Tenho lido ultimamente sobre a tragédia que assolou a ilha da Madeira. A prodigiosa blogosfera apressou-se em despejar opiniões repletas de facciosismo e odioso sobre o ocorrido. Desde a total ignorância e manipulação de factos até ao caminho mais fácil do anátema aos vários governantes. Poderia dar vários exemplos de blogues com tiradas de sarjeta, mas basta procurar.
Em primeiro lugar, várias pessoas falam e escrevem da Madeira como se esta não fosse parte de nós. Como se territorialmente, não fizesse parte de Portugal. Em parte compreendo essa atitude. A retórica de hostilizar os habitantes continentais pode ter dado os seus frutos anteriormente, mas agora já se fala de outra forma. Em relação ao Primeiro-Ministro, este entendeu a gravidade da situação e actuou de imediato. No caso do Governo Regional, o Sr. Jardim foi igual a si próprio e assumiu a figura paternal de Pai-de-todos-os-madeirenses e impôs logo a sua autoridade face à catástrofe.
Portugal desde sempre necessitou de figuras paternais, tais como Oliveira Salazar e Jardim. Embora durante as cheias de 1967, nunca se tenha vindo a saber o número real de vítimas, as informações imprecisas desse número e toda a divulgação da tragédia em 2010 é terrificamente semelhante, salvo as devidas diferenças.
A distinção entre quem vive no Funchal e quem vive nas regiões isoladas é gritante, a estratégia de recuperação económica face ao (im)previsto é superior ao respeito devido à memória das vítimas e ser algo que nos deveria encher de vergonha.
No programa de televisão Biosfera, já tinham sido expostas as limitações físicas do território, como pode ser visto aqui.
Como qualquer estudante de Ordenamento do Território sabe: Os Plano são estáticos. Não passam de pedaços de papel, cujo aplicação depende da vontade de quem o aplica, sendo que o Planeamento, em virtude de ser um processo, é dinâmico.
Claro que tal não significa que certas áreas de implantação histórica devam ser desocupadas, mas para isso existem sistemas de monitorização, que servem igualmente, para verificar a implementação e execução dos referidos Planos. Nada disso é feito, mas isso não é um problema exclusivo da Madeira.
No fundo, daqui a um mês, já todos se esquecerão do sucedido e estará tudo na Festa da Flor, especialmente os governantes, uma vez que o nosso Primeiro já pagou com antecedência, a brindar à ilha da Madeira e aos fundos de apoio ajudados a recolher por meia dúzia de figuras públicas hipócritas em acções de solidariedade.
* Título inspirado numa obra de Daisuke Suzuki.
Foto sacada daqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário