quarta-feira, 21 de julho de 2010

Liberalizar a sociedade à força

Já se sabia que um partido liderado por Pedro Passos Coelho (PPC) iria fazer isto. Uma Constituição demasiado socialista da herança de Abril seria um entrave e um empecilho para os indivíduos empreendedores.
Até esta altura, considerava-se o despedimento, que é a forma mais imediata de poder numa relação laboral, como sujeito à consideração da sua justeza. Apesar da sua semântica, este sistema permitia algo que a "razão atendível" não permite, uma vez que esta se trata de uma análise com um critério discricionário e sujeito a mudanças de humor por parte de quem tem o poder e passa a ser um algoz do trabalhador.

O senso comum admite que os empresários portugueses são pessoas sem escrúpulos e que toda a sua rede de chefia é constituída por indivíduos que gostam de abusar do "pequeno poder". Algo que Passos Coelho deveria saber, caso alguma vez tivesse trabalhado na vida.
Como um infante lambe-botas do Cavaquismo feito homem, PPC assume que a sociedade está pronta para a sua visão iluminada, apenas porque já conseguiu, mais ou menos, afogar o messianismo conservador de Paulo Portas.
O Cavaquismo, em todo o seu conservadorismo, tinha pelo menos a vantagem de, em alguns aspectos, se aproximar da verdadeira social-democracia nórdica em termos ideológicos. Algo que PPC pretende ignorar, com o aumento do abuso patronal sobre a classe trabalhadora, numa altura em que o desemprego e a precariedade no trabalho são os problemas mais importantes da sociedade portuguesa.

Apesar de existirem sociedades mais liberais do que a nossa, como por exemplo a americana (talvez o Eldorado para Passos Coelho), este esquece-se que essa sociedade dispõe de algo que a nossa carece: Tribunais equitativos que funcionam adequadamente e regulam a justeza das relações laborais. Algo que PPC parece ignorar e que deveria merecer a sua atenção.
Desta forma, quando fala nas suas preocupações com o desemprego e com a destruição de emprego, as palavras de Passos Coelho contêm o doce sabor da hipocrisia. Defeito que sem o qual, um político não o poderia ser. Defeito esse, que PPC bem cedo aprendeu, na sua trajectória política já longa, desde o seu início nos berços Cavaquistas.

Imagem do The Last Honest Man

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