quinta-feira, 11 de abril de 2013

A natureza tem horror ao vácuo

Nunca deve ter existido nos últimos trinta anos um governo empenhado a este ponto na manipulação e na ofuscação. As condições da tecnologia mediática actual facilitam esse desígnio, mas o principal motivo desta conduta parece estar ligado ao facto de não existir uma forma racional do executivo defender as suas opções políticas.
O exemplo mais recente é o do "criativo" Miguel Gonçalves. Este foi ao programa televisivo Prós e Contras a 20 de Julho de 2011, um par de semanas após o governo ter ganho as eleições e um dia antes de tomar posse. Esta cronologia é importante para se perceber uma das mais insidiosas manipulações do governo. Relvas nunca poderia admitir que já sabia quem era Miguel Gonçalves para não evidenciar o embuste e arranjou uma desculpa acerca do facto de o ter visto em vídeos no youtube. Poderia ter sido no vimeo, mas era necessário criar empatia e o youtube é mais conhecido.

A mensagem de que um indivíduo pode ter sucesso em tudo e mais alguma coisa desde que seja ousado e imaginativo, esquecendo propositadamente que o sistema se encontra viciado e que abomina o mérito, nunca me cativou. A falácia argumentativa do cândido Miguel designa-se por evidência incompleta e o estilo de discurso baseia-se na hiperbolização. O seu objectivo fulcral sempre foi o de promover a peugada neo-liberal e degradar o factor trabalho. A agenda seguida não é inocente nem desinteressada, embora se tente camuflar como tal para evitar ser denunciada.
O vídeo do programa televisivo fez sucesso nas redes sociais, mas não me conseguiu converter. Talvez por eu próprio ter pouca tolerância à banha da cobra, à vacuidade e por a própria realidade do mercado de trabalho não deixar que seja enganado por esse tipo de intrujice, mesmo que se encontre disfarçada de oratória motivacional.

O chamado "Impulso Jovem" nunca foi um programa de estímulo económico. Sempre foi uma acção de propaganda. Por isso é que foi apresentada por Relvas, o ministro da Propaganda e não pelo histriónico ministro da Economia e do Emprego.
O próprio Miguel Gonçalves, na sua apresentação como "embaixador" do "Impulso Jovem" tentou evitar as perguntas sobre política para não se notar a evidência de que só existe enquanto fabricação. Exactamente uma semana depois de mais esta acção de propaganda, o ministro das Finanças corta-lhe os fundos. Deve ter feito uma análise custo-benefício e chegado à conclusão de que a contratação pro bono do "bate-punho" lançou o descrédito. Se existe algo fundamental em propaganda é a de que esta tem de ser credível, para conseguir enganar as pessoas. Gaspar não gosta de pipocas, uma vez que deve cortar no açúcar e no sal.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Humor Britânico

Margaret Thatcher (1925 - 2013)

A baronesa Thatcher havia já sido "morta" por vários artistas tais como Morrissey, vocalista dos The Smiths, ou por Elvis Costello. No entanto, a doutrina actual de desregulação dos mercados financeiros, de flexibilização laboral e de privatização das companhias estatais, mostram que o seu tipo de política está mais vivo do que nunca. Não adianta a bruxa ter morrido, como cantam alegremente as pessoas de bem, se existe uma cambada, que é uma porção de objetos pendurados por um fio, de malfeitores dispostos a seguir a sua política.

Prime Minister: Yes, it's all very simple. I want you to abolish economists.
Jim Hacker: (mouth open) Abolish economists, Prime Minister?
Prime Minister: Yes, abolish economists, and quickly.
Sir Humphrey: (silkily) All of them, Prime Minister?
Prime Minister: Yes, all of them. They never agree on anything. They just fill the heads of politicians with all sorts of curious notions, like the more you spend, the richer you get.
(...)

Yes Minister - The Thatcher Sketch (1984)

domingo, 7 de abril de 2013

Dois anos de FMI

O valor que os portugueses pagam para a receita do Estado, seja em impostos, taxas ou outras contribuições é superior ao que recebem do mesmo, seja em pensões e reformas, subsídios de desemprego ou doença, ou outro tipo de apoio social. Se incluirmos os juros da dívida soberana, os juros do empréstimo da troika, ou os juros da fraude do BPN no valor daquilo que o Estado tem de contribuir, então torna-se claro que não existe dinheiro para tudo.
O mentiroso compulsivo Pedro Passos Coelho prossegue o embuste de que o dinheiro se destina a defender o estado social porque um demagogo necessita sempre de ter uma argumentação de qualquer tipo, mesmo que semelhante argumentação seja falaciosa. Tal como anteriormente estimulou o ódio entre os trabalhadores do sector público e do sector privado, o chantagista tenta agora colocar os portugueses contra o Tribunal Constitucional, encontrando o bode expiatório que os propagandistas vinham cozinhando desde há algum tempo junto da opinião pública, que se encontra completamente envenenada com o trabalho do spin dos comentadores.
A estratégia é fraca, como se pode perceber, de tal modo é evidente. O segundo resgate vem a caminho e Passos Coelho nem sequer se exime de o anunciar, uma vez que já tem um álibi, como num romance policial de segunda categoria. A palavra de ordem deste governo é a doutrina da agiotagem, inspirada pela fúria predatória da alta finança. Os especuladores riem-se enquanto o povo sangra. Infelizmente vivemos num protectorado financeiro executado por traidores. Os invasores têm de morrer.

The Prodigy - Invaders Must Die

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Voltar à vida na Páscoa é demasiado trendy

O Ofídio esteve abandonado porque não houve disposição para escrever da minha parte. Quando tudo parece carregado de futilidade, tanto nas críticas políticas como nos estados de alma, o mais certo é acabar por se assemelhar a um "repaspassar" dos mesmos assuntos vezes sem conta. O que me impedia de progredir, fosse lá em que direcção fosse. Ao contrário da blogopropaganda, este é um diário de bordo e o diário de bordo não foi actualizado porque a nave encontrava-se em parte incerta.
Durante o estado vegetativo da minha hibernação blogosférica, ainda tentei fazer vários arranques  por pura convicção de consciência. No entanto, a minha já afamada tendência para a procrastinação tomava sempre a melhor. Não porque eu quisesse que esta ganhasse ao meu descargo de consciência, mas sim por não saber como estava a minha alma. Quando não há vibração anímica, o espírito não flui. Não se podem travar batalhas quando o kata é imperfeito.

As estações passaram como vento e a rede Zuckerberg foi suficiente para os textos que no entretanto produzi sobre a espuma dos dias. Quando se começa a blogar, parece que tudo o que escrevemos é um tratado filosófico. Passado algum tempo, a publicação de posts passa a ser um vício. Todos querem escrever o post perfeito e pertencer à fina-flor da blogosfera, que por motivos óbvios é inatingível apenas pelo mérito. Por fim, reduz-se o círculo à meia-dúzia de conhecidos e fica-se grato pelos IP's que se enganaram na busca e vieram aqui parar ao acaso.
Ao fim de seis meses sem uma linha de facto, tempo suficiente para compreender a ansiedade da minha existência, eis que o blogue se renova, tal como a Primavera que nunca mais chega. Um meio-aniversário onde poderia ter escrito sobre as vindimas, o Sandy, a arte da katana, a época natalícia, o falecimento do Nagisa Oshima, a guerra psicológica no Mali ou os meteoritos na Rússia. Ainda vamos a tempo.

Imagem: "Animal Regulation Series" por Liu Di

domingo, 2 de dezembro de 2012

Resurrección: Ultima Etapa

As almas ocas e sem coração
vagueiam num deserto ermo e árido
em direcção ao palácio das noites
sob uma lua crescente, solitária,
de um céu negro e sem esperança.

Aos poucos, redefinindo o meu ser.
Sem medo, desânimo ou apatia.