sexta-feira, 18 de março de 2011

Da ignorância

Parece que existe uma postura anti-recenseamento, devido a uma pergunta que pede aos entrevistados que estejam a trabalhar a recibos verdes, mas por conta de outrem, que assinalem a opção de que estão a trabalhar por conta de outrem. Fez-se uma teoria da conspiração em torno disto, que o governo quereria ocultar o número de pessoas que trabalham com falsos recibos verdes. Ora, eu gosto de teorias da conspiração - são engraçadas e tal - mas tenho pouca paciência para a demagogia, especialmente quando implica burrice ou má fé jornalística.
Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que um tipo de recolha estatística como o recenseamento da população é um método arcaico de recolha de informação, e esta só é fidedigna se contar com a colaboração dos envolvidos e a máquina recenseadora estiver afinada o suficiente para lidar com os eventuais erros que fatalmente irão surgir numa operação a esta escala.

Uma amostragem da população, através do método de inferência estatística, como se faz por exemplo nos Países Baixos, seria uma alternativa bem mais barata, e com resultados práticos semelhantes. Mas pelos vistos, o nosso país gosta de gastar dinheiro.
A segunda crítica que faço ao Instituto Nacional de Estatística (INE) - abençoada seja a sua negra alma - é a postura inerente aos seus académicos e publicitários, que julgam que o país onde vivemos é bem diferente daquilo que ele de facto é. O filme publicitário dos Censos de há dez anos atrás, dava a imagem de um país sofisticado, quase nórdico, onde não existiam dez por cento de analfabetos e cinquenta por cento de iliteracia entre a população.
A falta de sorte dos Censos 2011 é a sua realização numa altura em que já ninguém acredita nas instituições nacionais, muito por culpa do abuso que os políticos foram fazendo delas ao longo do tempo, e que contribuiu para uma degradação da sua credibilidade.

O objectivo dos Censos não é o de resolver o problema dos recibos verdes, ou o dos falsos recibos verdes. O objectivo do INE é providenciar informação estatística de qualidade, para que demógrafos, geógrafos, sociólogos, técnicos do território e de programação de equipamentos, possam trabalhar.
Trabalho este, que se destina a aumentar a qualidade de vida da população que é inquirida. O abuso dos recibos verdes deve ser resolvido pela justiça e a sua existência pelo poder político. Tudo o resto é demagogia, baseada na ignorância, ou uma tentativa de atirar areia para os olhos das pessoas, aproveitando a fama controladora deste governo.

Sem comentários:

Enviar um comentário