Na Teoria do Caos, o "efeito borboleta" designa as diferenças imperceptíveis num sistema dinâmico que, num longo período de tempo, podem imprimir mudanças significativas a esse mesmo sistema. Exemplificado na famosa ideia de que as asas de uma borboleta, situada por exemplo em Portugal, podem criar pequenas alterações na atmosfera, que progressivamente, levem à formação de um tornado, por exemplo, na África do Sul.
Se a memória não me atraiçoa, que já passou uma eternidade, as coisas começaram a correr na Covilhã. Mal, diriam alguns.
Por essa altura, esses movimentos de incompetência eram apenas imperceptíveis:
A chamada de jogadores que se encontravam já com alguns dias de férias, a chegada a conta-gotas, um estágio prolongado, o imiscuir do binómio luso-marfinense Toni, as suas palmadinhas nas costas, o descontentamento da populaça com um treino a que não conseguiu assistir, o desfile pelas ruas e pela Câmara da Covilhã e os jogos de despreocupação com as equipas africanas (embora eu confesse que estava a torcer por Moçambique).
Na África do Sul, o pessimismo com a segurança dos que relatavam o dia-a-dia da equipa, contrastava com o optimismo desenfreado dos emigrantes que ansiavam por um pouco de reconhecimento e orgulho nacional.
Mas voltando às borboletas:
Beto, guarda redes vendido, mas que mesmo assim, ou por causa disso mesmo, foi o porta-voz da equipa, onde dava largas ao seu sorriso cínico.
Daniel Fernandes, guarda-redes canadiano do famoso Iraklis da Tessalónica, onde estava a aquecer o banco depois de ter sido emprestado pelo Bochum.
Ricardo Costa, que se intrujou a tentar jogar a lateral direito.
Pepe, um aleijado madrileno-brasileiro, que por uma questão de estatuto foi considerado indispensável e indiscutível na equipa.
Zé Castro, de quem já ninguém se lembra. O stand-in de Pepe.
Rolando, um cabo-verdiano que é uma banalidade.
Duda e o venezuelano Danny, que me provocam vómitos.
Miguel, que se defende bem, com uma 9 mm.
Nani, que se lesionou num treino na clavícula. O seu estado nunca foi assumido frontalmente pelos responsáveis. Ninguém conseguiu explicar a história da sua lesão, o que levou a todo o tipo de especulações, incluindo uma acusação de doping.
Deco, um brasileiro que contestou as opções tácticas do treinador, e que apesar de ter continuado a fazer parte do grupo de trabalho, deixou de ser opção técnica.
Amorim, que foi chamado para o lugar de Nani, apesar de nunca ter feito parte dos trabalhos anteriores e já se encontrar de férias na altura, e que contraiu igualmente uma lesão inexplicável.
Liédson, que é bastante brasileiro.
Hugo Almeida, que vociferou veementemente contra o publico que assobiava a equipa em Portugal. Indo depois para o Mundial para se auto-promover e que bateu bem as asinhas.
Cristiano, um capitão de equipa, o responsável por meter os outros na linha e a voz da autoridade, ou talvez não. Para muitos, o milagreiro redentor e por fim... o bode expiatório mais acessível para todos aqueles que embarcaram no sonho cor-de-rosa da euforia vuvuzélica.
Em conclusão, a dúvida que eu tinha era saber quem é que iria redigir a versão 2010 do famoso relatório Boronha. Mas talvez tudo fosse convenientemente abafado.
No final de contas, o tornado não foi muito grande, uma vez que parece que cumprimos o objectivo de passar da fase de grupos aos 16 melhores, isto segundo a retórica queiroziana, e por último, o presidente da Federação pode sempre encontrar um bode expiatório, uma vez que já anteriormente demonstrou uma certa habilidade para fazer isso mesmo.
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