segunda-feira, 30 de agosto de 2010

É a Demografia, estúpido!

No Jornal das 9 da SIC Notícias, o populista e demagogo Luís Filipe Menezes contrapôs habilmente a opinião de Helena Roseta, quando esta denunciava a actividade de alguns sectores mais conservadores da sociedade norte-americana na manipulação da opinião pública. Esse iluminado descreveu essa mesma sociedade como sendo "muito aberta", devido ao facto de "ter eleito um presidente negro". Algo que, pasme-se "seria impensável na Europa... uma república europeia, eleger um presidente negro".
Esta táctica costuma ser bastante utilizada pelos demagogos. Comparam-se realidades diferentes e em seguida extrapola-se uma conclusão falaciosa, para dar mais força à argumentação dúbia que se apresenta.

Comecemos então pelo início. Desprezando as monarquias constitucionais da Bélgica, Espanha, Dinamarca, Países Baixos e Suécia, as repúblicas europeias onde habitam negros são: França, provavelmente cerca de 1.500.000 indivíduos (2,29% da população), a Itália 750.000 (1,25%), a Alemanha 500.000 (0,6%), Portugal 150.000 (1,4%) e a Irlanda 45.700 (1,1%). Nos restantes países o valor é ainda mais residual.
Comparando esta realidade com os Estados Unidos, onde residiam há uma década atrás, data do último censo, cerca de 36.600.000 indivíduos (12,3% da população) facilmente percebemos que a verdadeira razão nada tem a ver com a propalada abertura da sociedade ou da falta desta.

Imagem do Público

domingo, 29 de agosto de 2010

Libelo contra vós (cambada de demagogos)

Por esta altura, já todos deveríamos saber que a medida de expulsão dos ciganos em França é populista e que Sarkozy está simplesmente a fazer o que a massa eleitoral que votou nele espera que ele faça. Os pensadores que gostam de pensar de si próprios que são progressistas e que torcem o nariz (porque torcer outro tipo de apêndices anatómicos é substancialmente mais doloroso) a esta medida nada cosmopolita, são apanhados numa armadilha intelectual, ao considerar o político acima mencionado, como um trauliteiro bárbaro e tirânico, que comanda um estado policial.
Ainda por cima, valha-nos o iluminado Nosso Senhor Voltaire, numa nação conhecida pela sua cultura, mas cuja contribuição cultural para o mundo, hoje em dia, é anedótica.

Apesar disso, os pensadores metropolitanos elogiam a cultura francesa, cujo conhecimento usam abundantemente como expoente máximo de snobismo e de superioridade intelectual sobre os pobres desgraçados suburbanos, que nunca viram um filme do Jacques Tati, leram Sartre ou ouviram um disco de Georges Brassens.
De resto, a comunidade blogosférica tem trazido à colação o manouche lendário do guitarrista Django Reinhardt (por razões óbvias) embora sem dar o mesmo destaque ao triveleiro artista (de qualidade substancialmente inferior) Ricardo Quaresma, que agora labora na Turquia (com o mesmo número de ciganos do que a Roménia, embora mais diluídos na população). País que felizmente não pertence à União Europeia.

"Os países mais centrais da Europa", dos quais os ciganos foram sendo "empurrados", não devem ser a França (cerca de 500 mil ciganos) nem a Hungria (mais de 200 mil) ou mesmo a Itália (130 mil) ou a Alemanha (70 mil). Um erro demográfico e demagógico, perfeitamente compreensível no calor do combate aos pensadores romanófilos.
Para essa fauna, os ciganos são todos como Joaquím Cortés ou Bajram Severdžam e vivemos todos num mundo onde defender os oprimidos e os coitadinhos faz parte do nosso próprio código genético porque fica bem. Finalizo esta reflexão com a óbvia descrição de uma experiência pessoal.

Quando era gaiato, eu e um grupo de gaiatos da minha idade jogávamos à bola com os filhos gaiatos de uma família cigana, que se veio a "instalar" num edifício onde anteriormente funcionava uma comissão de moradores. Daquelas que funcionavam no pós-25 de Abril e que posteriormente se dissolveram.
Apesar de se terem tentado integrar, os ciganos sempre foram vistos com desconfiança pelos restantes vizinhos, que torciam o nariz (porque torcer outro tipo de apêndices anatómicos é substancialmente mais doloroso) à sua presença no bairro.
Talvez isso se devesse ao facto de estes viverem na sua própria sociedade, em vez de viverem à margem da nossa, como acontece com os toxicodependentes ou os criminosos, e de se auto-ostracizarem devido a isso.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Em Porto Santo chama-se Phoenix canariensis, noutros sítios chama-se nepotismo

Não percebo a razão de ser da tristeza ou da revolta que existe pelo facto de algumas pessoas serem assassinadas por outras, uma vez que tudo está alinhado para que tal ocorra dessa forma.
Seja num incêndio florestal que apanhou algum inocente que o apagava, ou das coisas que acontecem na Madeira, estas ocorrências vão-se repetir ciclicamente sem que existe alguém que assuma a sua quota de responsabilidade.
A responsabilidade acaba por ser de todos aqueles que resolvem ignorar o bem estar do seu semelhante, ou dito por outras palavras, o peso recaí sobre todos nós, que no fundo, fazemos um tipo de indignação teatral para depois deixarmos tudo na mesma.
O nepotismo é um tipo de favoritismo concedido a familiares ou amigos, sem qualquer valorização do mérito. Esta falta de ética da sociedade portuguesa atinge o seu expoente máximo na Madeira, uma vez que esse microcosmos é governado quase sem limitações por aquilo que em qualquer lado se designaria por elite corrupta, mas cujas teias de poder nacional impedem que se designe propriamente devido às consequentes ameaças de difamação e ostracismo.

Caso as pessoas em posição de responsabilidade fossem escolhidas pela sua competência e pelo seu mérito, em vez de serem escolhidas pelo cartão partidário, amizade pessoal ou outro tipo de requisitos dos meios populacionais pequenos (esta escala refere-se tanto a Porto Santo como a Portugal) então teríamos finalmente chegado ao século XXI e à convergência europeia.
Mas os portugueses não querem isso. Como pessoas transformadas em ovelhas, vão paulatinamente dando a sua quota de carne aos assassinos voluntários ou involuntários que periodicamente alternam no Poder, e deste modo, os cardeais-sobrinhos vão minando o serviço público enquanto as ovelhas balem. O que vale é que sempre vão caindo umas arribas ou umas palmeiras, senão muitas mais baliriam.

Imagem do Sims. Parece real, mas serve para brincar. Tal como a vida das pessoas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ruivas

Rachel Hurd-Wood, como Laure Richis

Existe algo nas mulheres com o cabelo da cor do fogo que é difícil de explicar. A própria mitologia em torno do tema transformou-as em seres temperamentais e provocantes, cujo desejo sexual animalesco era incontrolável e abalava as fundações das sociedades onde estes indivíduos eram a excepção à norma.
Analisando este tema de uma forma mais científica, chegamos à conclusão que anda tudo à volta de percentagens diferentes de feomelanina e eumelanina, bem como dos genes recessivos do cromossoma 16, o que parecendo mais prosaico, não deixa de ser intrigante.

Provavelmente, o único livro que li, do qual não vi a respectiva adaptação cinematográfica, seja "O Perfume" de Süskind. A minha opinião em relação ao livro é ambígua. Apesar de conter uma narrativa bastante atractiva e cativante (com uma magnífica descrição de paisagens, tanto visuais como olfactivas) o facto de ter aquele final inusitado fez com que me deixasse pouca consideração por essa obra literária.
Mas no fundo, o que é um final? Será um embrulhar literário na descrição de uma viagem (tanto física, como num certo sentido, espiritual) que se vem prologando ao longo do livro, ou este Gainax Ending era suposto ter algum sentido, já que se desenrola no mesmo local onde a história começa, fechando assim o círculo e rematando uma conclusão ao protagonista assassino?

Na demanda em busca do perfume perfeito, que leva o assassino até junto de Laure (cujo cheiro o faz relembrar a sua primeira vítima) é revelador o facto de ambas as jovens serem ruivas e terem um cheiro diferente das restantes personagens.
Essa fragrância suave, entre a brisa marítima, o óleo de noz, os ramos de nenúfares e as flores de damasqueiro, excitava as células olfactivas do protagonista e diferenciava tal aroma dos restantes odores banais ou repugnantes.
Neste caso, mais do que a inocência, a beleza ou o suposto aspecto temperamental, está a raridade e o requinte primoroso da rapariga ruiva, que inexoravelmente atrai o assassino, no seu comportamento amoral, ao seu destino quase divino, de espalhar o amor. Fabricando a feromona mais potente a partir da sua essência ruiva, cuja simples gota é suficiente para desencadear uma orgia entre milhares de pessoas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Triscaidecafobia

Triscaidecafobia designa uma superstição irracional com o número treze. Especialmente a referência ao dia do mês, considerado aziago se calhar a uma sexta-feira.
A origem desta crença é incerta, embora se acredite que seja devido a uma transgressão do número doze, que representa a completitude das coisas, como as noções temporais de relógio (12 horas) e de calendário (12 meses). Existe ainda uma ligação com a tradição cristã, devido ao facto de Cristo ter sido crucificado a uma sexta-feira, e de na última ceia estar rodeado por doze apóstolos.

Apesar disso, a tradição pode estar relacionada com um mito nórdico, onde as sacerdotisas de Friga, a deusa da fertilidade e do princípio feminino e maternal, são escorraçadas para o topo de uma montanha e consideradas como bruxas, após a conquista pelo Cristianismo, do norte da Europa.
No dia consagrado à deusa Friga, que era sexta-feira (friday) as sacerdotisas reuniam-se em números de treze, para conjurar sobre o destino do povo cristão. Estes últimos eram uma sociedade patriarcal, adoradora do Sol Invictus chamado de Cristo, e que combatia as sociedades matriarcais do paganismo, que se baseavam nos treze ciclos anuais da Lua.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Festas e romarias *

A praga dos incêndios florestais está de volta. O problema já foi amplamente estudado e as suas soluções são públicas e conhecidas, embora os responsáveis governativos continuem a assobiar para o lado enquanto esta calamidade acontece de forma periódica.
Existe uma falta de política florestal. Nenhum governo, desde que eu me lembre, conseguiu responder à pergunta: O que é que nós queremos para a nossa floresta?
Sem a definição de uma política concreta, restam as empresas de celulose, que podem plantar as suas monoculturas livremente e o absentismo dos muitos proprietários rurais, entre os quais está o próprio Estado.
A composição da floresta portuguesa é o factor que mais influência os incêndios que nela ocorrem. Segundo dados de 2001, cerca de metade é constituída por Pinheiro-bravo (Pinus pinaster) com 29,1%, e por eucaliptos, nomedamente o E. globulus, com 20,1%. Estas árvores são utilizadas pela indústria do papel e da celulose devido ao facto de apresentarem um crescimento rápido em relação às outras espécies.

As árvores que faziam parte da floresta autóctone, como os carvalhos (Quercus spp.) ou o Castanheiro (Castanea sativa) perdem cada vez mais a sua importância, em virtude da ganância das empresas de celulose, cujos administradores vão "saltando" entre os concelhos de administração dessas mesmas empresas e os cargos de secretário de Estado e de director geral das Florestas, no Ministério da Agricultura.
Como da parte dos responsáveis pela Agricultura não existe o mínimo interesse em resolver este problema, resta aos ministros da Administração Interna (actualmente Rui Pereira, e anteriormente António Costa) enfatizarem a miríade de meios aéreos e terrestres (adquiridos por um Estado endividado) à disposição e aparecerem com uma cara muito consternada nos funerais de bombeiros que se irão realizar por esse país fora.

* como vem referido aqui: "O titular da pasta da Administração Interna insistiu ainda para que os portugueses tenham comportamentos correctos, nomeadamente no próximo fim de semana, altura em que são previsíveis altas temperaturas e centenas de festas e romarias por todo o país."

Imagem daqui

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O verão de Liliana

Liliana Queiroz

Sempre foi uma estrela em ascensão, conseguindo retirar da exposição do seu corpo a melhor vantagem para o sucesso mediático. Desde que vi umas pernas que nunca mais acabavam, quando ela ganhou a eliminatória nacional de Miss Playboy TV, que achei que ela iria ter sucesso.
Esse sucesso foi confirmado, já com um novo peito, no Playboy TV internacional (ou latino-americano, já que existe sempre esse estereótipo nos Estados Unidos) que acabou por vencer.
Desde essa altura que Liliana tem participado em algumas séries televisivas nacionais, certamente de bastante audiência, mas de qualidade duvidosa. O que me faz pensar que talvez seja necessário algo para dar o salto.

Passo a explicar. Desde que a espanhola Samantha Torres entrou para as páginas da Playboy em meados dos anos noventa, que desejei que Portugal tivesse a massa crítica suficiente para atingir esse nível.
Hoje em dia, apesar de Liliana Queiroz já ter ultrapassado esse patamar, ainda continuo insatisfeito. Talvez tenha algo a ver com a pequena dimensão portuguesa.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A Flor da Elegância

Todos sabem que o mês de Agosto é complicado. Os corpos pedem desejo uns pelos outros e os olhares derretem qualquer hipótese daquela compostura que o cérebro analítico demorou anos a construir em milénios de evolução.
Que o facto de sentir um certo tipo de emergência visceral seja sintomático da época, tal como os cafés acabarem por ser os espaços sociais mais apetecíveis nas cidadelas periféricas.
Estava assim de pé, encostado de costas para o balcão. Naquela pose tão característica dos humanos. Que não se importam de permanecer nesta posição enquanto analisam as jogadas de entrosamento futebolístico de um qualquer troféu de pré-temporada. Ao mesmo tempo que, descontraidamente, bebem dois decilitros de cerveja de cada vez.

Ela passa de uma forma altiva, dir-se-ia mesmo, quase arrogante e senta-se cruzando as pernas. Sem passar para fora nada do que a estóica compostura não queira. Mas ao mesmo tempo, esta empertigada rapariga lança um olhar e nesse olhar está a chave de todo um desejo feminino interior. De ser rasgada, de pagar por toda aquela altivez, que a coloca num estado de aparente inacessibilidade ao comum dos homens, transformados pelo próprio desejo em animais, que a querem possuir, de forma dir-se-ia mesmo, quase violenta, para depois ela, assim ofegante, olhar para o próprio cruzar de pernas. Mas desta vez, cheia.
A sua pose é esbelta, sendo que ela é praticamente da minha altura. Tem uma agradável tez morena, agora mais bronzeada do que o habitual e uns belos e ondulados cabelos negros, amarrados estoicamente e coroados de lado por um fascinator em forma de flor... e essa flor é uma dália negra.

O nome dela significa esperança. No cruzar de pernas quando se senta na cadeira. Ela está sentada mesmo na minha frente, quase colada ao televisor, onde inexoravelmente continua a decorrer o mesmo jogo que eu analisava anteriormente de forma tão logarítmica.
De vez em quando vira-se para trás, como quem ouve alguém conhecido no fundo do café e olha pelo canto do olho. O seu ego feminino está em ebulição e então levanta-se e desloca-se para onde estou, para pedir os mesmos dois decilitros que eu bebo vagarosamente, e aproveitar para comunicar com o corpo.
Nesta fase, a sua capacidade de atrair o vulgar macho jovem reveste-se de primordial importância. Tudo na sua postura concorre para esse desígnio. Desde a dália negra no seu cabelo ao vestido cai-cai, que revela somente o começo de um peito firme e o final das pernas esguias.

Ela levanta-se agora em direcção à casa-de-banho, mas fica no cubículo de acesso. Em frente a um lavatório e a um espelho. Passando as mãos pelo cabelo, como se estivesse a compor-se. Ela está à minha esquerda, a um par de metros de mim. Perto o suficiente para vê-la a olhar pelo espelho, ao mesmo tempo que na sua cabeça, se forma o mantra "olha para mim... olha para mim..." à espera da confirmação última da sua capacidade feminina de provocar desejo e a sua maior aspiração momentânea enquanto fêmea e mulher.
Ao fim do que pareceu quase uma eternidade, resolvi mesmo olhar para ela. Porque é isso mesmo que se espera do ethos masculino. O que de imediato, lhe fez esboçar um sorriso.
Depois de ter esta pequena vitória, a rapariga da dália negra, cujo nome significa esperança, abandona o espelho e volta-se a sentar no seu lugar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Erva

Mary-Louise Parker, como Nancy Botwin

A saga dos Botwin começou há cinco anos atrás. Nancy, interpretada por Mary-Louise Parker, é uma mãe (mais propriamente, uma MILF) suburbana que após o falecimento do marido, se dedica ao tráfico de marijuana para tentar manter o seu padrão de vida.
Nas primeiras temporadas da série, Nancy dedica-se ao cultivo e tráfico local, escala que posteriormente se vai expandindo nos episódios mais recentes.
Mary-Louise Parker comemora hoje uma proveitosa idade (nasceu em 1964, façam as contas...) e a nova temporada (a sexta) de "Erva", estreia nos Estados Unidos no dia 16 deste mês, embora tanto uma como a outra continuem a ser do que melhor se vê em televisão.

Imagem daqui

domingo, 1 de agosto de 2010

A ficção do Estado de Direito

Antes de passar ao assunto propriamente dito, vou escrever umas linhas sobre a linguagem e a forma como esta serve para mascarar certos conceitos e para controlar as pessoas. Uma parte importante do problema aqui abordado.
Qualquer estudante de ciências humanas repara desde cedo na diferença entre a abordagem anglo-saxónica e a dos povos latinos em relação à teorização dos vários aspectos do conhecimento.
Tomando como exemplo o conceito de colcheia (uma nota musical). Esta é designada pelos anglófonos de eight note (representando um oitavo da duração de uma nota inteira, a nossa semibreve) tornando o seu significado muito mais imediato do que o de "colcheia", que para um leigo, acaba por não significar nada.
Com o conceito de Estado de Direito passa-se o mesmo princípio. A designação anglo-saxónica de rule of law (o nosso Estado de Direito) indica que ninguém está imune à lei ou acima dela.
A ausência da rule of law é a rule of man (o estado autoritário) em que o poder da sociedade é aplicado de forma arbitrária por uma pessoa ou um grupo de pessoas. Este tipo de poder está normalmente associado a violações dos direitos humanos e outro tipo de atrocidades.

Com o julgamento na praça pública das duas figuras trágicas da actualidade nacional, a de José Sócrates e a de Carlos Queiroz, atingiu-se um estado que suplanta o direito, admitindo que seja originário do facto das hierarquias em Portugal funcionarem num sistema de submissão e terror psicológico.
Cada uma destas personalidades tem de lidar com o seu respectivo presidente, cínico e titubeante, adepto da intriga e dos esquemas financeiros. As respectivas oposições, partidos políticos sem direito ao poder executivo, no caso de Sócrates e o grupo de políticos e dirigentes federativos, no caso de Queiroz, tentaram forçar uma saída diplomática destes dois intervenientes, embora sem sucesso.
Ambos carregam o fardo do bode expiatório: Um carrega os problemas que o país atravessa (embora tenha a sua quota de responsabilidade) e o outro carrega a inabilidade e o fracasso da equipa nacional (embora também tenha a sua quota de responsabilidade).
Por fim e mais importante, ou grave, dependendo do ponto de vista: Em cada uma das respectivas investigações ou acusações de que foram e são alvo, o sistema judicial ou de disciplina aparenta ter sido sabotado e manipulado para servir determinados interesses hierárquicos, corporativos e políticos.