domingo, 30 de maio de 2010

Dá-lhe, Miley! *

Miley Cyrus

Antes de mais, devo confessar que sou contra o próprio conceito do Rock in Rio (RIR). Nada daquilo me atrai! Trata-se de um tipo de evento simplesmente descabido, em que a componente musical é relegada para segundo plano e o que realmente interessa são as várias actividades acessórias de entretenimento e distracção e o número de ovelhas que irá preencher o recinto. Tudo enquadrado por uma área VIP descomunal, recheada de pseudo-cagões que acham muito in não se misturarem com o resto do povo.
Agora que já escrevi esta declaração de interesses, vou indignar-me um pouco com o trabalho jornalístico da SIC em relação ao evento.
Apesar do jornalismo televisivo no nosso país ter uma qualidade bastante baixa, eu tinha, e ainda tenho, alguma consideração pela informação da SIC. Por isso mesmo, quando vejo um trabalho mal feito nessa estação, fico severamente mais chateado, do que ao ver, por exemplo, o mesmo estrume de reportagem na TVI.

Os exemplos que vou relatar em seguida, aconteceram na cobertura prévia do concerto da Miley Cyrus, artista norte-americana de plástico, no RIR. Não me vou embrenhar sobre as considerações que tenham a ver com a qualidade artística da música dela, uma vez que este texto não é para isso. Em vez disso, vou opinar sobre aquilo que eu penso que não deverá acontecer em jornalismo televisivo.
A primeira ligação ao recinto do evento encontrou este caro telespectador face a face com o jornalista Reinaldo Serrano (O Geraldo português, mal comparado). Repórter bastante conhecido nos tempos da Revolta da Ponte em 1994, altura em que 99,9% dos fãs da Miley Cyrus ainda não eram nascidos. Ficaram famosas as hilariantes agressões que sofria em directo por parte dos agentes da autoridade. Eram outros tempos! Agora já é mais complicado fazer este tipo de coisas, como se viu na manifestação deste Sábado.
Prosseguindo o tema, dizia o bom do Reinaldo, qualquer coisa acerca de um grupo juvenil do tempo dele, que eram os Pandilha. Quase que me derreteu o cérebro! Nem com uma tuneladora de alta tecnologia eu conseguiria lembrar-me disso! Provavelmente teria de explicar primeiro o que é o vinil, ou um disco de 45 rotações, mas é sempre bom existirem essas pessoas, que fazem a ponte entre o Passado e a Realidade, para sabermos onde é que estamos.

Mas isso nem sequer foi o caso pior. Quando o RIR necessitava da promoção, percebia-se que os apresentadores da SIC Radical tinham uma certa sensibilidade, que lhes permitia fazer o trabalho, para o qual, um tarefeiro da SIC Notícias, simplesmente não tem capacidade.
O repórter, que me escuso aqui a referir o nome, entrevista os jovens que estão junto às grades do palco. Até aqui nada de especial, mas eis que se aproxima de um grupo de jovens raparigas e lhes pergunta qual é a música preferida delas. Devido ao vasto e prolixo reportório da artista em questão, as moçoilas pré-púberes hesitam (a capacidade de raciocínio delas nestas idades é um pouco desconexa) afirmando em primeira instância que gostam de todas.
Nesse momento, vislumbra-se entre elas, a cabeça de um rapaz (a diferença de tamanho entre os sexos nestas idades é bastante acentuada) que repete incessantemente que é o tema "Party in the USA". Uma deixa, que o repórter utiliza para pedir às adolescentes para cantarem o tema, pensando que estas iriam grunhir qualquer coisa.
Demonstrando um profissionalismo atroz, estas olham umas para as outras e começam ao 1... 2... 3... e cantam o tema desde o princípio, diga-se em abono da verdade e da justiça, com uma afinação aceitável, respeito pelo tempo dos compassos, fazendo as pausas necessárias para que os versos, totalmente decorados, entrem no tempo certo e com uma dicção da língua inglesa que poderia servir de exemplo para a nossa classe política. Quando já se encontravam, penso eu, na segunda estrofe e se preparavam para cantarem o refrão (que é basicamente o tema, uma vez que se trata de música pop e pouco mais tem do que isso) o repórter resolve que já chega e agradece a colaboração.
Porque enfim, a SIC Notícias não é a Radical e o amadorismo pata-de-microfone não se coaduna com os dias e horas que as miúdas dedicaram a aperfeiçoarem os seus dotes musicais.

Por último, o caso mais triste. Mas que provavelmente foi feito sem intenção, ou sem que o seu protagonista, uma jornalista que entrevistava as famílias durante a tarde, se desse conta.
Perguntava essa repórter, a uma miudinha tão nova, que provavelmente ainda deveria ter a primeira dentição, o que a levava a gostar de Miley Cyrus. Ao que a petiz responde algo, como o facto de ela transmitir a mensagem que qualquer pessoa é capaz de poder fazer tudo neste Mundo. Vólei imediato da jornalista, a perguntar à pequena se esta acredita mesmo nisso, ao que a miúda responde que sim, entre gargalhadas.
Diria o bom senso, que este tipo de cinismo não deveria ser utilizado em alguém assim tão novo, e que é contraproducente estar a pisar os sonhos da juventude, mas isto sou só eu a franzir o sobrolho.
...e depois dizem que é a música que corrompe a juventude!

* Espero que o Jel não me processe pela inspiração abusiva do "Dá-lhe, Falâncio!"

sábado, 29 de maio de 2010

O Beija-mão

"O Padrinho" ("The Godfather", 1972) por Francis Ford Coppola

Alguns rituais foram sendo preservados ao longo do tempo. Um dos mais conhecidos é o beija-mão. Este gesto é originário dos tribunais espanhóis do século XVII, possivelmente como acto de submissão aos deveres de lealdade e fidelidade entre homens. O homem submisso demonstraria a sua submissão ao beijar o anel de sinete, que representa o símbolo de autoridade, do homem dominante.
Actualmente, este gesto ainda é usado por membros da classe política em relação ao cumprimento formal de senhoras, chefes das igrejas Católica e Ortodoxa e mais marginalmente, aos chefes de organizações mafiosas.

O Presidente do FC Porto foi recebido pelos seus deputados na Assembleia da República, como, de resto, costuma acontecer todos os anos. Claro que o local indicado para este tipo de cerimónias deveria ser o Estádio do Dragão, mas devido a problemas logísticos a recepção teve de ser feita no local do costume.
Como se pode inferir, estes deputados não são adeptos vulgares: Eles são do FC Porto. A utilização do verbo "Ser" dessa forma, pode ser desculpada a um vulgar adepto. No entanto, para os deputados, significa que eles e por extensão, a República Portuguesa, têm um dono. Neste caso, um alegado criminoso, mesmo que processualmente tenha sido absolvido.
Claro que se tornaria necessário salvar a República de gente deste tipo, que a controla e polui. Seria de bom senso que os cidadãos de preocupassem com esta canalha e libertassem tanto a instituição da Assembleia Parlamentar como a instituição do FC Porto desta corja de indivíduos que as mancha.

Para memória futura aqui ficam os nomes de alguns deputados que através deste tipo de manifestações, mantêm refém a nossa República.
Como se pode ver na reportagem da ligação acima, temos por exemplo, o líder parlamentar socialista, Francisco Assis, do Porto, apesar de ter ser eleito pela Guarda, e a sua camarada Glória Araújo, igualmente do Porto. Para além de Rosa Maria Albernaz, de Aveiro, a organizadora do evento, e do seu compatriota Vítor Fontes.
Do Partido Social Democrata vislumbram-se Hugo Velosa, da Madeira (um amor dividido, uma vez que também é propriedade de Alberto João Jardim) e Margarida Almeida, do Porto.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A grande canzana


Não vou falar de pornografia, embora exista quem atropele a alma e o corpo por dinheiro e faça disso uma filosofia. Vou falar de tal patrocínio, embora persista também aquele trauma, talvez torpe e passageiro, de se tentar um tirocínio, ao se querer subir mais alto e escalar na imbecilidade, para se ser alguém famoso e conseguir dar o salto que, traficado, a tranca empina, ao ganhar notoriedade, com um bronze bem vistoso, lubrificado a brancaína.

A magia dos pozinhos, por ter a mucosa assim dormente, ela gania aos vizinhos. Um queixume por ser gulosa e impaciente. Assim ao léu. Um curtume feito tambor.
As quentes histórias de um traseiro ordinário são agora memórias, que te desejam um feliz aniversário! Um Maio doce no teu colo. Parabéns, Carolina! Portugal inteiro gostava de te partir o bolo

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Farewell #2

Paul Gray (1972 - 2010) fotografado por Gene Smirnov

Esta Primavera está a ser nefasta. Primeiro o Pete Steele e o Dio. Agora o Paul Gray, baixista dos Slipknot.
Nunca me considerei um "maggot", embora tenha seguido casualmente a banda do Iowa desde o primeiro álbum. Mas foi a partir dos "Subliminal Verses" que passaram a ter relevância para mim.
Desejo-lhes o melhor que for possível perante este acontecimento.

A ver se, por enquanto, mais ninguém tira bilhete de saída, ou isto vai começar a tornar-se um local bastante aborrecido.

domingo, 23 de maio de 2010

Parabéns, José!

O Ofídio congratula o treinador José Mourinho pela conquista da Liga dos Campeões!

Imagem do El País

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Toda a gente a desenhar o Maomé!

Este é um protesto contra os islâmicos que atentam contra a liberdade de expressão e que ameaçam com a violência, qualquer pessoa que os ofenda.
A primeira virtude (ou pecado) deste movimento foi transformar a rede social facebook naquele site que não se pode dizer o nome, com a consequente quantidade de lixo e imagens abjectas lá despejadas (já se sabe que a net é mesmo assim) e que provavelmente deverão ser mais ofensivas para os islâmicos moderados, com acesso à Internet, do Ocidente, do que para os fanáticos do Médio Oriente.
De qualquer forma, a ditadura do Islamismo encontrou um adversário à altura na Internet e nos consequentes fenómenos, memes e imagens virais que, apesar da sua efemeridade (o tempo online é vertiginoso) poderão conseguir fazer valer o seu ponto de vista.
Uma forma de medir este tipo de protestos consegue-se ver pela reacção que provoca. Conhecidas que foram as reacções às descrições gráficas do Profeta (desde os desenhos dos cartoonistas do jornal dinamarquês Jyllands-Posten, até à sátira da série norte-americana "South Park") espera-se que a invasão viral de desenhos feitos por putos de todo o mundo ocidental, provoque algo semelhante.
Sem referir o historial de sentenças de morte, como as sobre Salman Rushdie e Taslima Nasreen, devido aos seus comentários ao Islão e que continuaram nas ameaças ao filósofo francês Robert Redeker. Tendo sido extremadas nos Países Baixos, onde o realizador Theo van Gogh foi assassinado em 2004 e o político Ehsan Jami agredido em 2007.
No presente caso. Para além de ter sido criada uma contra-página no facebook, o governo do Paquistão baniu o acesso a esta rede social em todo o país. Existem manifestações nas ruas paquistanesas e uma tentativa de um processo judicial. Ainda não se ouviu nenhuma fatwā, mas já não deve demorar muito.

O autor da imagem acima, apesar de se encontrar falecido, deseja permanecer anónimo

Adenda: A implicação teológica que fundamenta o facto da face do Profeta não ser representada é a de que, sendo ele somente um homem, não deverá ser adorado como uma divindade. Algo que é referido, por exemplo, desde a Lei Mosaica do Antigo Testamento.
O Cristianismo, apesar de estar culturalmente enxertado na tradição icónica grego-romana, tem aposto sobre si a idiossincrasia factual do Profeta ser igualmente Deus Filho (portanto, objecto de adoração) embora, certas correntes cristãs rejeitem este tipo de idolatria.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sob(re) Palavras

Ao ouvir falar sobre a origem da palavra "canção" fiquei interessado e resolvi investigar mais sobre o tema. A etimologia é uma ciência que revela muito acerca do modo como os povos entendem determinado conceito e a forma como este evolui no pathos emocional de cada povo.
A palavra canção seria assim, o que resta dos pequenos pedaços da tragédia grega. Do grego, tragodia, literalmente "canção de cabra", tragos (cabra) + oide (canção). O que faz sentido uma vez que a tragédia acaba por ser a evolução do drama satírico, onde os actores se vestiam de pele de cabra, representando sátiros, criaturas animalescas que encarnam o desejo animal e lascivo presente no ser humano, muitas vezes causa de sofrimento.
Uma vez que "tragédia" já engloba o termo oide na sua composição, seria natural que a origem desta palavra fosse anterior. De facto, o termo oide refere-se a uma canção lírica. A contracção aoide do verbo aeidein (ouvir cantar) que se relaciona com aude (ouvir) uma vez que o objectivo deste tipo curto de poemas era serem cantados. O termo está presente também em "melodia", melos (parte) + oide.

O acto de cantar encontra a sua raíz no latim cantare, que por sua vez, provém da base kan, que encontramos na maioria da linguas indo-europeias, como por exemplo na palavra grega eikanos (galo) literalmente a "ave que canta para o alvorecer".
Este termo está presente na palavra "encantamento" que é um tipo de feitiço mágico com carácter permanente ligado a determinada pessoa, objecto ou local. As palavras em si tinham outrora um determinado poder e o carácter mágico destas era então bastante valorizado, sendo a principal forma de praticar magia, como um mago que já tenha sido silenciado bem sabe.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Céu e o Inferno

Ronnie James Dio (1942 - 2010)

Morreu Ronnie James Dio.
O meu primeiro contacto com a sua música foi com o vinil do "Dehumanizer" em '92. Naquele que foi o seu grande regresso aos Black Sabbath, uma das mais míticas bandas de rock pesado de todos os tempos.
O line up dessa altura: Dio na voz, Tony Iommi na guitarra, Geezer Butler no baixo e Vinny Appice na bateria, iria mais tarde reunir-se sob o nome Heaven and Hell, retirado do álbum de Black Sabbath de 1980, onde Dio aparece pela primeira vez.

Sob a égide dos cornos, ficará para a história e para a memória da música, como um dos patriarcas do Metal.
Que Descanse em Paz.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Urso de Corbiniano

Um cavaleiro desloca-se para a Cidade Eterna, a cidade que existirá até ao final dos tempos. Ao passar por uma floresta, o cavalo que carregava a sua bagagem é atacado por um urso.
Enquanto o urso se encontra a devorar o cavalo, Corbiniano (era este o nome do cavaleiro) sente que o espírito divino lhe irá dar a força suficiente para aplacar a fera. Esta, apesar da sua fúria bestial, ajoelha-se a seus pés. Instante que Corbiniano aproveita, para prender o carro que levava a sua bagagem ao urso, prosseguindo a sua viagem em direcção a Roma.
Corbiniano foi o orientador espiritual de muitas pessoas durante a sua juventude no Reino dos Francos, e por ser devoto, deslocou-se a Roma, onde foi ordenado bispo pelo Papa Gregório II.
O Papa envia Corbiniano numa missão à Baviera, para evangelizar as populações germânicas. Estabeleceu o bispado em Freising, cidade a Norte de Munique, onde os bávaros eram liderados por Grimaud, o mordomo franco da Austrásia.
Apesar da nobreza franca se ter inicialmente revoltado. A morte de Grimaud em batalha, fez com Corbiniano voltasse à Baviera para consolidar a sua evangelização.

A implicação do "Urso Corbiniano" é a de que "o Cristianismo amestrou e domesticou a ferocidade do paganismo, criando assim a fundação de uma grande civilização no Ducado da Baviera".
Para um Papa de origem bávara, como Bento XVI, esse simbolismo ressoa mais alto. Tal como o facto do urso ser o animal de carga do Senhor, o que simboliza o peso do cargo papal.
Bento XVI sabe bem as dificuldades que o seu pontificado irá atravessar. Por essa razão, sempre foi conservador, afirmando que a doutrina da Igreja não está sujeita a opinião. Sublinhando que o relativismo, ou seja, "aquilo que é verdade para ti, não o é para mim" é um tipo de argumentação que corroí as fundações da sociedade e dos crentes, uma vez que estes dependem da verdade universal.
Todas os totalitarismos converteram ideologias que dependiam de diferentes pontos de vista, e transformaram-nas em verdades absolutas, contribuindo para o falhanço social.
Todo o anticlericalismo que atravessa a sociedade ocidental, especialmente a europeia, mais laica e progressista, confronta as visões do Vaticano nesse aspecto importante, relativizando tudo. O que me leva a pensar que o fardo do pontificado talvez venha a ser muito pesado.

Numa altura em que o líderes políticos mais bem sucedidos são aqueles que dominam a linguagem, não deixa de ser reconfortante, ou talvez não, que o Papa seja um teólogo conceituado, com várias obras publicadas.
O seu nome pontifico significa "o abençoado", devido ao seu desejo de conduzir os crentes através de um cenário e de um tempo de Guerra e o desejo de regressar às raízes cristãs da Europa.
A Europa, apesar da sua herança cristã, amplamente conferida nas cruzes das bandeiras dos respectivos países, tende, progressiva e progressivamente, a afastar-se desses valores. Estes incluem a adoração a Deus, a fidelidade no Matrimónio, a renúncia à mundanidade e à violência, o perdão pelos pecados e o amor incondicional.
Claro que as sociedades modernas, especialmente as europeias, encaram a Liberdade como um valor acima desses todos. A liberdade de não acreditar, a liberdade de afectos e sentimentos, a liberdade de trair, a liberdade da indulgência e do hedonismo, a liberdade de odiar.
A Liberdade versus a Ordem, os demónios versus os anjos. Vivemos tempos apocalípticos e é com essas escolhas que teremos de viver.

domingo, 16 de maio de 2010

Ai Bruna! Que és tão boa!

Bruna Real

Antes do caso propriamente dito, vou tecer umas breves mas assertivas considerações sobre a Playboy portuguesa, esse falhanço do mundo editorial luso, que segundo o que vem a público, nem dinheiro tem para pagar às "estrelas" que por lá se despem.
Apesar da falta de concepção editorial, grafismo requentado e dos genitais dos modelos serem abrasados na edição de imagem, essa revista tem atrás de si um nome que mereceria um certo respeito, e ao qual não se deveria envergonhar. Nunca foi divulgada a avaliação que a casa-mãe americana faz da sua congénere portuguesa e surpreende por isso, o facto desta ter celebrado um ano desde o seu primeiro número.
A "polémica" (para utilizar uma hipérbole) da "professora" de Mirandela, chegou na altura certa. Se não existisse este aumento de mediatização, vulgo boost, a revista correria o risco de definhar gradualmente até ao seu desaparecimento.
Comparar o que acontece em Mirandela, devido à influência de uma revista, no suposto Portugal do século XXI, com a América dos anos 50, é passar um atestado de insignificância à nossa própria existência enquanto sociedade.

Ao contrário do que os intelectuais bem-pensantes e com a mania que são progressistas gostam de afirmar, a revista Playboy é pornografia e vende com base nos seus conteúdos pornográficos. Embora, como é notório, não seja hardcore.
A heroína desta história, ou anti-heroína para alguns, Bruna Real, sabia perfeitamente disso, mas provavelmente nunca pensou que o caso tomasse estas dimensões circenses.
Nada se encontra na famosa Lei das Incompatibilidades sobre o facto de que, ser modelo pornográfico seja incompatível com a função de educadora de tempos livres, ou dito de outro modo, de actividades de enriquecimento curricular (uma vez que os portugueses gostam muito deste tipo de formalidades).
Chamar "professora" à actividade profissional de Bruna é mais um engano, uma vez que se trata de um sub-emprego sem perspectivas de carreira. Apesar disso, nunca foi contestada a sua competência profissional. Assim, despedi-la, ou sequer afasta-la da sua actividade é ilegal.
Como este tipo de contratos são celebrados pela autarquia, para trabalhos em part-time, precários e mal remunerados, o director do agrupamento de escolas local contactou a autarquia para que esta "resolvesse o problema".

O "problema" derivou do facto dos alunos, muitos deles crianças (ai, a santa inocência!) terem tido acesso a uma publicação para adultos e terem partilhado entre si as imagens onde Bruna (o apelido não é utilizado) aparece nua. A revista em formato papel esgotou em Mirandela, tanto no local onde vive, como na freguesia onde trabalha. As pulsões secretas são mais fortes do que aquilo que se gosta de admitir.
O resultado foi a vereadora da Educação de Mirandela a ter colocado noutro serviço, sem contacto com os pais ou os alunos, e anunciar que não seria contratada para o ano.
Apesar de tudo, Bruna Real continua a ser uma mulher bonita e vistosa, e isso é algo que já não lhe tiram. Por muito fel que as alcoviteiras e alcoviteiros deitem cá para fora e por muito que as mentalidades tacanhas estejam presas a uma moralidade hipócrita e ao preconceito da nudez.

Revoltante é ver quem trabalha num ministério do Estado, em seguida ir para o conselho de administração de uma empresa do mesmo sector, ou o ordenado de alguns gestores públicos. Isso sim, é que é obsceno.

Imagem outrora propriedade da Playboy Portugal

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Naufrágio de um Negreiro

"Existem pessoas que já estão dobradas há tanto tempo, que até acreditam que estão direitas!"
Alegoria reptiliana

O navio está ao largo. Ela consegue vê-lo das dunas, mas a situação é crítica. Os escolhos e os destroços de antigos navios afundados não facilitam a navegação. Mas, esperem! Ninguém está ao leme. Parece desgovernado esse navio!
Em frente da nave, desenha-se um redemoinho. Se é de origem natural ou um ralo produzido pelo homem, é difícil de definir. Embora o redemoinho seja de um tal tamanho descomunal, como que nunca visto anteriormente. Ignorado, devido ao estreitamento de vistas das pessoas. Este navio encaminha-se para o vórtice para abraçar a sua perdição.
Se os seus ocupantes sobreviverem à descida ao abismo, e alguns até tentam manter a cabeça à tona para respirar, irão ver um mundo diferente. Mais pacífico e sereno. Calmo como um túmulo.

Os escravos, esses... já foram borda fora! Alguns em direcção ao vórtice. Outros, caçados por tubarões que lhes dilaceram os membros e vorazmente deles se alimentam.
Ela emociona-se, e desdiz da sua própria impotência, sem no entanto considerar que eles, de facto, escolheram o seu próprio destino...
...e que no fundo, o seu povo confia nela.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tapete ou Capacho?

"Nós somos nós próprios e a nossa circunstância"
José Ortega y Gasset, filósofo liberal espanhol.

A forma como somos vistos pelas outras pessoas é fundamental na maneira como nós somos e agimos, e vice-versa. Vem isto a propósito da visita de Sua Santidade. Irei escrever um texto sobre o actual Papa, mas só quando este abandonar o nosso país, não vá o Diabo tece-las (quem?). Embora tenha de admitir que me dê um certo gozo juntar estas duas figuras na mesma frase.
Esta minha apreciação não é sobre o Papa em si, mas sobre a atitude dos representantes do Estado português.
Acompanhei na caixa de detritos, o encontro entre o Papa e o Presidente da República. Sem sequer ter motivos para desconsiderar o casal Silva, reconheço que o senhor Aníbal só estava simplesmente contente por ali estar. Tentei procurar pelo Presidente da República, mas nem sinal dele, apesar da guarda ser republicana.
Mas isso talvez seja de mim, que sou irascível.

Não me vou alongar sobre o facto do Estado ser laico, ou das férias serem inconcebíveis na situação económica que o país atravessa, ou qualquer outro tipo de verborreia, cujos exemplos por aí não faltam.
Parece que o país se divide em dois grupos de cegos, aqueles que demonizam a instituição que nos visita e outro, que a defende como se fosse a sua própria salvação.
A tolerância de ponto deve-se ao facto, de que, neste momento, o governo não vai fazer nada que interfira com as (poucas) boas graças da população, ou causar mau-estar desnecessário.
Um exemplo, foi ter aproveitado o facto do país se encontrar sobre o efeito do ópio futebolístico, para anunciar que poderá, eventualmente, ter de aumentar os impostos.
O motivo sobre o qual me vou alongar é, na minha opinião, o mais grave de todos: O facto do Primeiro-ministro ter titulado o Papa de "Sua Eminência". Fiquei absorto.

Vamos por partes: Eu sou um Demónio das Trevas. Pelos menos, sou tanto um Demónio das Trevas quanto o Primeiro-ministro é um Engenheiro, ou seja, para todos os efeitos, sou.
Em seguida, tinha em minha própria conta, o facto de ser altamente inteligente. Pelo menos, o suficiente para conseguir disfarçar a minha forma reptiliana, numa aparência semelhante ao comum dos mortais.
Concedo que não tenho a ambição e hipocrisia necessárias para escalar a pirâmide do Poder. Mas, com mil diabos!... Sua Eminência? Qualquer criança do pré-escolar, mesmo a mais ignorante, narcotizada e acrítica, conhece o título do Papa. Mais valia afirmar logo a sua incompetência de ser o incumbente do executivo.
A juntar a tudo isto, uma miríade de assessores que desconhece o que é um briefing e o protocolo, e vamos todos assim, alegremente, entrando com as botas cheias de lama.

Um tapete é um objecto, feito normalmente de tecido, que é colocado no chão. Geralmente o uso mais comum é o de limpar as solas dos sapatos antes de se entrar numa residência. Utilidade higiénica.
Serve também para dar as boas vindas, mas isso já parte da educação de cada um.
Nunca o Núncio Apostólico deve ter pensado que o tapete português tinha tão má qualidade. Mas pelos vistos, é este que temos e que merecemos. O que vale é que a "nação fidelíssima" irá estar em Fátima, ignorante, narcotizada e acrítica. Local onde o pastor a poderá então abençoar calmamente e pedir o perdão divino para a miséria de representantes que temos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Colapso

Parece ser oficial. A Grécia bateu no fundo e entrou em colapso.
A guerra em que está envolvida deixa-lhe poucas saídas visíveis. A última batalha saldou-se na morte de três funcionários bancários em Atenas, devido a um incêndio provocado por um cocktail molotov.
Claro que a intelligentsia blogosférica lusa, especialmente a acomodada à direita, logo se apressou a considerar os seus perpetradores como manifestantes de estrema esquerda. Embora estes possam ser anarquistas ou mesmo polícias infiltrados (em todo o caso, as informações são contraditórias, como em qualquer cenário de guerra) e confesso que ando um bocado farto dessas trincheiras ideológicas.
Tenho lido e ouvido muito sobre a densa argumentação de que Portugal não é a Grécia. De facto, olhando para os números frios das rates, as realidades são diferentes.
De facto, Portugal não é a Grécia. Portugal não tem um "Eleftheria i Thanatos" (Liberdade ou Morte) como o seu lema. Portugal não se importa muito com a ausência de um lema. O movimento anarquista nacional é incipiente, ao contrário da vitalidade, e não só de agora, do seu congénere grego.
Talvez seja por serem um povo mais individualista, cujo próprio território os obriga a centrarem-se em si próprios, que faz os gregos terem um certo orgulho nacional. Apesar de ultimamente serem obrigados a cumprir compulsivamente directivas estrangeiras, as soluções não passam pela rendição.

Mas claro que Portugal não é a Grécia. Apesar de ter contribuído para espalhar uma nova era de Globalização através da exploração oceânica, a alma lusa deve, tal como toda a Civilização Ocidental, o seu berço à Grécia. Isto, para além dos restantes contributos da psykhe grega, tais como a democracia, a ciência política, os princípios matemáticos, filosóficos e literários, o estudo da história, música e teatro.
Caso a União Europeia se desagregue, e tal facto não deve ser posto fora de conjectura, devido à dissolução do sistema monetário, teremos atingido um ponto em que o próprio tecido da Civilização Ocidental se irá começar a romper. Esta tese é partilhada por certos eruditos, embora tal como costuma acontecer nestes casos, poucos a levem a sério.

Uma novas Termópilas aguardam-nos.
Molōn labe!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os deputados mais execráveis de Portugal

A lista seguinte diz respeito apenas aos políticos que exercem funções no Parlamento. Os eleitos por todos nós e representantes de todos nós, portugueses, na casa da democracia. Era necessário restringir o universo. Se por exemplo, estivessem incluídos autarcas e governantes, não haveria espaço suficiente na blogosfera para tanta gente incapaz.
Esta lista é completamente subjectiva e não exclusiva. Caso não conheçam aos indivíduos (o que é o mais provável) procurem no Google, que eu não vou sujar o Ofídio com as suas caras feias (exceptuando o caso do Ricardo, que é uma super-estrela mediática).

10. Manuela Ferreira Leite (Lisboa, PSD)
Profissão: Economista (apesar de nunca ter lido Keynes)
A verdadeira razão de o PSD não ter ganho as últimas eleições. Devido à sua imagem de pessoa eticamente responsável se encontrar ainda bem cuidada, não consegue lugares mais cimeiros nesta lista.
A sua pobreza de espírito e mentalidade retrógrada hipotecou o futuro dos portugueses aquando da sua passagem pelos ministérios da Educação e posteriormente das Finanças. Tentou gerir os destinos do País, mas ninguém lhe explicou que dinamizar a sociedade não era a mesma coisa que amestrar um partido político.
Por considerar que a representação parlamentar se revestia de uma certa dignidade, o seu orgulho fez com que assumisse o mandato de deputada. De qualquer modo, sempre que se aproxima de flores, estas murcham.

9. Heloísa Apolónia (Setúbal, os Verdes)
Profissão: Jurista
Partido Ecologista "os Verdes": uma manobra política do Partido Comunista Português para poder intervir duas vezes no plenário parlamentar. Mostrando que a falta de ética e de moralidade também afecta os partidos que nunca fizeram parte do executivo.

8. Pedro Mota Soares (Lisboa, CDS)
Profissão: Advogado
Talvez seja a imagem deste deputado o que me faz pensar se a Raiva foi de facto erradicada. Ao declamar as suas tiradas populistas e abjectas para as televisões (muito na linha do seu chefe Paulo Portas) parece que está a ser afectado por um enfarte do miocárdio.
Co-autor do novo Código do Trabalho (não aparecem por acaso estes belos pedaços de legislação que escravizam os portugueses).
No fundo, com a imagem de reaccionário e trauliteiro que os conservadores tanto gostam de projectar, auguro-lhe um bom futuro a delapidar a coisa pública.

7. Vitalino Canas (Lisboa, PS)
Profissão: Advogado
Consultor do ouro do oriente, este pesaroso do cónego Melo serviu durante algum tempo como trauliteiro de serviço do PS e por se desculpar quando eram apanhados.
Académico com vasta obra publicada no domínio da legalidade do Direito Constitucional e das relações entre os vários regimes jurídicos da administração da coisa pública, segundo o parafraseado hermético-jurisdicional, que aos poucos, vai matando a cidadania e a equidade social das pessoas comuns.

6. Telmo Correia (Braga, CDS)
Profissão: Advogado
Apontado como especialista em ganhar dinheiro no Casino. Algo sempre difícil de provar.

5. Sónia Fertuzinhos (Braga, PS)
Profissão: Funcionária do PS (verídico)
A prova viva que a formação académica e experiência profissional é indiferente, desde que se tenha escalado conveniente no aparelho partidário. Não sendo por isso de admirar que estivesse na comissão de inquérito ao negócio PT-TVI (ao lado do seu camarada Ricardo Rodrigues).
Apesar de tudo, já votou contra o PS (e ao lado do PSD) quando se discutiu a criação do município de Vizela (que seria também elevada a cidade) pelo facto mesquinho de não querer perder poder em Guimarães (concelho onde o município Vizela estava então englobado).
As ideias revolucionárias para esta senhora passam por estar na moda.
Nota: O apelido da deputada nada tem a ver com a palavra furto.

4. António Preto (Lisboa, PSD)
Profissão: Advogado
Talvez seja uma injustiça.
No fundo, o indivíduo nunca tinha visto tanto dinheiro junto na frente dele.

3. Paulo Portas (Aveiro, CDS)
Profissão: Jurista
A representação viva da falta de vergonha. O populista acabado, sempre à caça de mais um voto descontente. O amigo da lavoura nos campos e o falso paladino da segurança nas cidades. Apesar de ser um bom estratega (aproveitando bem o esvaziamento do PSD) a sua experiência governativa fala por si.
A pouca ética política que revelou, ao empurrar Ribeiro e Castro para fora da liderança do CDS-PP, talvez só tenha paralelo nas suspeitas de que é alvo.
Desde os submarinos às fotocópias de documentos do Ministério da Defesa, este político é acusado de tudo e culpado de nada. Muito na linha do Primeiro-ministro; o que os torna, talvez, em almas gémeas.

2. José Lello (Porto, PS)
Profissão: Gestor de Empresas
Tenham muito medo daqueles que batem ostensivamente com as tampas dos computadores do Estado, ao fazerem birra, pois eles são liderados por este indivíduo.
A proximidade com os homens da bola, quando ocupou a pasta do Desporto, facultou-lhe um acentuado know-how em execrabilidade.
Apesar de tudo, ainda arranjou tempo para tecer considerações sobre o carácter de Manuel Alegre, seu camarada partidário (a quem chama de parasita) e de permitir o pagamento de viagens a Inês de Medeiros.

1. Ricardo Rodrigues (Açores, PS)
Profissão: Advogado (50% dos execráveis pratica esta profissão)
Já nem lembro do tempo em que me ria a ler blogues. As tiradas de alguns acerca deste caso são perfeitamente hilariantes. De qualquer modo, a atitude é por demais estúpida e as declarações do interveniente ainda piores.
O que me leva a perguntar se o larápio pensava que poderia ter alguma vantagem com o furto. Talvez não, uma vez que foi um acto irreflectido, segundo o próprio.
O que me leva a concluir que o acto de furtar um objecto não necessita de muito raciocínio para este deputado, cuja habilidade furtiva adapta-se mais às transacções em offshore.
E assim termino, não vá este blogue vir ser apossado* no futuro.
* eufemismo para furto.

Resolvi não classificar nesta lista a deputada Inês de Medeiros, em primeiro lugar porque já neste post me referi a ela, e em segundo, porque apesar de tudo, a arrogância é algo que eu até consigo tolerar. Comparada com a mesquinhez, o roubo e a manipulação.

Imagem do Público