vagueiam num deserto ermo e árido
em direcção ao palácio das noites
sob uma lua crescente, solitária,
de um céu negro e sem esperança.
Aos poucos, redefinindo o meu ser.
Sem medo, desânimo ou apatia.







Galhofa na SIC Notícias. Mário Crespo, Vicente Jorge Silva e Zé Luís Arnaut a discutirem os estatutos do PS ao pormenor, com o artigo cento e tal a ser esmiuçado, para explicar porque é que o Seguro é um golpista, para no final não haver um segundo que fosse para falar dos 15% de desemprego. Diz o inefável Crespo: "Os 15% de desemprego seria um assunto interessante, mas já não temos tempo."
Mai Nadasaka, AV Idol
Deve ter ocorrido a Pedro Passos Coelho que poderia usar crianças para apelar à emoção dos contribuintes portugueses e fingir que é um ser humano. Se o realizador do vídeo do Kony também o fez, para promover a invasão de forças armadas americanas na África Central, e se o falecido Sócrates também as utilizou na distribuição dos seus Magalhães, porque razão ficaria o actual Primeiro-ministro impedido de utilizar a manada infantil para a sua propaganda demagógica? Tudo bem empacotado e servido pelos jornalistas da RTP, numa aprazível tarde primaveril. Tal ideia maquiavélica deverá ter sido de Miguel Relvas, o ministro da Propaganda, que se encontrava a fazer o seu serviço no parlamento, a entreter os deputados, enquanto Passos Coelho se entretia com as criancinhas. Deixai ir a ele as crianças, que Pedro já não se sentia tão messiânico desde a campanha eleitoral. Os petizes foram escolhidos a dedo, e não lhe faziam perguntas incómodas, apesar de um deles, quando questionado sobre onde iria passar férias, lhe ter dito que iria ficar em casa. Ao que, espantado, Pedro-o-Passos-Coelho retorquiu questionando-o se não seria melhor sair para a rua... passear. Passos Coelho gosta de pessoas na rua.
No dia seguinte, em pleno Chiado, a fotojornalista Patrícia Melo seria brutalmente agredida por um polícia, durante a manifestação marcada para o dia da greve geral contra as medidas de austeridade. Encontrava-se a fazer o seu trabalho quando um cão de guarda resolve mostrar que não gosta de pessoas na rua, a não ser que estejam numa posição de submissão. O olhar assassino de Macedo, o ministro da polícia, não deixa dúvidas sobre como as pessoas devem ser tratadas e a propaganda de Relvas dirá às televisões o que estas devem noticiar. Sem medos. Reprima-se com vontade. Sadicamente. A mensagem está dada. Aquilo que ficará na mente do cidadão obediente é a tarde de Passos Coelho com as criancinhas. Os feridos desta tarde são, segundo a RTP, "todos manifestantes". Nenhum polícia, nem nenhum turista. Os manifestantes são apenas terroristas, quiçá de Toulouse, que tudo fazem para que o grande esforço nacional "custe o que custar" não dê resultado. Passos Coelho encolherá os ombros e dirá que são tácticas sujas da oposição. Jogo desonesto. Que é necessário que o santo mercado funcione, para que possa proporcionar prosperidade para aquelas criancinhas.
Auto retrato de Jean Giraud (1938 - 2012)
Jaime Graça (1942 - 2012)
O ano passado fiz a minha homenagem ao passar de José Afonso. Este ano, devido talvez a ser um número mais redondo, as homenagens surgiram em catadupa por toda a parte. Por norma, não gosto do tipo de celebração que se empola devido ao facto de se passarem 25 anos, mas deu para perceber a raiva que os sectores de direita têm pela figura do Zeca. Que ainda hoje têm.
O AJ Seguro não só é fraco, como é amigo pessoal de Miguel Relvas, e essa é a sua lealdade mais importante, sendo o PS simplesmente um trampolim para quando o ódio a Passos Coelho atingir o ponto de saturação. Extrapolando pelo que acontece noutros países, o próximo governo será um executivo FMI/Goldman Sachs, liderado talvez por António Borges. Deste modo, Seguro irá passar ao lado da cadeira de S. Bento, uma vez que, por essa altura, a farsa da democracia já não irá ser necessária.
Malese Jow
Não me chateiam os anticiclones com apófise polar. Prefiro que a referida protuberância esteja situada na Sibéria do que sobre o Atlântico Norte, uma vez que o tempo frio e seco se torna menos incomodativo do que o tempo frio e húmido. Foram semanas frias e cheias de cinismo, em que se apelou aos portugueses para serem menos piegas, ao mesmo tempo que se fodia o Carnaval e que o Deutsche Bank apostava com a vida dos velhos. Mas calma, que tudo isso foi antes do ministro Gaspar se curvar em agradecimento ao seu mestre alemão, e da Grécia ficar em chamas. Embora o incêndio helénico tenha sido num banco, que os gregos sabem perfeitamente de quem é a culpa. Mesmo que a televisão por vezes se vá esquecendo de o dizer.
O animal mais conhecido por Leontopitecus rosalia chama-se Titi-leão em português. "Mico-leão" é brasileiro. Mas talvez fosse esperar muito que num jornal televisivo português, se falasse português. Pelos vistos não é só a ortografia, também querem que mudemos os vocábulos, o léxico e o resto. O autor da pérola foi João Pacheco Miranda, "jornalista" da RTP, que para além de ser um conhecido sabujo do poder, também é um promotor da ignorância entre as massas, e desse desígnio cultural de abrasileirar a sociedade portuguesa.
Cavaco Silva é um intriguista. Para além de ser, talvez por isso mesmo, o político mais medíocre de Portugal. No caso das escutas a Belém, a gravidade da denúncia levou o seu assessor Fernando Lima a dar a cara, enquanto que na actual divergência de opinião com o governo, consequente crítica à política de finanças, e tentativa de se colocar ao lado do povo, já não foi preciso que nenhum chefe de gabinete o fizesse. Os supostos estados de alma do presidente, que esses "cavaquistas" transmitiram aos jornalistas, não necessitam de mais do que isso.
Daisy Lowe
Nas declarações de Cavaco Silva deve primeiro perceber-se para quem é que este está a falar. Cavaco dirige-se ao velhotes da Beira Alta, ao cavaquistão, ao tipo de gente miserável de corpo e alma e miserabilista por natureza que o elegeu. Pessoas cuja ganância por tostões é suficiente para causar desavenças entre irmãos. Pessoas que levam o conceito de avareza até limites nunca imaginados pela sociedade mediática e informatizada do litoral. Pessoas que não têm facebook, e que se estão a cagar para o que os "jovens" lá escrevem. Pessoas que não sabem ler nem escrever. Pessoas que vão à missa e que são endoutrinadas pelos párocos, mas que optam por ignorar que a avareza é um pecado. Pessoas que odeiam essa corja que são os políticos. Pessoas para quem Cavaco diz sub-repticiamente que não é um político, que é um deles. Que conta os tostões. Manobra que usa frequentemente, porque conhece este povo.
O acordo de concertação social serviu para o governo poder implementar a sua agenda dogmática, sem a necessidade de extirpar o socialismo da constituição, e conseguindo fazer da precariedade a base do sistema laboral português. Podem argumentar que esta ainda não representa a maioria do trabalho em Portugal, mas estas coisas demoram tempo. O que faz uma certa impressão é o tom de regozijo com que responsáveis governamentais e comentadores a soldo do governo defendem o acordo.
dono |ô|
Os três corpetes representam, obviamente, a troika. No final dos anos setenta e princípio dos anos oitenta, ainda o PREC estava fresco, a metáfora utilizada para sufocar os portugueses era o "apertar do cinto". O cinto servia para tudo. Para bater nos mais indisciplinados e para apertar a fome.
O problema aqui com o Soares dos Santos é devido às lições de moral que a referida pessoa andou a pregar em programas como o Negócios da Semana ou o Plano Inclinado, em que fazia o apelo à emoção de forma demagógica, de que nunca iria abandonar o país dele porque tinha nascido cá, e o pai e o avô também, enquanto estendia uma passadeira para que Passos Coelho se tornasse Primeiro-ministro.
Carolina Torres
O primeiro texto do ano deveria ser uma mensagem de incentivo. Um poema. Qualquer coisa que me acordasse da hibernação onde o meu cérebro se enroscou, num mar de pedras. Nas paredes de rocha do buraco mais profundo, congelado pela dormência da sua própria auto-comiseração. Sem nada que lhe faça ferver o sangue do corpo. Tronco mecânico. Dedos digitantes atachados a braços basculantes. Todavia, tudo se passa sem que me estique o semblante. A expressão facial de quando abro as mandíbulas para atacar a presa, que no fundo é somente o meu semelhante.