quinta-feira, 24 de junho de 2010

Trombas murchas

Para um campeonato realizado em África, a primeira consideração que aqui escrevo é sobre o facto de quase nenhuma das equipas africanas em prova, ter sequer passado da fase de grupos. Honra que foi salva pelo Gana, que mesmo sem o Essien, conseguiu demonstrar um bom futebol.
As equipas deste continente sempre foram um chamariz dos Campeonatos do Mundo, apesar do seu futebol pouco evoluído nunca ter permitido que fossem mais além. De qualquer modo, sempre existiu desde 1986 um representante africano a passar a fase de grupos.
Em 1986, foi Marrocos, que estava no então grupo de Portugal (que ficou em último lugar desse grupo) e que foi eliminado nos oitavos pela Alemanha.
Em 1990, os Camarões, do então quase quarentão Roger Milla. Após terem despachado a Argentina de Maradona e a Roménia de Hagi na fase de grupos, ainda eliminaram a Colômbia de Higuita e Valderama nos oitavos, tornando-se assim, a primeira equipa africana a chegar aos quartos-de-final da prova. Sendo eliminados nos quartos, contra as minhas expectativas, pela Inglaterra, após prolongamento. Apesar de tudo, foram provavelmente a equipa mais entusiasmante e original desse mundial.
Após este mundial, o ganês Nil Lamptey, na altura com dezassete anos, era considerada a maior esperança do futebol. A quem era augurado, à época, um futuro maior do que o do Pelé, o que a sua posterior carreira errática não veio a confirmar.

Em 1994, a Nigéria, que iria ser a vencedora dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e que apresentava a sua geração de ouro. Apesar de praticar um futebol demolidor, foi eliminada nos oitavos, por uma Itália calculista, que entendia perfeitamente o conceito, algo estranho para os nigerianos, de disciplina.
Em 1998, novamente a Nigéria. Desta vez cilindrada, novamente nos oitavos, desta vez por quatro bolas a uma, por uma Dinamarca bastante pragmática, que ensinou aos nigerianos o valor do descanso antes das partidas (não se pode dizer que tivessem aprendido grande coisa desde o mundial anterior).
Em 2002, o Senegal, que depois de ter mandado o colonizador francês e equipa detentora do título, para casa, na fase de grupos, ainda eliminou a Suécia, para então cair aos pés de uma surpreendente Turquia nos quartos.
Em 2006, o Gana, que apesar de possuir jogadores que corriam desalmadamente durante os jogos da fase de grupos, foi eliminado pelo Brasil, com uma simplicidade atroz, nos oitavos, por três bolas a zero. Encarnando assim o velho postulado futebolístico de Cruyff, segundo o qual, o futebol é um jogo de ocupação de espaços e não uma prova de atletismo.

Actualmente o Gana continua a representar o futebol africano e já entrou na história do futebol e dos campeonatos. O futebol das equipas africanas, apesar de se encontrar mais evoluído, pelo menos tacticamente, ainda é vítima daquilo a que vulgarmente se designa por hubris, que basicamente consiste em alguém que tem a tromba maior do que os próprios calções.

Imagem sacada daqui

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