Ó Jel... ou melhor... Ó Nuno, não vales a ponta de um corno! Isto resumindo, para evitar escrever os impropérios a que terias direito.
Existe um princípio inerente à manifestação que parte do senso comum: Os manifestantes fazem a sua marcha na cadência que eles pensam ser a apropriada. Nunca se deve forçar as pessoas, pois estas estão lá de livre e espontânea vontade a exercerem um direito básico de cidadania.
Estava eu perto da animação da Farra Fanfarra quando a carrinha de caixa aberta dos Homens da Luta tenta açambarcar, assim ao estilo dos banqueiros gananciosos, o espaço e o protagonismo que a fanfarra estava a ter na manifestação.
A carrinha de caixa aberta da Luta lá progredia sem qualquer tipo de respeito pelas pessoas que se encontravam à sua frente, e com batedores contratados, aos quais denominarei de Assalariados dos Homens da Luta, nos factos que vou passar a descrever.
Os Assalariados dos Homens da Luta (AHL) tentavam, sem sucesso, abrir caminho pelo meio da multidão, uma vez que esta estava demasiado compacta e a avançar demasiado lentamente para o protagonismo que os Homens da Luta procuravam. A Avenida da Liberdade era uma área densamente povoada de pessoas, mas infelizmente com pouca densidade de câmaras televisivas.
Um dos AHL's tenta desviar as pessoas para o lado, mas vê os seus esforços frustrados devido à já referida compactação de humanos à nossa frente.
Confrontando o AHL, e apontando para o pulso onde estaria o relógio que não uso, pergunto se eles têm alguma hora marcada para estar no Rossio, ao que o AHL me responde de uma forma atrapalhada que sim, e em seguida tenta intrujar, assim ao estilo do PM, qualquer coisa acerca do facto de que «eles» iriam cortar a energia (!?) se não chegassem depressa ao Rossio.
Nessa altura, perdi a calma - "Eles!" - "Mas «eles» quem?" - "Quem é que são «eles»?". O AHL, ao perceber que não está a falar com gente estúpida, tenta vagamente fugir à questão - "Eh pá... eles!". Por fim pergunto-lhe quem é que mandava ali, se éramos nós ou se eram «eles», fazendo um titubeante AHL compreender que os seus esforços seriam infrutíferos.
O escoamento à entrada no Rossio permite finalmente que a carrinha dos Homens da Luta consiga passar pela nossa direita. Nesse preciso momento, começo a ser empurrado por uma cambada de animais acéfalos, também designada por "público", que procura acompanhar a carrinha, mas consigo repor o meu espaço de segurança. A mesma sorte não teve uma rapariga que foi atropelada e espezinhada pelos ditos animais. Isto depois de eu lhes ter berrado para não terem pressa, e antes do megafone do Jel apelar ao "povo" para este ter cuidado com "a camarada que caiu".
Foi então que pensei que não me deveria ter preocupado com a brutalidade da polícia, mas antes com a brutalidade dos Homens da Luta. Foi a ganância em estar perto de uma câmara de televisão, que quase atropelava quem estava à frente da sua carrinha.
O cartoonista José Vilhena, na altura do PREC, afirmava que havia políticos que davam "o cú e cinco tostões" para aparecerem na televisão. Jel, tu dás o cú e cinco cêntimos! Finalmente lá tiveste a oportunidade para tocar a cançoneta em directo. Precário eras tu, quando enfiavas a mão no rabo dos bonecos dos políticos. Hoje são os políticos que enfiam a mão no rabo do boneco que tu és. Mas tu não te importas, desde que tenhas protagonismo televisivo.
Enfim. Estiveste mal, ó Jel. Foste promovido a prostituta mediática, daquelas mesmo reles, pela malta aqui do bairro. Mas não fiques preocupado, podes vir beber um copo com a gente na mesma!