Cochon Danseur", 1907

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Abertura de hostilidades

Foi triste de ver em Ponte de Lima algumas pessoas do bom e generoso povo a quererem cumprimentar o candidato Cavaco Silva e a serem afastadas de forma determinada pelos seguranças do outro, o Presidente da República, que tal como os motoristas e o resto da comitiva, são pagos pelo erário público (não que isso me cause grande problema. Para isso teria de falar nas vezes que Edite Estrela usou os fundos camarários para fazer campanha, ou nas vezes que Carlos César inaugurou uma obra regional enquanto estava em funções).
Não percebo muito bem a indignação em torno da incapacidade de argumentação de Cavaco em relação a quem o critica (contraditório que é feito de forma esplendorosa pelos seus cães de serviço). Alguém que sempre foi ideologicamente neutro e que se procura resguardar de qualquer polémica, nunca iria entrar num debate que não pode ganhar. Para além da sua posição social lhe dar uma alavanca moral sobre os vulgares cidadãos.

Todos sabem que Manuel Alegre é um pobre pecador, que sofre de vaidade e que gosta de caçar. Mas para o bem e para o mal, quer se goste ou não dele e apesar das hipérboles do seu discurso, Alegre é o candidato da Esquerda (os comunistas também o percebem, agora que o Avante deste ano terminou e as trombetas dos sovietes deixaram de tocar).
Assim, o grande receio de Cavaco é que o lastro de Esquerda da sociedade, historicamente mais pesado do que o de Direita, acabe por levar a melhor sobre ele. A ordenha já começou.

Este texto da Fernanda diz quase tudo.

domingo, 12 de setembro de 2010

Viagem ao Érebo

Senti-me como que absorto pelos meus pensamentos passados para papel. Precisava de entender o facto do toque ser frio e absoluto como uma caligrafia bem estruturada.
O caminho descia por uma escuridão cada vez mais intensa, e nem um deus da morte conseguiria imaginar uma escuridão mais negra do que o preto, mas ali estava ela à minha frente. No entanto conseguia vê-la, a essa escuridão, como se a ira de Beleth me tivesse amaldiçoado durante a sua rebelião frustrada e agora o olho monstruoso, que actua como espião desse demónio, conseguisse por sua vez, também ver o meu fracasso. O fracasso em conter as minhas emoções.
Eu, que deveria tomar decisões perfeitamente racionais, tal como se espera de um ser da minha raça. Mas em vez disso, deixava-me inebriar pelas canções de Megara.
Aproximei-me do fim do caminho. Pequenos cristais reluziam à minha volta, abatendo um pouco a escuridão antes desenhada, até que vi uma figura imponente encimando uma barca funesta, que lentamente se deslocava para a margem.

Essa figura era um velho andrajoso que vociferava, num clamor que enchia o mundo tenebroso onde nos encontrávamos, sobre o facto de eu não ter motivo ou razão para estar ali, diante dele. As sombras dos mortos gemiam em prantos indescritíveis ao nosso lado, embora nenhuma delas se atrevesse a colocar um pé que fosse nas águas corrosivas do Estige.
Eu sabia que o barqueiro era irascível, mas sentia-me determinado em prosseguir o meu caminho. Necessitava de encontrar os três juízes. Talvez Éaco ou Minos me pudessem aconselhar sobre a melhor opção a tomar, ou que dissessem algo que atenuasse a minha miséria. Nem que para isso tivesse de ir a um lugar de onde nenhum ser vivo tivesse estado antes, exceptuando talvez os heróis lendários.
- Só transporto sombras que tenham um óbulo para fazer o pagamento! Dizia-me com gravidade, Caronte. - Para além disso, tu não estás morto... o teu lugar não é aqui!
- Também não estou propriamente vivo! Respondi. - Quanto ao pagamento, penso que só se apropria às sombras.

Lembrei-me que Orfeu tinha tocado uma canção emocionada com a sua lira, para convencer Caronte a transporta-lo, aquando da sua descida aos infernos em busca da sua amada Eurídice. Mas apesar de, tal como Orfeu, eu deter o conhecimento da serpente, aquilo que eu pudesse tocar dificilmente convenceria Caronte. Uma vez que se assemelhava mais ao ribombar de um trovão, do que às linhas melódicas e perfeitamente harmoniosas do filho de Apolo.
Ao inclinar-se na minha direcção e olhando mais de perto para a minha cara, a expressão do mórbido barqueiro alterou-se, revelando surpresa. Acedeu a fazer a travessia e atravessámos as águas negras do rio do ódio sem este ter proferido qualquer palavra.
Ao chegarmos ao Mundo Inferior propriamente dito, agradeci ao barqueiro, que já se encaminhava para a outra margem e voltei-me para subir uma leve elevação que dava para uns portões lúgubres e estudar a melhor maneira de encarar o demónio Cérbero.
Este demónio do poço podia ser aterrorizante e bastante feroz. No entanto, recebeu-me como um cão que recebe o dono, e foi então, que finalmente percebi a razão da surpresa de Caronte.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dão-se alvíssaras

Bastet, representando um dos sete pecados (a Vaidade)

Agora sim... vale a pena procurar a carrinha dos Xutos!

domingo, 5 de setembro de 2010

Ser Grande

José Torres (1938 - 2010)

Fascina-me a bondade existente nas pessoas que são seres humanos completos, e cujos actos em relação ao próximo reflectem esse estado de espírito.
Com ele desaparece uma ideia, para mim romântica, de selecção nacional.

Um dos preceitos do código dos samurais - o bushidō - é a Benevolência (jin). O ideograma que representa esta virtude (仁) mostra um homem que liga o Céu e a Terra. O verdadeiro gigante é o gigante da alma.

sábado, 4 de setembro de 2010

Se um geógrafo incomoda muita gente...

Apraz-me dizer que o ataque pessoal que passa pelo desrespeito por uma classe inteira de profissionais é no mínimo, triste e ridículo. Claro que existem articulistas miseráveis, mas obviamente não os vou remeter a todos ao mesmo epíteto, por causa deste mísero texto de Bernardo Jardim Fernandes, doravante referido como "o ignorante".
Obviamente que o ignorante levou várias respostas, como esta, sobre o que é ser geógrafo. Eu, pela minha parte, escuso de ser educado e formal na minha escrita.
O ignorante resolveu fazer um ataque pessoal ao geógrafo Raimundo Quintal, uma voz crítica do ordenamento do território madeirense. A forma que o ignorante regional usou para o fazer, foi faltar ao respeito aos geógrafos. Este não sabe que a Geografia é uma ciência à qual se deve respeito, não só intelectual, mas também filosófico. Que a mesma se situa na charneira do conhecimento científico, e como tal, necessita da contribuição de vários saberes para atingir o seu objectivo: Responder à pergunta "onde?".

Mas de que interessa aos geógrafos e restantes técnicos do território fazerem os seus estudos, análises e diagnósticos? Se existe uma elite corrupta que predetermina esses mesmos resultados, com base nos seus próprios interesses mesquinhos, que desprezam a competência técnica dos geógrafos e o bem estar da população. Essa mesma elite corrupta que o ignorante defende (afinal, ele é um social-democrata madeirense) ao atacar o incómodo geógrafo que, chatice das chatices, está sempre na televisão, a criticar as (más) decisões de planeamento e ordenamento territorial.
A falácia da argumentação do ignorante em relação ao "geógrafo especialista em alguma coisa" é atroz, e quanto ao "ensurdecedor silêncio das dezenas de investigadores da Universidade da Madeira e das centenas de técnicos da Administração Pública Regional sobre estes assuntos?" já aqui expliquei um pouco como funciona a sociedade madeirense, por isso estamos conversados.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É a Demografia, estúpido!

No Jornal das 9 da SIC Notícias, o populista e demagogo Luís Filipe Menezes contrapôs habilmente a opinião de Helena Roseta, quando esta denunciava a actividade de alguns sectores mais conservadores da sociedade norte-americana na manipulação da opinião pública. Esse iluminado descreveu essa mesma sociedade como sendo "muito aberta", devido ao facto de "ter eleito um presidente negro". Algo que, pasme-se "seria impensável na Europa... uma república europeia, eleger um presidente negro".
Esta táctica costuma ser bastante utilizada pelos demagogos. Comparam-se realidades diferentes e em seguida extrapola-se uma conclusão falaciosa, para dar mais força à argumentação dúbia que se apresenta.

Comecemos então pelo início. Desprezando as monarquias constitucionais da Bélgica, Espanha, Dinamarca, Países Baixos e Suécia, as repúblicas europeias onde habitam negros são: França, provavelmente cerca de 1.500.000 indivíduos (2,29% da população), a Itália 750.000 (1,25%), a Alemanha 500.000 (0,6%), Portugal 150.000 (1,4%) e a Irlanda 45.700 (1,1%). Nos restantes países o valor é ainda mais residual.
Comparando esta realidade com os Estados Unidos, onde residiam há uma década atrás, data do último censo, cerca de 36.600.000 indivíduos (12,3% da população) facilmente percebemos que a verdadeira razão nada tem a ver com a propalada abertura da sociedade ou da falta desta.

Imagem do Público

domingo, 29 de agosto de 2010

Libelo contra vós (cambada de demagogos)

Por esta altura, já todos deveríamos saber que a medida de expulsão dos ciganos em França é populista e que Sarkozy está simplesmente a fazer o que a massa eleitoral que votou nele espera que ele faça. Os pensadores que gostam de pensar de si próprios que são progressistas e que torcem o nariz (porque torcer outro tipo de apêndices anatómicos é substancialmente mais doloroso) a esta medida nada cosmopolita, são apanhados numa armadilha intelectual, ao considerar o político acima mencionado, como um trauliteiro bárbaro e tirânico, que comanda um estado policial.
Ainda por cima, valha-nos o iluminado Nosso Senhor Voltaire, numa nação conhecida pela sua cultura, mas cuja contribuição cultural para o mundo, hoje em dia, é anedótica.

Apesar disso, os pensadores metropolitanos elogiam a cultura francesa, cujo conhecimento usam abundantemente como expoente máximo de snobismo e de superioridade intelectual sobre os pobres desgraçados suburbanos, que nunca viram um filme do Jacques Tati, leram Sartre ou ouviram um disco de Georges Brassens.
De resto, a comunidade blogosférica tem trazido à colação o manouche lendário do guitarrista Django Reinhardt (por razões óbvias) embora sem dar o mesmo destaque ao triveleiro artista (de qualidade substancialmente inferior) Ricardo Quaresma, que agora labora na Turquia (com o mesmo número de ciganos do que a Roménia, embora mais diluídos na população). País que felizmente não pertence à União Europeia.

"Os países mais centrais da Europa", dos quais os ciganos foram sendo "empurrados", não devem ser a França (cerca de 500 mil ciganos) nem a Hungria (mais de 200 mil) ou mesmo a Itália (130 mil) ou a Alemanha (70 mil). Um erro demográfico e demagógico, perfeitamente compreensível no calor do combate aos pensadores romanófilos.
Para essa fauna, os ciganos são todos como Joaquím Cortés ou Bajram Severdžam e vivemos todos num mundo onde defender os oprimidos e os coitadinhos faz parte do nosso próprio código genético porque fica bem. Finalizo esta reflexão com a óbvia descrição de uma experiência pessoal.

Quando era gaiato, eu e um grupo de gaiatos da minha idade jogávamos à bola com os filhos gaiatos de uma família cigana, que se veio a "instalar" num edifício onde anteriormente funcionava uma comissão de moradores. Daquelas que funcionavam no pós-25 de Abril e que posteriormente se dissolveram.
Apesar de se terem tentado integrar, os ciganos sempre foram vistos com desconfiança pelos restantes vizinhos, que torciam o nariz (porque torcer outro tipo de apêndices anatómicos é substancialmente mais doloroso) à sua presença no bairro.
Talvez isso se devesse ao facto de estes viverem na sua própria sociedade, em vez de viverem à margem da nossa, como acontece com os toxicodependentes ou os criminosos, e de se auto-ostracizarem devido a isso.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Em Porto Santo chama-se Phoenix canariensis, noutros sítios chama-se nepotismo

Não percebo a razão de ser da tristeza ou da revolta que existe pelo facto de algumas pessoas serem assassinadas por outras, uma vez que tudo está alinhado para que tal ocorra dessa forma.
Seja num incêndio florestal que apanhou algum inocente que o apagava, ou das coisas que acontecem na Madeira, estas ocorrências vão-se repetir ciclicamente sem que existe alguém que assuma a sua quota de responsabilidade.
A responsabilidade acaba por ser de todos aqueles que resolvem ignorar o bem estar do seu semelhante, ou dito por outras palavras, o peso recaí sobre todos nós, que no fundo, fazemos um tipo de indignação teatral para depois deixarmos tudo na mesma.
O nepotismo é um tipo de favoritismo concedido a familiares ou amigos, sem qualquer valorização do mérito. Esta falta de ética da sociedade portuguesa atinge o seu expoente máximo na Madeira, uma vez que esse microcosmos é governado quase sem limitações por aquilo que em qualquer lado se designaria por elite corrupta, mas cujas teias de poder nacional impedem que se designe propriamente devido às consequentes ameaças de difamação e ostracismo.

Caso as pessoas em posição de responsabilidade fossem escolhidas pela sua competência e pelo seu mérito, em vez de serem escolhidas pelo cartão partidário, amizade pessoal ou outro tipo de requisitos dos meios populacionais pequenos (esta escala refere-se tanto a Porto Santo como a Portugal) então teríamos finalmente chegado ao século XXI e à convergência europeia.
Mas os portugueses não querem isso. Como pessoas transformadas em ovelhas, vão paulatinamente dando a sua quota de carne aos assassinos voluntários ou involuntários que periodicamente alternam no Poder, e deste modo, os cardeais-sobrinhos vão minando o serviço público enquanto as ovelhas balem. O que vale é que sempre vão caindo umas arribas ou umas palmeiras, senão muitas mais baliriam.

Imagem do Sims. Parece real, mas serve para brincar. Tal como a vida das pessoas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ruivas

Rachel Hurd-Wood, como Laure Richis

Existe algo nas mulheres com o cabelo da cor do fogo que é difícil de explicar. A própria mitologia em torno do tema transformou-as em seres temperamentais e provocantes, cujo desejo sexual animalesco era incontrolável e abalava as fundações das sociedades onde estes indivíduos eram a excepção à norma.
Analisando este tema de uma forma mais científica, chegamos à conclusão que anda tudo à volta de percentagens diferentes de feomelanina e eumelanina, bem como dos genes recessivos do cromossoma 16, o que parecendo mais prosaico, não deixa de ser intrigante.

Provavelmente, o único livro que li, do qual não vi a respectiva adaptação cinematográfica, seja "O Perfume" de Süskind. A minha opinião em relação ao livro é ambígua. Apesar de conter uma narrativa bastante atractiva e cativante (com uma magnífica descrição de paisagens, tanto visuais como olfactivas) o facto de ter aquele final inusitado fez com que me deixasse pouca consideração por essa obra literária.
Mas no fundo, o que é um final? Será um embrulhar literário na descrição de uma viagem (tanto física, como num certo sentido, espiritual) que se vem prologando ao longo do livro, ou este Gainax Ending era suposto ter algum sentido, já que se desenrola no mesmo local onde a história começa, fechando assim o círculo e rematando uma conclusão ao protagonista assassino?

Na demanda em busca do perfume perfeito, que leva o assassino até junto de Laure (cujo cheiro o faz relembrar a sua primeira vítima) é revelador o facto de ambas as jovens serem ruivas e terem um cheiro diferente das restantes personagens.
Essa fragrância suave, entre a brisa marítima, o óleo de noz, os ramos de nenúfares e as flores de damasqueiro, excitava as células olfactivas do protagonista e diferenciava tal aroma dos restantes odores banais ou repugnantes.
Neste caso, mais do que a inocência, a beleza ou o suposto aspecto temperamental, está a raridade e o requinte primoroso da rapariga ruiva, que inexoravelmente atrai o assassino, no seu comportamento amoral, ao seu destino quase divino, de espalhar o amor. Fabricando a feromona mais potente a partir da sua essência ruiva, cuja simples gota é suficiente para desencadear uma orgia entre milhares de pessoas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Triscaidecafobia

Triscaidecafobia designa uma superstição irracional com o número treze. Especialmente a referência ao dia do mês, considerado aziago se calhar a uma sexta-feira.
A origem desta crença é incerta, embora se acredite que seja devido a uma transgressão do número doze, que representa a completitude das coisas, como as noções temporais de relógio (12 horas) e de calendário (12 meses). Existe ainda uma ligação com a tradição cristã, devido ao facto de Cristo ter sido crucificado a uma sexta-feira, e de na última ceia estar rodeado por doze apóstolos.

Apesar disso, a tradição pode estar relacionada com um mito nórdico, onde as sacerdotisas de Friga, a deusa da fertilidade e do princípio feminino e maternal, são escorraçadas para o topo de uma montanha e consideradas como bruxas, após a conquista pelo Cristianismo, do norte da Europa.
No dia consagrado à deusa Friga, que era sexta-feira (friday) as sacerdotisas reuniam-se em números de treze, para conjurar sobre o destino do povo cristão. Estes últimos eram uma sociedade patriarcal, adoradora do Sol Invictus chamado de Cristo, e que combatia as sociedades matriarcais do paganismo, que se baseavam nos treze ciclos anuais da Lua.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Festas e romarias *

A praga dos incêndios florestais está de volta. O problema já foi amplamente estudado e as suas soluções são públicas e conhecidas, embora os responsáveis governativos continuem a assobiar para o lado enquanto esta calamidade acontece de forma periódica.
Existe uma falta de política florestal. Nenhum governo, desde que eu me lembre, conseguiu responder à pergunta: O que é que nós queremos para a nossa floresta?
Sem a definição de uma política concreta, restam as empresas de celulose, que podem plantar as suas monoculturas livremente e o absentismo dos muitos proprietários rurais, entre os quais está o próprio Estado.
A composição da floresta portuguesa é o factor que mais influência os incêndios que nela ocorrem. Segundo dados de 2001, cerca de metade é constituída por Pinheiro-bravo (Pinus pinaster) com 29,1%, e por eucaliptos, nomedamente o E. globulus, com 20,1%. Estas árvores são utilizadas pela indústria do papel e da celulose devido ao facto de apresentarem um crescimento rápido em relação às outras espécies.

As árvores que faziam parte da floresta autóctone, como os carvalhos (Quercus spp.) ou o Castanheiro (Castanea sativa) perdem cada vez mais a sua importância, em virtude da ganância das empresas de celulose, cujos administradores vão "saltando" entre os concelhos de administração dessas mesmas empresas e os cargos de secretário de Estado e de director geral das Florestas, no Ministério da Agricultura.
Como da parte dos responsáveis pela Agricultura não existe o mínimo interesse em resolver este problema, resta aos ministros da Administração Interna (actualmente Rui Pereira, e anteriormente António Costa) enfatizarem a miríade de meios aéreos e terrestres (adquiridos por um Estado endividado) à disposição e aparecerem com uma cara muito consternada nos funerais de bombeiros que se irão realizar por esse país fora.

* como vem referido aqui: "O titular da pasta da Administração Interna insistiu ainda para que os portugueses tenham comportamentos correctos, nomeadamente no próximo fim de semana, altura em que são previsíveis altas temperaturas e centenas de festas e romarias por todo o país."

Imagem daqui

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O verão de Liliana

Liliana Queiroz

Sempre foi uma estrela em ascensão, conseguindo retirar da exposição do seu corpo a melhor vantagem para o sucesso mediático. Desde que vi umas pernas que nunca mais acabavam, quando ela ganhou a eliminatória nacional de Miss Playboy TV, que achei que ela iria ter sucesso.
Esse sucesso foi confirmado, já com um novo peito, no Playboy TV internacional (ou latino-americano, já que existe sempre esse estereótipo nos Estados Unidos) que acabou por vencer.
Desde essa altura que Liliana tem participado em algumas séries televisivas nacionais, certamente de bastante audiência, mas de qualidade duvidosa. O que me faz pensar que talvez seja necessário algo para dar o salto.

Passo a explicar. Desde que a espanhola Samantha Torres entrou para as páginas da Playboy em meados dos anos noventa, que desejei que Portugal tivesse a massa crítica suficiente para atingir esse nível.
Hoje em dia, apesar de Liliana Queiroz já ter ultrapassado esse patamar, ainda continuo insatisfeito. Talvez tenha algo a ver com a pequena dimensão portuguesa.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Flor da Elegância

Todos sabem que o mês de Agosto é complicado. Os corpos pedem desejo uns pelos outros e os olhares derretem qualquer hipótese daquela compostura que o cérebro analítico demorou anos a construir em milénios de evolução.
Que o facto de sentir um certo tipo de emergência visceral seja sintomático da época, tal como os cafés acabarem por ser os espaços sociais mais apetecíveis nas cidadelas periféricas.
Estava assim de pé, encostado de costas para o balcão. Naquela pose tão característica dos humanos. Que não se importam de permanecer nesta posição enquanto analisam as jogadas de entrosamento futebolístico de um qualquer troféu de pré-temporada. Ao mesmo tempo que, descontraidamente, bebem dois decilitros de cerveja de cada vez.

Ela passa de uma forma altiva, dir-se-ia mesmo, quase arrogante e senta-se cruzando as pernas. Sem passar para fora nada do que a estóica compostura não queira. Mas ao mesmo tempo, esta empertigada rapariga lança um olhar e nesse olhar está a chave de todo um desejo feminino interior. De ser rasgada, de pagar por toda aquela altivez, que a coloca num estado de aparente inacessibilidade ao comum dos homens, transformados pelo próprio desejo em animais, que a querem possuir, de forma dir-se-ia mesmo, quase violenta, para depois ela, assim ofegante, olhar para o próprio cruzar de pernas. Mas desta vez, cheia.
A sua pose é esbelta, sendo que ela é praticamente da minha altura. Tem uma agradável tez morena, agora mais bronzeada do que o habitual e uns belos e ondulados cabelos negros, amarrados estoicamente e coroados de lado por um fascinator em forma de flor... e essa flor é uma dália negra.

O nome dela significa esperança. No cruzar de pernas quando se senta na cadeira. Ela está sentada mesmo na minha frente, quase colada ao televisor, onde inexoravelmente continua a decorrer o mesmo jogo que eu analisava anteriormente de forma tão logarítmica.
De vez em quando vira-se para trás, como quem ouve alguém conhecido no fundo do café e olha pelo canto do olho. O seu ego feminino está em ebulição e então levanta-se e desloca-se para onde estou, para pedir os mesmos dois decilitros que eu bebo vagarosamente, e aproveitar para comunicar com o corpo.
Nesta fase, a sua capacidade de atrair o vulgar macho jovem reveste-se de primordial importância. Tudo na sua postura concorre para esse desígnio. Desde a dália negra no seu cabelo ao vestido cai-cai, que revela somente o começo de um peito firme e o final das pernas esguias.

Ela levanta-se agora em direcção à casa-de-banho, mas fica no cubículo de acesso. Em frente a um lavatório e a um espelho. Passando as mãos pelo cabelo, como se estivesse a compor-se. Ela está à minha esquerda, a um par de metros de mim. Perto o suficiente para vê-la a olhar pelo espelho, ao mesmo tempo que na sua cabeça, se forma o mantra "olha para mim... olha para mim..." à espera da confirmação última da sua capacidade feminina de provocar desejo e a sua maior aspiração momentânea enquanto fêmea e mulher.
Ao fim do que pareceu quase uma eternidade, resolvi mesmo olhar para ela. Porque é isso mesmo que se espera do ethos masculino. O que de imediato, lhe fez esboçar um sorriso.
Depois de ter esta pequena vitória, a rapariga da dália negra, cujo nome significa esperança, abandona o espelho e volta-se a sentar no seu lugar.