Sócrates (1954 - 2011)
O primeiro campeonato do mundo de que me lembro conscientemente foi o de 1982. As revistas brasileiras de quadradinhos; os chamados "gibi"; davam destaque e apoiavam a equipa brasileira, que se esperava que fizesse um grande mundial em Espanha. Foi aí, e lendo sobre eles, que conheci o Sócrates, o Falcão e o Zico. Deste modo, Sócrates já era uma lenda, mesmo antes de o ver jogar.
O futebol moderno não tem, nem nunca voltará a ter, um jogador assim. Nem nunca voltará a ter uma equipa como o Brasil de 1982. No jogo com a Argentina, na altura detentora do título, a bola fica naquilo que parece uma eternidade na posse do Brasil, que ia trocando a bola com o adversário a ver jogar.
A especialização do futebol profissional moderno privilegia jogadores acéfalos, com poucos sentimentos, ainda menores escrúpulos, e que sejam semelhantes a máquinas, para poderem ser trocados, vendidos, injectados e descartados quando deixarem de funcionar. Os jogadores com coração, emoção e inteligência são prejudiciais para o sistema, uma vez que este sistema se alimenta do consumo das massas, num regime tecnocrático que despreza a vida humana.
Sócrates era a humanidade no futebol. A vontade de fazer com que o jogo fosse um conforto da alma das pessoas. Sócrates soube viver, porque uma boa vida é aquilo que se espera que o ser humano tenha.
Imagem: The Inquisitor
Sem comentários:
Enviar um comentário