A Festa do jornal
Avante! está descaracterizada. Pronto, é isso. Costumava ser uma festa familiar, apesar de partidária. Era uma manifestação cultural transversal com propaganda q.b. em que se participava com alegria, espírito de confraternização e paz de espírito. Ainda existem algumas ilhas onde se podem encontrar estes valores, mas o que se nota progressivamente é um oceano de massificação impessoal a cada ano que passa, transformando a Festa num festival semelhante a qualquer outro.
A cerveja, cobrada a mais de um euro o copo, juntamente com as doses semíticas a preços exorbitantes e as filas intermináveis, devido à manifesta incapacidade de acomodar tanta gente, são o resultado de uma avareza que não é exclusiva das agências de
rating.
A inflação generalizada não pode ser explicada com as condições económicas, e o Partido Comunista em vez de criticar os outros, era bom que olhasse para a sua própria casa. Pelo menos, tudo indica que o camarada Jerónimo se encontra familiarizado com as condições artesanais dos diferentes stands, devido à atoarda na ASAE - essa fascista perseguidora de pobres - durante o discurso de abertura.
Claro que não estava à espera das trombetas dos sovietes, mas o sol já não parece que irá brilhar para todos nós, e já nem a Carvalhesa soa da mesma forma. Ao menos, ainda me chamaram de "camarada"; mas foi só no primeiro dia, graças a Deus.
Os ícones proletários ainda lá estão, como a LISNAVE, ultrapassada mediaticamente pelos estaleiros de Viana. No fundo, são isso mesmo: ícones, pedaços de fetiche ideológico que adquiriram uma conotação religiosa, tal como o slogan "trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!", representado na área do socialismo internacional. Já não temos as FARC, mas temos os
terrorists-in-training do partido marxista da Colômbia. Temos o stand de Cuba que, segundo fonte altamente fidedigna, servia uns
mojitos martelados. Não consegui encontrar o stand neo-liberal do MPLA; deviam estar ocupados a reprimir os manifestantes deste fim de semana em Angola; mas o stand dos irmãos moçambicanos da FRELIMO foi uma agradável surpresa, nem que seja por serem os únicos internacionais a venderem cerveja.
Por outro lado, temos os nacionais a provocarem o pânico e a insegurança num parque de campismo com preços de "valor simbólico" similares a uma estadia nas Caraíbas. Mas já se sabe que tudo isto é um reflexo da sociedade que corrompe o homem؟ "A Festa, mesmo decadente, é para todos".
Ainda tentei montar a tenda no referido parque, antes de constatar que a mesma, que já não usava há cerca de dez anos, estava em adiantado estado de decomposição: mais podre e com mais buracos do que a bandeira americana, o que motivou a que tivesse de adoptar um plano B, de bebedeira. No fundo, um retrato do Avante actual.