Apesar de ser uma série de acção, o manga Bleach do autor japonês Tite Kubo aborda o conceito de perfeição. Teorizado, como se de uma palestra se tratasse, por Mayuri Kurotsuchi, a personagem que encarna o arquétipo do cientista-louco.
No universo de Bleach existem vários planos de existência e Mayuri é um shinigami, que na cultura japonesa personifica a morte. Neste caso trata-se de um ser espiritual que actua como guardião das almas que se encontram no ciclo de transmigração.
O seu interlocutor e antagonista neste combate feito diálogo filosófico é Szayelaporro, uma alma narcisista e egomaníaca, corrompida pela insanidade resultante do prazer que obtém em torturar as suas vítimas; Sade explicaria melhor esta característica; e que rivaliza em sadismo, crueldade e conhecimento científico com Mayuri.
O trunfo final de Szayelaporro é uma técnica denominada Gabriel, o nome do anjo que anunciou a concepção a Maria, e que lhe permite renascer após o seu próprio corpo espiritual ter sido destruído, utilizando as células de um hospedeiro, para criar um novo corpo para si próprio. Esta habilidade, semelhante ao renascer de uma fénix e que se inspira na imagética da Ressurreição pascal, faz com que Szayelaporro proclame arrogantemente que é o ser perfeito (完璧な生命, kanpeki na seimei) devido ao facto de se ter tornado imperecível. Apesar da habilidade ser elogiada por Mayuri, esta não é suficiente para que Szayelaporro ganhe o duelo.
No rescaldo da batalha, Mayuri dedica-se a explicar ao seu agonizante inimigo que não existe algo que seja perfeito neste mundo, o que, parecendo um lugar comum, não deixa de ser a realidade. Tal não impede o homem comum de admirar a perfeição e de procurar atingi-la como se esta fosse algo de tangível.
Indagando sobre o propósito da perfeição, Mayuri afirma veementemente que este não existe, reiterando que a detesta. Explicando que algo que é perfeito não deixa nada para explorar, espaço à imaginação ou qualquer ganho de conhecimento.
A perfeição só traz desespero aos homens de ciência, cujo objectivo é o de criar sempre algo mais sublime do que aquilo que foi criado anteriormente, embora nunca atingindo o estado perfeito e devendo estes encontrar prazer nessa contradição.
Mayuri conclui afirmando que Szayelaporro foi derrotado no momento em que proferiu o disparate acerca da perfeição. A vitória atribuída a quem teve o intelecto superior.