segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Fraudes e queijadas

Falar ou escrever da campanha eleitoral parece-me algo redundante nesta altura. Todos os pontos de vista que defendo estão já mais do que divulgados aqui, e nunca me senti confrontado em os defender.
O que sinto é um certo nojo pelo facto da minha inteligência estar a ser afrontada sempre que leio, ouço ou vejo, em jornais ou na televisão, os cães de ataque de Cavaco Silva, a defenderem sem quartel o seu dono. A dobrarem o processo de argumentação, a estraçalharem a lógica, a desrespeitarem de forma jocosa quem pensa pela própria cabeça e não anda enfeudado a esses semi-comentadores e semi-cronistas. Esses idiotas que clamam a inocência da Santa Virgem, como se esta fosse uma pessoa comum e humilde. Imagem construída durante uma vida inteira.
Mas então e agora? Portugal vai amanhã continuar no buraco onde está hoje. Mas não se pode falar de Oliveira e Costa, nem de Dias Loureiro ou de Fernando Lima. Porque isso faz parte de uma campanha suja. É lama que se atira sobre o impoluto, que tudo fez para parecer honesto e que reclama honestidade. Sendo certo que as pessoas verdadeiramente honestas não necessitam de reclamar honestidade. Elas simplesmente são-no.

Que não se fale de inside trading nem de qualquer outro tipo de fraude. Foi tudo um negócio inocente de acções e os que levantarem dúvidas sobre este processo (condicionado mediaticamente, é certo) é porque são esquerdistas radicais, com ódio ao capitalismo. É tão fácil envenenar o debate político em Portugal. A maioria das pessoas que irá votar em Cavaco (o seu core) nunca ouviu falar de inside trading na vida. Para eles, o senhor Silva foi quem lhes trouxe o dinheirinho da Europa e nada mais interessa. A cultura miserabilista vinga neste país e o círculo completa-se. Os acontecimentos com mais de um ano não ocupam espaço na memória colectiva, que já tem muito que a distraia.
O que mais me empestou o ar, foi o facto de Cavaco ter vindo a Sintra comer queijadas. Tal como acontece quando mete um bolo na boca, o nosso magistrado-mor alheia-se de falar de assuntos que o incomodem, como a entrada a doer do FMI. Poderia ter usado um bolo-rei, que ainda estamos na época, mas talvez fosse mais seco do que as queijadas, que sempre dão mais elan ao passeio guiado, puxando a trela do Seara.

Mas olhando para estas eleições, sei que tudo está condicionado para que Cavaco as ganhe. Desde a paixão de Alegre pelos Açores, onde este já perdeu a conta ao número de vezes que lá se deslocou. Para ser apoiado por um governo regional que cospe no esforço nacional sem que ninguém se preocupe com isso. Para ser apoiado por um deputado-ladrão, que provavelmente o faz por ser uma imposição partidária. Para ser desprezado por Soares, por coisas não explicadas. Para acabar nos restantes candidatos, que só servem para dispersar os votos restantes. Tudo nesta eleição acaba por já estar dito ou escrito.
Votai, minha gente. Ide cumprir o nosso dever cívico.

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