quarta-feira, 20 de abril de 2011

Aves de Arribação

Agora que já acalmou a reacção indignada ao comportamento hipócrita de Fernando Nobre, posso enfim concretizar as minhas reflexões sobre o assunto. Ao ver recentemente uma conferência de um psicólogo evolutivo holandês, Mark van Vugt, acerca da liderança e da sua evolução na sociedade humana, acometeu-se-me a rapidez do porquê de ninguém no Partido Social Democrata ter entendido o sagaz senhor Nobre. Tal adveio da interpelação que esse extraterrestre partidário colocou aos membros da tribo laranja. Como qualquer extraterrestre carregado de clichés, usou a frase habitual - "Take me to your leader!" - interpelação a que os responsáveis administrativos do PSD não conseguiram, em boa verdade, atender. Uma vez que a questão da liderança é algo dúbia lá para os lados da Lapa.
A "liderança laranja" - irei chama-la assim por uma questão de conveniência redactorial - poderia ter tentado uma estratégia de convergência com o centro que decide as eleições, em vez de continuar com o sectarismo que afasta o eleitor moderado desse tipo de aventuras. A reacção dos blogues de direita é, de uma forma geral, emocional. Com um clubismo de fazer inveja aos clubes de futebol, continuam a sua demanda em recusar ver qualquer hipocrisia em Nobre, com um tipo de duplo-pensar quasi orwelliano, em que se enaltece a teoria argumentativa do desapego ao poder, ao mesmo tempo que se diz ao ignoto candidato para acabar com a incontinência verbal em que este se afunda.
Por fim, devo esclarecer que nunca tal senhor teve a minha simpatia. Uma pessoa que afirma não ser de esquerda nem de direita, e que tenta capitalizar eleitoralmente no descontentamento popular anti-partidário, não é coisa nenhuma. Na melhor das hipóteses é uma fraude, e na pior, o que se verificou.

Imagem: bird-on-no-bird-sign, por Blackwood

2 comentários:

  1. Eu acho que o que levou muitas pessoas a simpatizar com ele na altura das presidenciais, e confesso eu também, foi a crença de que a sua campanha nascia de um movimento de cidadãos, foi o acreditar que aquele senhor, que também teria as suas simpatias políticas como todos nós temos, teria ultrapassado essa questão e se erguia em prol dos interesses dos comuns eleitores...os milhares de desiludidos com o centrão, aqueles que têm medo dos papões dos comunistas e detestam a direita de Portas, identificaram-se com ele...ainda bem que não pude votar nesse dia se não hoje estaria a remoer-me de remorsos...Estes gajos mostram sempre o seu verdadeiro eu, um eu apenas interessado no poder, ainda que para isso tenham de trair as suas convicções e os seus compromissos...E continuas ainda a defender uma classe politica profissionalizada?

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  2. Os políticos devem ser pagos pelo trabalho que fazem, apesar da mediocridade geral. O problema está na cultura de desresponsabilização.

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