terça-feira, 15 de novembro de 2011

15 anos de Tomb Raider

Lara Croft

O videojogo Tomb Raider faz 15 anos. Foi em 1996 que a Eidos o lançou para a Saturn, iniciando assim uma mudança de paradigma na indústria. Apesar de existirem personagens femininos nos videojogos desde os anos oitenta, como a Samus Aran e a Tyris Flare, ou símbolos sexuais, como a Mai Shiranui e a Morrigan Aensland, nenhuma delas dava o incentivo de ser um modelo para as jovens como Lara Croft.
Uma protagonista livre dos estereótipos femininos, que fazia as raparigas acreditarem nas suas capacidades de serem tão boas ou melhores do que os rapazes, num meio que, até essa altura, era fortemente dominado pela testosterona.
A era Clinton de meados dos anos noventa foi importante para a afirmação das jovens mulheres. O movimento contestatário das Riot Grrrls começou a sair do underground e a ser subvertido e assimilado pela pop, transformando a sua mensagem no slogan "Girl Power" das Spice Girls, que lançavam o seu primeiro single, precisamente em 1996. Entre as Riot Grrrls, as Bikini Kill assinavam o seu último álbum nesse ano e as Babes in Toyland já tinham feito o mesmo um ano antes. As L7 e as Hole estavam paradas. As últimas devido ao facto de Courtney Love ter participado no filme sobre o Larry Flint. Foi também em 1996 que se formaram as Kittie, embora os rapazes as vissem mais como uma versão feminina dos Korn do que outra coisa qualquer.

Por sua vez, a rebeldia existente na música fazia parte de um movimento feminista mais vasto, em que as raparigas podiam pegar nas suas próprias armas, fossem as guitarras ou um par de pistolas, e ir à luta. As jovens eram encorajadas a exprimirem todo o seu potencial sem receio.
Nas séries televisivas, o ícone feminista da altura era Lucy Lawless, em Xena: A Princesa Guerreira, e no cinema foi o ano de Sem Limites, dos irmãos Wachowski, com a famosa cena lésbica entre Gina Gershon e Jennifer Tilly, e de Amigas, onde Angelina Jolie, que mais tarde encarnaria Lara Croft, interpretava uma adolescente num gang juvenil feminino. A animação japonesa transpirava esse espírito de poder da mulher em Ghost in the Shell, e é interessante lembrar que mesmo o mainstream Dragon Ball GT tinha uma rapariga como protagonista, dois anos antes dos estúdios Disney criarem Mulan, a princesa mais assertiva e combativa até então.
Apesar de toda esta análise, somente estando na pele de uma rapariga que leva com todo o impacto cultural desta avalanche se consegue realmente compreender o entalhe perene no seu desenvolvimento e formação. As restantes pessoas não fazem ideia da dimensão deste paradigma e podem cair no erro bastante frequente de pensarem que Lara Croft é somente "mais uma" personagem de videojogos.

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