sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aprilis Finitum

República Portuguesa: Democracia de jure, Oligarquia de facto.
O mês de "Abril" chegou ao fim. Acabou. A própria corrupção do sistema corroeu-o até às entranhas.
Não serão as "Cantigas do Maio" a salvarem-no. Não existe nenhuma redenção. Nem nenhuma forma de esperança. A única possibilidade de mudança passa pela acção directa. A única forma de tomar nas mãos aquilo que nunca foi nosso, as nossas aspirações, que sempre nos foram negadas (uma sociedade mais justa e equitativa) vai ser pela força.
A discrepância e a iniquidade existente entre quem está no topo da sociedade, remunerado de uma forma absurda, e os escravos esmagados na base da pirâmide é obscena. A impunidade social e a obsolescência relativamente ao mundo desenvolvido, só podem ser explicadas pela arrogância. Arrogância típica do facto de vermes como esses pertencerem a uma elite dominante.

A polémica em torno da deputada Inês de Medeiros é agora algo mediático, atingindo uma proporção que só se pode explicar por uma palavra: Arrogância.
Um tipo de desprezo em relação à crítica da obscenidade, a qual é apelidada de "ira popular", e à qual, por esse facto, não se deve dar ouvidos. Incapacidade de ter a sensibilidade suficiente para perceber uma falta de equidade e de justiça.
O velho maestro, simpatizante entusiástico do 25 de Abril, escusa-se a comentar o desiderato da sua progenitura. O burro de estimação, que era um conviva assíduo do seu jantar, tinha mais sensibilidade do que a artista feita deputada, para dar um certo elan cultural às listas partidárias.
O número de lisboetas, mesmo dentro do universo daqueles que deram o seu voto a essa lista, que se revê na deputada: Zero.
Capacidade parlamentar da mesma, eufemismos para relevância de representação da sociedade: Zero (ou muito próximo disso, para não ser injusto).
A deputada encontra-se bem enquadrada na oligarquia dominante, apesar de toda a sua retórica, obviamente devido a sobranceria, fazer gala em rejeitar o apelo mesquinho do dinheiro e em afirmar, desnecessariamente, que irá cumprir a lei.

Justiça, ou a falta dela. A oligarquia protege os seus. Este verme corruptor é desmascarado e a sua actividade corruptora provada até à exaustão. No entanto, existe sempre um oligárquico juiz que o absolve desses crimes e ainda aceita que o verme seja indemnizado por quem expôs os seus crimes e o denominou por aquilo que ele de facto é: Um verme corrupto e arrogante, cujo sorriso de escárnio, escarra a cara dos portugueses honestos que temem a Lei. Porque esta não os protege.
Lei: Uma manipulação normativa que condena a base da pirâmide e perpetua a sua escravidão ao mesmo tempo que protege e absolve a oligarquia que a domina.

Dois líderes oligárquicos (José Sócrates e Pedro Passos Coelho) reúnem-se para definir o futuro do País. O futuro é inexistente porque "Abril" chegou ao fim. O Tratado de Lisboa é algo ilegível que permite uma guerra surda contra a Grécia, e num futuro não muito distante, contra nós. E entretanto, os escravos sangram até à morte. Porque como dizia o Zeca, "...não se esgota o sangue da manada".

sábado, 24 de abril de 2010

Xanthos e Pathos: Uma reflexão sobre Abril

Quando era mais novo do que sou hoje, defendia a Utopia como forma de sistema político e enquanto ideal filosófico. Achava algo perfeitamente ao alcance do ser humano e desejável para os indivíduos enquanto sociedade.
Com o passar do tempo, tornei-me amargo e passei a acreditar na Distopia. Claro que a minha fé na Humanidade nunca foi inabalável, nem nunca o foi a minha consideração pela inteligência de pessoas idiotas, fanáticas ou manipuladoras.
No fundo, o direito ao Sonho é aquilo que move todos os humanos. Embora, de alguma forma, eu em determinada altura tivesse perdido essa capacidade. Isto claro, se eu acreditasse que alguma vez a tive.
Mesmo nos meus momentos mais niilistas, eu acreditava no progresso da sociedade. Que um mundo melhor estava ao alcance da vontade humana e não apenas em slogans comerciais...
Após anos seguidos a observar tristemente vários humanos a serem escravizados, não só no corpo, mas também na alma. Agrilhoados por correntes que eles próprios fecham dentro de si e com as quais aprisionam o próprio pensamento, vi-me chegado aquele limite em que parecia estar no fim do mundo conhecido. Naquela parte do mapa em que existia a legenda "hic sunt dracones", a partir daqui - dragões. Mas as terra pericolosa não estão documentadas. Não existe nenhum guia que nos indique o caminho e o próprio mapa apresenta contornos difusos.

As aspirações só estariam justas se a sociedade portuguesa fosse uma democracia, em vez da oligarquia que de facto é. O poder está concentrado numa pequena elite, que despreza o mérito.
Existe de facto, um caminho, mas as armas revolucionárias não se podem calar ao percorre-lo, porque elas nunca dispararam. O apelo à emoção já não existe. Os mais novos que viram Abril encaminham-se para a crise da meia-idade e os mais novos que o não viram, já não o reconhecem. Como um velho tio que todos sabemos que é, mas que não iremos sentir a falta.
A sociedade oligárquica assegura que as suas ovelhas não discutem. Ela assegura e promove a falta de respeito pela autoridade e a sensação de insegurança, criando insidiosamente um desejo por maior controlo das vontades, maior repressão do indivíduo e das massas, limitações de privacidade mais extensas e menos possibilidades de auto-expressão.
Até que por fim, a autoridade do mestre seja suprema, pois ela estará então alicerçada num bem maior... a pacificação securitária dos seus cidadãos. Agora limpos, assépticos e obedientes.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Reciclem-nos

Um homem novo precisa-se. Desde os anos 70 que este dia é dedicado à tomada de consciência do ambiente terrestre. Actualmente, com a ligação em rede entre os humanos através da Internet, a tomada de consciência parece operar-se a nível global.
Este dia é similar ao do Ambiente cuja cimeira anual vai ter lugar no Ruanda, sob o lema irónico de "Muitas Espécies, Um Planeta, Um Futuro".
A deusa Gaia dos gregos antigos, representava a Terra Mater, a personificação da natureza selvagem, enquanto que a deusa Deméter era a personificação da natureza domesticada pelo homem.
Nos anos 70, o ecologista James Lovelock baptizou a sua hipótese ecológica com o nome de Gaia. Considerando a Terra como um organismo vivo, uma vez que a biosfera é moldada por um sistema dinâmico e auto-regulador, que a mantém em condições estáveis para a vida. Inicialmente ridicularizado, tem sido reabilitado recentemente. Na sua opinião, já é tarde para reparar os danos ao planeta.

A humanidade já esteve à beira da extinção, ficando reduzida entre os 3000 a 10000 indivíduos, à cerca de 70 mil anos atrás, quando se deu a erupção do vulcão Toba, na ilha de Sumatra. Esta erupção mergulhou a Terra num inverno vulcânico durante uma década.
O evento Heinrich, um ciclo de alterações climáticas que engloba a alteração das calotas polares e consequente modificação das correntes oceânicas pode ter contribuído para a extinção do Homem de Neanderthal, à cerca de 30 mil anos. Em virtude do seu regime alimentar específico, o Neanderthal não se conseguiu adaptar às mudanças ambientais do fim da era glacial.
A extinção fez parte do destino das espécies mais vezes do que pensamos. Claro que já estamos longe da guerra fria e da "Mutual Assured Destruction", mas o equilíbrio periclitante em que a espécie humana se mantém, não difere muito desde essa altura.
A guerra hoje em dia é feita de forma diferente. Na cimeira de Copenhaga, as nações da Terra reconheceram que o aquecimento global é inequívoco, estabelecendo assim, uma taxa de emissão de dióxido de carbono. Instrumento este, que permite controlar estados soberanos com menor poder económico e militar, perpetuando desta forma o sistema que nos levou a esta situação.

Dependemos em grande medida, da tecnologia, sobre a qual nos sentamos e pensamos que somos invencíveis. A própria ideia de colonização climática advém da transferência de energias renováveis para os países em desenvolvimento. Embora a ideia de invencibilidade tenha vindo recentemente a perder força, devido ao impacto das catástrofes naturais que se repetem a um ritmo cada vez mais frequente (o "ano dos furacões" de 2005 e o tsunami do Índico de 2006) quase todos os seres humanos estão programados para não pensar muito no assunto.
A recente erupção do Eyjafjallajökull (que no fundo, não é assim tão difícil de pronunciar) é sintomática disso mesmo, com os passageiros aéreos sem a mínima capacidade de improviso para lidar com um evento natural.

Tal como o Neanderthal era dependente da caça de animais de grande porte, os humanos actuais são dependentes da tecnologia. Paradoxalmente, os povos mais preparados para sobreviver ao desastre anunciado, serão aqueles cujo modo de vida não necessitar de grandes modificações face à penúria de recursos. Talvez seja esta a grande ironia que o nosso planeta nos reserva.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O + Manso

Segundo o Priberam, "manso" é um adjectivo e significa "que não é bravo, benigno, de génio brando, sossegado, tranquilo, domesticado, cultivado (no caso dos vegetais), sereno, plácido, não silvestre, lento, brando".
Designa de igual modo um advérbio, que tal como "mansamente", significa "com mansidão, com bons modos, ao de leve, em voz baixa". Entra também na composição de "manso e manso", que significa "pouco a pouco".

Em relação à classe política, o povo chamava-os de pessoas de "falinhas mansas", o que também serve para designar um vigarista. No entanto, existem outro tipo de "mansos". Para além do supracitado povo, o manso mais comum é aquele que habita as planícies ribatejanas e que viu a sua capacidade, digamos, reprodutora bastante diminuída.
Agora a dúvida que se punha era quem era o "mais manso"?
Confesso que até tinha uma certa consideração por Francisco Louçã, mas após o uso por parte deste, do referido adjectivo na voragem de um debate parlamentar, fez-me ficar no mínimo, algo perplexo.
O meu primeiro pensamento foi algo do género: "mas ele pensa que está em alguma praça" (entenda-se praça por feira, o que no caso de ser uma feira de gado, até nem era descabido).
Convenhamos que o referido adjectivo, apesar de não ser um impropério ou uma profanidade, é sintomático do clima em que se vive.

Apesar de se poder argumentar que o Primeiro-Ministro tem o merecido por não se dar ao respeito, devido a incidências do mesmo género e que o negócio da "compra" do Figo não abona na sua estrutura moral. Existe uma reserva por parte dos políticos ao ataque demasiado frontal, para que o debate possa ficar sem efeito.
Mesmo o desabafo off-record pesa pouco nos pratos da balança quando a maré já está assim tão alta.
A euforia tem destas coisas. A euforia de Louçã e o desagrado de Sócrates. Coisas que não são consertadas com o grupo e saem no momento. Coisas de aspecto amador. Claro que as ovelhas "de esquerda" devem ter rejubilado com tais tiradas, que até admito, terem sido um bom momento televisivo.

No fim de contas, o "animal feroz" era só um mito e ficou-se a saber quem era o "mais manso". Sim, porque o mais bravo era o ex-ministro Manuel Pinho, que teve a infelicidade de, na altura, se estar a referir a outro "manso".

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Lord Petrus

Peter Steele (1962 - 2010) fotografado por Manuel Lino

Tal como as cinzas de um vulcão são o produto da Islândia, também a força telúrica que era Petrus T. Ratajczyk, mais conhecido por Pete Steele, era um produto de Vinlândia. A pátria dos vikings na América, que revelava a sua ascendência.
Os aspectos românticos, por vezes bastante melancólicos, estavam sempre presentes na música dos Type O Negative, quatro gajos de Brooklyn, Nova Iorque.
A infelicidade nos temas era recorrente. No entanto, a sua aura de símbolo sexual para a comunidade gótica fazia-o abordar, tanto a vida como a música, de uma forma sarcástica.
Muita gente confundiu a nuvem por Juno, em "Black No. 1". Ao mesmo tempo, uma homenagem e sátira à subcultura gótica e tema emblemático do álbum "Bloody Kisses" de 1993.
O referido álbum, que representa o culminar da sua popularidade, está recheado desses aspectos humorísticos. Desde a vertigem lasciva de "Machine Screw" até à ironia de "Frozen".

Type O Negative -Black No. 1

Ficará para sempre como um explorador das profundezas da alma humana.
Que Descanse em Paz...
"Not long ago, but far away..."