"Nós somos nós próprios e a nossa circunstância"
José Ortega y Gasset, filósofo liberal espanhol.
A forma como somos vistos pelas outras pessoas é fundamental na maneira como nós somos e agimos, e vice-versa. Vem isto a propósito da visita de Sua Santidade. Irei escrever um texto sobre o actual Papa, mas só quando este abandonar o nosso país, não vá o Diabo tece-las (quem?). Embora tenha de admitir que me dê um certo gozo juntar estas duas figuras na mesma frase.
Esta minha apreciação não é sobre o Papa em si, mas sobre a atitude dos representantes do Estado português.
Acompanhei na caixa de detritos, o encontro entre o Papa e o Presidente da República. Sem sequer ter motivos para desconsiderar o casal Silva, reconheço que o senhor Aníbal só estava simplesmente contente por ali estar. Tentei procurar pelo Presidente da República, mas nem sinal dele, apesar da guarda ser republicana.
Mas isso talvez seja de mim, que sou irascível.
Não me vou alongar sobre o facto do Estado ser laico, ou das férias serem inconcebíveis na situação económica que o país atravessa, ou qualquer outro tipo de verborreia, cujos exemplos por aí não faltam.
Parece que o país se divide em dois grupos de cegos, aqueles que demonizam a instituição que nos visita e outro, que a defende como se fosse a sua própria salvação.
A tolerância de ponto deve-se ao facto, de que, neste momento, o governo não vai fazer nada que interfira com as (poucas) boas graças da população, ou causar mau-estar desnecessário.
Um exemplo, foi ter aproveitado o facto do país se encontrar sobre o efeito do ópio futebolístico, para anunciar que poderá, eventualmente, ter de aumentar os impostos.
O motivo sobre o qual me vou alongar é, na minha opinião, o mais grave de todos: O facto do Primeiro-ministro ter titulado o Papa de "Sua Eminência". Fiquei absorto.
Vamos por partes: Eu sou um Demónio das Trevas. Pelos menos, sou tanto um Demónio das Trevas quanto o Primeiro-ministro é um Engenheiro, ou seja, para todos os efeitos, sou.
Em seguida, tinha em minha própria conta, o facto de ser altamente inteligente. Pelo menos, o suficiente para conseguir disfarçar a minha forma reptiliana, numa aparência semelhante ao comum dos mortais.
Concedo que não tenho a ambição e hipocrisia necessárias para escalar a pirâmide do Poder. Mas, com mil diabos!... Sua Eminência? Qualquer criança do pré-escolar, mesmo a mais ignorante, narcotizada e acrítica, conhece o título do Papa. Mais valia afirmar logo a sua incompetência de ser o incumbente do executivo.
A juntar a tudo isto, uma miríade de assessores que desconhece o que é um briefing e o protocolo, e vamos todos assim, alegremente, entrando com as botas cheias de lama.
Um tapete é um objecto, feito normalmente de tecido, que é colocado no chão. Geralmente o uso mais comum é o de limpar as solas dos sapatos antes de se entrar numa residência. Utilidade higiénica.
Serve também para dar as boas vindas, mas isso já parte da educação de cada um.
Nunca o Núncio Apostólico deve ter pensado que o tapete português tinha tão má qualidade. Mas pelos vistos, é este que temos e que merecemos. O que vale é que a "nação fidelíssima" irá estar em Fátima, ignorante, narcotizada e acrítica. Local onde o pastor a poderá então abençoar calmamente e pedir o perdão divino para a miséria de representantes que temos.
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