domingo, 16 de outubro de 2011

Teorias do descontentamento

Os vários fora deveriam ter analisado o problema deste modo: Comparar o valor de 691 mil milhões de dólares (mais de 500 mil milhões de euros à taxa actual) do banco de investimento Lehman Brothers, com o PIB anual de Portugal, de cerca 172 mil milhões de euros, para meter as coisas em perspectiva.
Essa foi a maior falência da história da humanidade, e se o nosso país entrasse em bancarrota, o impacto não seria tão grande, excepto na estabilidade do próprio Euro. Mesmo a descomunal dívida externa portuguesa de mais de 370 mil milhões de euros, fica aquém do valor acima demonstrado.
Deveriam ter falado dos 1,5 mil biliões (1.5 quadrillion/quinze zeros) de dólares da crise dos derivativos financeiros, que englobam as alavancagens especulativas, através de contratos como os futures ou os credit default swaps. O jargão parece complicado mas é só para afastar o cidadão comum da compreensão deste meio. Algo que os media informativos poderiam ajudar a decifrar, caso fossem deontológicamente isentos e não seguissem os interesses corporativos de quem lhes paga.

Sabendo que algo deste género seria inevitável, o cartel financeiro encontrou forma de passar este tipo de perdas para o cidadão contribuinte, para que este absorvesse o embate. O sistema funciona assim, e tudo correria sobre rodas, caso o cidadão contribuinte aceitasse que a culpa é dele.
Hoje em dia já não existem os afamados líderes do passado, que guiavam as massas. As próprias manifestações fogem ao controlo dos partidos políticos de protesto. A razão está na partilha de informação, onde as massas já não aceitam que alguém lhes filtre a informação e se torne num líder, num condutor. As massas podem estar sujeitas à demagogia e ser irracionais. Mas estas massas percebem, tal como um touro que é toureado, que algo está mal, quando lhe espetam com a austeridade.
Quem manda no toureiro não está interessado no dinheiro. O que lhes interessa é o poder. O dinheiro é apenas uma forma de submeter aqueles que não aceitam ficar sem soberania, que não aceitam ficar com a sua terra conquistada.
Os media informativos contam outro tipo de história, glorificando os parasitas.

Apesar de toda a manipulação, o cidadão contribuinte tem um limite para aguentar e o movimento resultante da sua indignação adquire contornos globais. Do mesmo modo que as estradas romanas serviram tanto para a expansão, como para o declínio do império, também a Globalização pode voltar-se contra si própria, desde que as pessoas, mais do que meros cidadãos contribuintes, tenham vontade para isso.
O "occupy everything" demora a descolar, mas torna-se mais forte à medida que ganha ímpeto. Não se vê nada no futuro que o faça abrandar: os governos vão continuar a ser controlados pelos grupos económicos, vão continuar a impor austeridade aos seus concidadãos, vão continuar a destruir a economia, vão vendendo aquilo que é de todos a alguns, a preço de saldo, ao cartel oligarca que manda no governo, cujos membros serão amplamente recompensados quando cessarem funções, dando ao povo a ilusão da participação democrática.
Os "indignados" são adversários do poder, e devem ser rotulados como um bando de indivíduos perigosos, pelos media informativos, para justificar a repressão.

Nota: O tratamento mediático da manifestação foi deplorável. A agenda dos jornais televisivos, desta tarde de Domingo, parecia o jornal do Crime, rebuscando a ideia de condenar a agressão a agentes de autoridade com a prisão preventiva. Pode ser que o cidadão pense duas vezes antes de atacar os cães de guarda que estão a defender um símbolo do poder, como a Assembleia. Desde o suposto arrastão da praia de Carcavelos, que são mais cuidadosos com a manipulação, mas não deixam de ser eficientes.
Em segundo lugar, a repressão está nos genes deste governo. 1982, ministro da Administração Interna: Ângelo Correia - dois operários mortos na véspera do 1º de Maio, pela polícia. 1994, ministro da Administração Interna: Dias Loureiro - revolta na ponte, reprimida pela polícia. Há aqui um padrão.

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