sábado, 24 de abril de 2010

Xanthos e Pathos: Uma reflexão sobre Abril

Quando era mais novo do que sou hoje, defendia a Utopia como forma de sistema político e enquanto ideal filosófico. Achava algo perfeitamente ao alcance do ser humano e desejável para os indivíduos enquanto sociedade.
Com o passar do tempo, tornei-me amargo e passei a acreditar na Distopia. Claro que a minha fé na Humanidade nunca foi inabalável, nem nunca o foi a minha consideração pela inteligência de pessoas idiotas, fanáticas ou manipuladoras.
No fundo, o direito ao Sonho é aquilo que move todos os humanos. Embora, de alguma forma, eu em determinada altura tivesse perdido essa capacidade. Isto claro, se eu acreditasse que alguma vez a tive.
Mesmo nos meus momentos mais niilistas, eu acreditava no progresso da sociedade. Que um mundo melhor estava ao alcance da vontade humana e não apenas em slogans comerciais...
Após anos seguidos a observar tristemente vários humanos a serem escravizados, não só no corpo, mas também na alma. Agrilhoados por correntes que eles próprios fecham dentro de si e com as quais aprisionam o próprio pensamento, vi-me chegado aquele limite em que parecia estar no fim do mundo conhecido. Naquela parte do mapa em que existia a legenda "hic sunt dracones", a partir daqui - dragões. Mas as terra pericolosa não estão documentadas. Não existe nenhum guia que nos indique o caminho e o próprio mapa apresenta contornos difusos.

As aspirações só estariam justas se a sociedade portuguesa fosse uma democracia, em vez da oligarquia que de facto é. O poder está concentrado numa pequena elite, que despreza o mérito.
Existe de facto, um caminho, mas as armas revolucionárias não se podem calar ao percorre-lo, porque elas nunca dispararam. O apelo à emoção já não existe. Os mais novos que viram Abril encaminham-se para a crise da meia-idade e os mais novos que o não viram, já não o reconhecem. Como um velho tio que todos sabemos que é, mas que não iremos sentir a falta.
A sociedade oligárquica assegura que as suas ovelhas não discutem. Ela assegura e promove a falta de respeito pela autoridade e a sensação de insegurança, criando insidiosamente um desejo por maior controlo das vontades, maior repressão do indivíduo e das massas, limitações de privacidade mais extensas e menos possibilidades de auto-expressão.
Até que por fim, a autoridade do mestre seja suprema, pois ela estará então alicerçada num bem maior... a pacificação securitária dos seus cidadãos. Agora limpos, assépticos e obedientes.

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