O ódio ao funcionalismo público, que o governo pretende fomentar e usar em seu favor, é a premissa base deste texto. A manipulação governamental tenta passar a ideia de que o Estado é caro, gordo e inútil, quando se sabe muito bem que não é possível erradicar todas as redes de comportamentos corruptos que lá existem, sem destruir a rede de assistência social, que é uma das obrigação do Estado.
Se o objectivo fosse tornar o Estado mais eficiente, não era preciso virem com esse tipo de discurso. Se o objectivo fosse dinamizar o mercado, tomavam-se medidas para estimular a concorrência, em vez de se privatizar sectores que são por natureza monopolistas, aproveitando a desculpa da crise, para os vender a um valor mais baixo.
Justificar o facto do governo ser obrigado a despedir funcionários públicos; os chamados cortes na despesa, com a falta de produtividade sistémica que se verifica na economia portuguesa é uma fraude. O governo só vai despedir porque é obrigado pelo exterior, e só tem medo porque é impopular. Não é por causa da ineficiência.
Dizer que os trabalhadores do sector público ganham mais do que os do privado é uma mentira. A falácia está no facto de se pegar na massa salarial do sector público e compara-la com a massa salarial do sector privado, quando certas actividades do Estado não existem no privado.
Os casos em que funcionários públicos ganham mais do que o seu equivalente privado está no facto dos primeiros terem progredido na carreira o suficiente para verem a sua experiência remunerada. Os aumentos dos salários na função pública estabelecem os aumentos dos salários no sector privado. Por isso, os últimos são sempre superiores.
O que este governo quer fazer é balizar tudo por baixo: um Estado mínimo e miserável para quem não puder pagar, e um sector privado que explore os seus trabalhadores em nome da falta de produtividade. Há que denunciar a agenda deste governo, que é bastante óbvia. A discussão entre o mérito devido ao trabalhador público versus o privado é uma discussão estéril e impede de ver o que está aqui realmente em causa.
Tenta-se confundir a opinião pública com o problema do défice. A comunicação social já não se refere ao défice em percentagem do PIB, porque um valor inferior a 10% não causaria muito impacto no cidadão. Se falarmos em cerca de 10 mil milhões de euros, o povinho fica muito mais impressionado. Não é, senhores jornalistas?
Tenta-se convencer a opinião pública que o problema é a dívida, sem referir se se trata da dívida soberana (governamental e municipal) ou da dívida privada, ou se é dívida interna ou externa. O verdadeiro problema é que a dívida soberana externa é simplesmente dinheiro fictício, com o qual vendemos a nossa soberania e fomos ocupados por forças estrangeiras. O que antes era chamado de Alta Traição. Dívida que só existe porque os credores sabem que é uma forma de manter Portugal em sentido. Mesmo que entremos em default, os "credit default swaps" reembolsam os credores. Eles sabem, tal como o governo, que a dívida vai ser impossível de pagar, mas mantêm a ilusão para o povo ir aceitando melhor a austeridade.
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