Deve ter ocorrido a Pedro Passos Coelho que poderia usar crianças para apelar à emoção dos contribuintes portugueses e fingir que é um ser humano. Se o realizador do vídeo do Kony também o fez, para promover a invasão de forças armadas americanas na África Central, e se o falecido Sócrates também as utilizou na distribuição dos seus Magalhães, porque razão ficaria o actual Primeiro-ministro impedido de utilizar a manada infantil para a sua propaganda demagógica? Tudo bem empacotado e servido pelos jornalistas da RTP, numa aprazível tarde primaveril. Tal ideia maquiavélica deverá ter sido de Miguel Relvas, o ministro da Propaganda, que se encontrava a fazer o seu serviço no parlamento, a entreter os deputados, enquanto Passos Coelho se entretia com as criancinhas. Deixai ir a ele as crianças, que Pedro já não se sentia tão messiânico desde a campanha eleitoral. Os petizes foram escolhidos a dedo, e não lhe faziam perguntas incómodas, apesar de um deles, quando questionado sobre onde iria passar férias, lhe ter dito que iria ficar em casa. Ao que, espantado, Pedro-o-Passos-Coelho retorquiu questionando-o se não seria melhor sair para a rua... passear. Passos Coelho gosta de pessoas na rua.
No dia seguinte, em pleno Chiado, a fotojornalista Patrícia Melo seria brutalmente agredida por um polícia, durante a manifestação marcada para o dia da greve geral contra as medidas de austeridade. Encontrava-se a fazer o seu trabalho quando um cão de guarda resolve mostrar que não gosta de pessoas na rua, a não ser que estejam numa posição de submissão. O olhar assassino de Macedo, o ministro da polícia, não deixa dúvidas sobre como as pessoas devem ser tratadas e a propaganda de Relvas dirá às televisões o que estas devem noticiar. Sem medos. Reprima-se com vontade. Sadicamente. A mensagem está dada. Aquilo que ficará na mente do cidadão obediente é a tarde de Passos Coelho com as criancinhas. Os feridos desta tarde são, segundo a RTP, "todos manifestantes". Nenhum polícia, nem nenhum turista. Os manifestantes são apenas terroristas, quiçá de Toulouse, que tudo fazem para que o grande esforço nacional "custe o que custar" não dê resultado. Passos Coelho encolherá os ombros e dirá que são tácticas sujas da oposição. Jogo desonesto. Que é necessário que o santo mercado funcione, para que possa proporcionar prosperidade para aquelas criancinhas.
Imagens: António Cotrim/LUSA e Hugo Correia/REUTERS
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