terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Restauração de quê?

Hoje é um dia comemorativo especial na História Portuguesa: O Rei de Espanha encontra-se entre nós.
Vão-me dizer que tal facto é coincidência, que a cimeira Ibero-Americana não poderia ser marcada para outra altura e que os diplomatas lusos não dispõe de um calendário, ao contrário dos Maias.
Aposto que sua majestade, o Rei de Espanha, deve estar a sorrir com a ironia.
Em relação à Guerra da Restauração, que começou com o golpe de estado de 1 de Dezembro de 1640 (data que é suposto comemorar) e que acabou no Tratado de Lisboa (o de 1668, não o de 2007) os seus motivos foram tudo menos patrióticos.
Num certo sentido, Portugal deixou de existir em 1580, com a União Ibérica e a morte de Luís de Camões, o vate da nação.

O que despoletou a revolta na nobreza e na burguesia, uma vez que para o povo era relativamente indiferente saber quem era o governante, foi a diferente abordagem que o último dos Filipes teve em relação a este País. O Império Espanhol necessitava de divisas para combater na Guerra dos Trinta Anos (1618 - 1648) e o resultado foi o aumento de taxas e impostos aos mercadores. Por seu lado, a nobreza portuguesa começava a perder influência nas cortes espanholas e os postos de governo em Portugal estavam cada vez mais a ser ocupados por oficiais espanhóis.
Por fim, a situação da Guerra dos Segadors (1640 - 1652) na Catalunha, essa sim uma verdadeira revolta camponesa, devida não só a situações idênticas às que aconteciam em Portugal mas também ao abuso dos soldados imperiais que partiam para a Guerra dos Trinta Anos, ajudou a que as forças espanholas se encontrassem dispersas.

Apesar da defenestração de Miguel de Vasconcelos ter a sua piada e ser algo que muitos provavelmente gostariam de querer fazer ao actual Primeiro-Ministro, a imposição da presença de Espanha sempre foi uma constante e afirmar esta data num momento em que a identidade nacional se começa progressivamente a perder, parece ser a busca de uma tradição que continua a ser comemorada, mesmo que já ninguém saiba o motivo de tal comemoração.

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