sexta-feira, 4 de março de 2011

Serpentes num jardim de Jasmim

Naja egípcia, na Jemaa el-Fnaa, Marraquexe

A melhor maneira de analisar o Norte de África é através da distribuição da Naja egípcia (Naja haje). Quase todos os comentadores, analistas e bloggers falam ou escrevem sobre o Egipto e a Líbia com uma certeza tal que me deixa perplexo, e assim, embora a minha ignorância sobre o assunto em apreço seja avassaladora, não poderia deixar de dissertar sobre a complexidade geopolítica do mesmo. Caso não o fizesse, seria certamente acusado de cumplicidade com regimes ditatoriais e despóticos, qual ser abjecto sem respeito pela humanidade. Embora esta última consideração possa não andar muito longe da verdade.
Ontem, ao ler um texto do MEC (esse escritor tão sobrevalorizado da nossa praça), não pude deixar de pensar que nunca devo ter utilizado a palavra "perfídia" (e que palavra tão bela é) em nenhum texto. Como gostaria eu de ter utilizado a palavra "perfídia", embora nunca tivesse conseguido encontrar maneira de a entalar em nenhuma prosa de autoria. Houvesse maneira da palavra "perfídia", tão bela entre as demais, caber em tal pedaço de retórica, e estaria muito mais desinquietado sobre o facto de a ter de explicar.

Vamos ao que interessa - a cobra egípcia. O meu conhecimento das serpentes do Norte de África (ver aqui a bela prosa deste escriba sobre o assunto) é limitado à víbora de cornos (Cerastes cerastes). Esta não deve ser confundida com a víbora do deserto (Macrovipera deserti), uma áspide de tromba achatada que vive na Líbia, na Tunísia, possivelmente na Argélia, e que, conjuntamente com os americanos, deve ser a responsável por toda a sublevação a que temos assistido nos últimos tempos.
Ainda me lembro, porque não foi há muito tempo, de ler sobre o desinteresse dos media nacionais no problema da Tunísia, quando este começou. De facto, o Egipto chamou a si todas as atenções. Na minha opinião, pela particular característica da sua serpente nacional não ser uma víbora (apesar delas habitarem por lá) mas uma naja, e qualquer pessoa que saiba um pouco sobre o Hinduísmo tem a noção de que se trata de um animal superior, quiçá tocado pelos deuses. Serpentes estas, que ocorrem numa faixa que se estende desde Marrocos a ocidente, até ao Iémen e Omã a oriente, e que não conhecem nenhuma fronteira pelo meio. Chamam os doutos a isto de "efeito de contágio". Mas no fundo, o que sabem eles disto?

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